“A Constituição é antifascista”

Taí o podcast de ontem, escrito por Pedro Daltro e com a luxuosa e habitual produção de Cristiano Botafogo:
Os episódios você ouve lá na Central3.
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E com assinatura ou não eu e o Cristiano queremos agradecer imensamente a todos os ouvintes, que são muito mais do que poderíamos imaginar. Cês são fodas : )
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1. Que nome se dá a quem persegue antifascistas?!

Texto do Conrado Hubner Mendes com o didático título “A Constituição é antifascista, Mendonça não“:
“O ministro da Justiça está de olho em você, simpatizante do antifascismo. Atenção policial, professor ou engenheiro civil formado que não pensa ideias corretas: Mendonça sabe quem você é, onde mora e o que anda fazendo no escurinho da quarentena. Mendonça não é um antiantifa raiz. Ex-entusiasta de Lula, faz qualquer coisa pelo chefe. Se precisar, até oração em cerimônia estatal. Mediocrizou a função de advogado-geral da União e agora a de ministro da Justiça ao se incumbir do papel de sentinela do presidente. Há tempos usa seu cargo para solicitar providências contra críticas pessoais a Bolsonaro.” [Folha]
Tudo pelo STF. E tudo leva a crer que esse nome seria bem recebido por ministros da Suprema Corte pois acreditam que ele se descolaria do Bolsonaro assim que tomasse posse. Se isso não é sinal que tem algo profundamente errado com o Brasil eu nao sei mais de nada.
“Na semana passada, descobriu-se que órgão do Sistema Brasileiro de Inteligência (Sisbin) sob sua autoridade monitora policiais e intelectuais em sigilo. Não por suspeita de ilícito (o que justificaria investigação policial, não do Sisbin), mas por suspeita de pensamento com o carimbo “antifascista”.”
Que antifascismo pra boa parte do país seja sinônimo de terrorismo é uma derrota brutal.
“Regimes autoritários adotam um arsenal de ferramentas contra inimigos: ao lado da execução sumária, do desaparecimento, da tortura e da estigmatização pública, a polícia do pensamento é sua forma mais insidiosa de anular o oponente. A polícia do pensamento, “uma das mais importantes instituições do mundo moderno” (Tucci Carneiro), almeja domesticar e reprimir heterogeneidade. Opera pela técnica da suspeição presumida e da repressão preventiva. Sua finalidade é gerar medo, autocontrole e autocensura.”
Alguém tem alguma dúvida que já imperam o medo, o autocontrole e a autocensura? Autores de livros didáticos pensam 200 vezes antes de colocar algo que posa ser considerado polêmico, já que o governo é o maior comprador de livros didáticos.
“Espera-se que os fichados nos arquivos de Mendonça voluntariamente parem de incomodar, pois a qualquer momento um dossiê pode vir à tona.”
E aqui eu preciso fazer um parênteses:
“Uma nota técnica publicada pela Controladoria-Geral da União defende que a divulgação por servidores federais “de opinião acerca de conflitos ou assuntos internos, ou de manifestações críticas ao órgão ao qual pertença” em suas redes sociais são condutas passíveis de de apuração disciplinar. O documento foi assinado no dia 3 de junho e é de responsabilidade da Coordenação-Geral de Uniformização de Entendimentos (CGUNE). Esta não é a primeira vez que o tema vem à tona no governo federal. Em maio, uma nota técnica elaborada pela Comissão de Ética do Ibama também pretendia coibir as manifestações políticas contrárias ao governo nas redes sociais dos agentes ambientais.” [Congresso em Foco]
Voltemos à coleção de crimes do “ministro terrivelmente evangélico“:
“O fato não provoca apenas tensão política, que se resolve por conversa e aperto de mão. Pede esclarecimento público e eventual sanção jurídica pelos ilícitos. O ministro parece cometer pelo menos quatro:
1) crime de responsabilidade (“violar patentemente qualquer direito ou garantia individual” – art. 7º, IX, da Lei do Impeachment);
2) crime de abuso de autoridade (“proceder à persecução administrativa sem justa causa fundamentada ou contra quem sabe inocente”, art. 30, lei 13.869/19);
3) improbidade administrativa (“praticar ato visando fim proibido em lei” e “atentar contra princípios da administração”, como transparência e impessoalidade – art. 11, I, lei 8.429/92);
4) ilícito contra o direito à informação (“utilizar indevidamente informação que se encontre sob sua guarda” e “impor sigilo à informação para obter proveito pessoal ou de terceiro, ou para fins de ocultação de ato ilegal”, art. 32, II e V, lei 12.527/11).
O mesmo ministro que defende o direito de realizar, em meio a uma pandemia, atos pelo fechamento de instituições democráticas e de celebração do AI-5; o mesmo ministro que justifica a presença do próprio presidente nos atos, como se tudo coubesse numa caixinha indistinta da liberdade de expressão, monitora pessoas que professam ideias contra o fascismo. Quem manifesta simpatia ao símbolo “antifa” não tem identidade homogênea, não integra movimento organizado, não segue qualquer cartilha predefinida de protesto. “Antifa” é apenas um rótulo aglutinador para uma pluralidade de pessoas que compartilham de uma preocupação. No Brasil de hoje, a preocupação com Bolsonaro.”
O Bolsonaro que gabarita as características do fascismo do Umberto Eco.
“A origem histórica do rótulo remonta aos anos de 1920 na Itália. Ao longo do século 20, teve múltiplas conformações pelo mundo. Mussolini chamava antifas de “degenerados”. Trump chama antifas de terroristas e criminosos. Bolsonaro emula Trump. Que ideia antifascista molesta Mendonça? A que reivindica respeito a minorias?”
Bolsonaro, com sua indiscrição desconcertante, prometeu que as minorias se curvariam à maioria, e a democracia enquanto regime de proteção às minorias que se foda.
“Ou a que pede o direito de existir em igual liberdade? Preocupa Mendonça que antifascistas e antirracistas se aproximem? Que seus corpos ocupem as ruas? Que gritem? O constitucionalismo do pós-guerra comprometeu-se com a imunização antifascista e concebeu vacina institucional contra o mal político radical. Bolsonaro, sabemos, investe em cloroquina, não na Constituição de 1988. Dedica-se a propagar o vírus que varre democracias. Mendonça é seu despachante. A vocação antiantifa mata a liberdade. Afinal, menos com menos dá mais.”
Se isso não tiver dinamitado qualquer chance do Mendonça no STF pra que servirá o STF?!
“O ministro André Mendonça (Justiça) recebeu reclamações de ministros de cortes superiores sobre a atuação da Polícia Federal nas operações nos últimos dias. Foram duas queixas: 1) as ações estariam sendo muito midiáticas e 2) as investigações seriam oportunistas, na onda da polarização política.” [Folha]
Lembrando que Bolsonaro cobrou operação contra rivais políticos e Bia Kicis antecipava as operações.
“Recentemente, a PF fez medidas contra governadores de oposição e políticos do PSDB. Os magistrados sugeriram um código de conduta sobre horário, trajes e carros utilizados nas operações. Segundo relatos, Mendonça não demonstrou concordar com as críticas, mas deve abordar o assunto com o diretor-geral da PF.”
Já na PF…
“A revelação de um dossiê elaborado pelo Ministério da Justiça com nomes de servidores identificados como parte do movimento antifacismo trouxe preocupação entre policiais federais. A existência do documento com 579 nomes despertou, entre integrantes do órgão críticos a Bolsonaro, o receio de sofrer retaliações, como serem alvos de processos administrativos internos. O temor vem do fato de que o dossiê foi elaborado por uma secretaria do próprio Ministério da Justiça, que é a pasta à qual a PF está subordinada. Policiais federais relataram à coluna que enxergariam o documentocom “naturalidade”, se tivesse sido elaborado pela Abin (Agencia Brasileira de Inteligência), e não pelo órgão à que estão diretamente subordinados. A existência do relatório foi informada pelo colunista do “UOL” Rubens Valente. – Estamos acompanhando o assunto e vamos avaliar se é necessário fazer a defesa de algum colega. Se constatarmos que houve perseguição, acionaremos a Justiça. – disse o diretor Jurídico da Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais).” [O Globo]
E o sistema de pesos e contra-pesos, Costinha?!
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2. MPF em chamas

A Lava-jato é o cúmulo do absurdo mas Aras, Toffoli e Bolsonaro não estão guiados aqui pelo virtuosismo democrático:
“O procurador-geral da República, Augusto Aras, afirmou nesta terça-feira (28) que é hora de “corrigir rumos” para que o “lavajatismo” passe e seja substituído no Ministério Público por outro modelo de enfrentamento à criminalidade. Aras deu a declaração ao participar de um debate virtual, promovido por um grupo de advogados. Segundo ele, a “correção de rumos não significa redução do empenho no combate à corrupção”. Ainda no debate, Augusto Aras afirmou que a gestão dele visa acabar com o “punitivismo” do Ministério Público e que não pode existir “caixa-preta” no MP. “Agora é a hora de corrigir os rumos para que o lavajatismo não perdure. Mas a correção de rumos não significa redução do empenho no combate à corrupção. Contrariamente a isso, o que nós temos aqui na casa é o pensamento de buscar fortalecer a investigação científica e, acima de tudo, visando respeitar direitos e garantias fundamentais”, afirmou Augusto Aras.” [G1]
E o Toffoli, como?!
“O procurador-geral entrou em atrito com as forças-tarefa após a chefe da Lava Jato na PGR, Lindôra Araújo, se dirigir a Curitiba com o objetivo de acessar dados de investigações. A divergência envolveu o repasse de dados sigilosos da força-tarefa local à PGR, que recorreu ao Supremo Tribunal Federal para ter acesso às informações e obteve decisão a favor do compartilhamento de dados. A decisão foi dada pelo presidente do STF, ministro Dias Toffoli”
Sim, o sujeito cujo nome consta em uma planilha da OAS pediu que os dados fossem para as mãos do Aras, o sujeito escolhido para ser o Engavetador-geral da República.
“Aras afirmou que o enfrentamento à criminalidade, especialmente à corrupção, deve continuar a ser feito “do mesmo modo como vinha se fazendo, mas num universo nos limites da Constituição e das leis”. Para ele, o “lavajatismo há de passar”. Augusto Aras disse ainda que atos das forças-tarefas serão apurados. Ele afirmou que a Corregedoria vai investigar o fato de 50 mil processos estarem “invisíveis”.
Imagine se ele aplicar o mesmo critério com o governo que sabota toda forma de transparência, ia ser louco…
“O procurador-geral, no entanto, não deu detalhes sobre esses procedimentos.”Não podemos aceitar processos escondidos da Corregedoria. Temos 50 mil documentos invisíveis. E a corregedoria vai apurar os responsáveis por isso. Na multidão, perderam-se processos, metodologia que atenta contra publicidade”, disse. “Estamos falando da transparência. Todo o MPF, no seu sistema único, tem 40 terabytes. Curitiba tem 350 terabytes e 38 mil pessoas com seus dados depositados. Ninguém sabe como foram escolhidos, quais os critérios, e não se pode imaginar que uma unidade institucional se faça com segredos”, declarou. Segundo ele, a meta de sua gestão é “abrir essa instituição para que jamais se possa dizer que essa instituição tenha caixas-pretas. Lista tríplice fraudável nunca mais”.”
O que a lista tríplica tem a ver com isso?! E é por demais fascinante que o PGR escolhido a dedo pelo presidente que sabota as instituições aponte FRAUDE na lista tríplice, que loucura.
“O procurador-geral disse nesta terça que não é dono dos destinos de 38 mil pessoas. E defende “que todo o MPF possa, de forma fundamentada, justificar para o que quer saber da vida alheia, para que isso não sirva de chantagem, extorsão”. Em dez meses à frente do MPF, declarou Aras na live, sua gestão procurou reconduzir a instituição à sua unidade contra o que chamou de aparelhamento ocorrido em gestões anteriores. “A nossa maior preocupação foi reconduzir [o MPF] à sua unidade”, afirmou. “Não permitir que haja um aparelhamento desta instituição, que importa em segregação de muitos membros, que não concordam com este modus de fazer política institucional.”
Aras bate dum lado, Toffoli do outro, digamos que Moro 2022 é o pesadelo do enrolado Toffoli:
“O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, voltou a defender que magistrados e membros do Ministério Público sejam submetidos a uma ‘quarentena’ de pelo menos oito anos caso queiram abandonar as carreiras no Judiciário para disputar eleições. Toffoli defendeu que o período de inelegibilidade servirá para evitar a ‘utilização da magistratura e do poder imparcial do juiz para fazer demagogia, aparecer para a opinião pública e se fazer candidato’. “Quem quer ser candidato, seja como magistrado, seja como membro do Ministério Público, tem que deixar a magistratura, tem que deixar o Ministério Público, e tem que haver um período de inelegibilidade sim. (…) Eu já disse isso várias vezes a senadores da República não só nessa legislatura como em legislaturas anteriores”, disse. “A imprensa começa a incensar determinado magistrado e ele já se vê candidato a presidente da República sem nem conhecer o Brasil, sem nem conhecer o seu Estado, sem ter ideia do que é a vida pública. Quer ir para a política, pode ir, pode ir. Sai da magistratura, e tenha um período de inelegibilidade. E eu volto a pedir ao Congresso Nacional que estabeleça prazos de inelegibilidade para membros da magistratura e do Ministério Público que deixarem suas carreiras. Para que não possam magistrados e membros do Ministério Público fazer dos seus cargos e das suas altas e nobres funções meios de proselitismo e demagogia”, disparou.” [Estadão]
Até o Maia entrou no meio:
“O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que o procurador-Geral da República, Augusto Aras, tem legitimidade para fazer críticas à Lava Jato e afirmou ver excessos em algumas investigações, sem citar exemplos. “Acho que o procurador tem muito mais informações do que nós temos para fazer a crítica e o alerta”, disse Maia em entrevista ao programa de rádio Manhã Bandeirantes, nesta quarta-feira, 29. “Está se fazendo buscas e apreensões de coisas de 2010 em 2020. Coisas que geram apenas constrangimento, na linha até do que o doutor Aras falou de criar uma criminalização generalizada da política, tirar as condições da política e do próprio Supremo. Para Maia, a impressão que se tem é que, “muitas vezes”, o Ministério Público “não gosta de ser fiscalizado”. “A crítica que eu faço é [a seguinte:] o Ministério Público é um órgão fundamental para nosso País. Mas a impressão que me dá é que não gostam de ser fiscalizados muitas vezes. Eu não vejo como funciona o sistema de controle no momento em que o procurador-geral, que é o responsável por todos os MPs, não deve, na opinião deles, ter acesso a informações”, afirmou.” [Estadão]
Moro respondeu de forma sucinta:
“A Lava-Jato foi construída em todas as instâncias, inclusive no STF” [G1]
Bem, aí temos que concordar com Moro, todos os absurdos de Deltan, Moro e cia. foram feitos com a concordância das instâncias superiores, incluindo o STF de Gilmar Mendes, que na época do PT era lava-jatista pra caralho.
“Integrantes do Ministério Público Federal (MPF) ouvidos pelo blog na manhã desta quarta-feira (29) reconheceram que a instituição enfrenta sua mais grave crise desde que a estrutura atual do órgão foi estabelecida pela Constituição de 1988. “Há uma crise de desconfiança generalizada. A cúpula da PGR tenta controlar o órgão. Mas falta liderança na instituição. Ninguém aqui defende eventuais excessos. Mas isso não pode justificar um movimento para paralisar investigações e enfraquecer o combate à corrupção”, ressaltou um experiente subprocurador ouvido pelo blog, que pediu anonimato para evitar expor ainda mais a crise na instituição.” [G1]
E Aras e Toffoli tão entrosadíssimos, repare:
“Em meio à discussão sobre o caso do ex-governador Sérgio Cabral, o procurador-geral da República, Augusto Aras, sugeriu ao Supremo Tribunal Federal (STF) avaliar mudanças no procedimento de acordos de delação premiada feitos pela Polícia Federal. Aras propôs que, a partir de agora, o STF só autorize acordos de colaboração da PF caso tenham a concordância do Ministério Público. A sugestão do procurador-geral da República foi feita nas manifestações em que pediu arquivamento dos inquéritos abertos a partir da delação de Cabral. O GLOBO revelou na segunda-feira que, a pedido de Aras, o presidente do STF Dias Toffoli arquivou três inquéritos da delação. As investigações haviam sido autorizadas pelo ministro Edson Fachin, que homologou o acordo entre Cabral e a PF. Em junho de 2018, o plenário do STF decidiu, por maioria, que delegados da PF poderiam fazer acordos de colaboração. Fachin, na ocasião, foi contra, mas passou a seguir o entendimento do plenário e tem homologado vários acordos. Desde o julgamento, a PF teve ao menos oito acordos homologados no STF, como do ex-ministro petista Antonio Palocci e do publicitário Duda Mendonça. Aras, entretanto, ainda não teve delações homologadas pelo Supremo. A primeira assinada por ele, do empresário Eike Batista, foi devolvida pela ministra Rosa Weber determinando correções em cláusulas apontadas como ilegais. A principal diferença entre os acordos da PF e da PGR é que a PF não estabelece previamente tempo nem regime de cumprimento de pena, enquanto a PGR costuma já estabelecer esses benefícios. Nos acordos da PF, o juiz que avaliar a eficácia da colaboração é que definirá os benefícios.” [O Globo]
Tá errada a PF? Pq definir pena sem saber a eficácia das provas apresentadas?!
“No julgamento em 2018, o relator Marco Aurélio disse que não era possível concentrar todas as responsabilidades na PGR. “O argumento segundo o qual é privativa do Ministério Público a legitimidade para oferecer e negociar acordos de colaboração premiada, considerada a titularidade exclusiva da ação penal pública, não encontra amparo constitucional”, afirmou.”
E quem agradece é o STJ:
“A Lava-Jato devastou o Congresso, implodiu governos, mas não consegue alcançar a cúpula do Judiciário. Em acordo de delação, Sérgio Cabral relatou pagamento de propina a dois ministros do Superior Tribunal de Justiça. O ex-governador indicou o caminho do dinheiro, mas seu depoimento vai adormecer para sempre numa gaveta brasiliense. O caso foi sepultado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli. Como revelou o repórter Aguirre Talento, o ministro arquivou três inquéritos da delação de Cabral. Ele tomou as decisões sem alarde, em dobradinha com o procurador-geral da República, Augusto Aras. Ontem a colunista Bela Megale revelou novos detalhes da história. Cabral afirmou à polícia que o empresário Orlando Diniz, um dos próceres da República de Mangaratiba, repassou R$ 25 milhões ao filho do ministro Humberto Martins. Trata-se do presidente eleito do STJ, com posse marcada para o próximo dia 27. O ex-governador também delatou o ministro Napoleão Nunes Maia, que se aposenta em dezembro. Martins disse que não tem “nada a declarar”, e Maia nem se deu o trabalho de responder. Com a decisão de Toffoli, vai ficar tudo por isso mesmo. A delação de Cabral foi fechada com a Polícia Federal e homologada pelo ministro Edson Fachin. Como manda o regimento, ele encaminhou o caso ao presidente do Supremo para o sorteio de um novo relator. Para a surpresa de colegas, Toffoli preferiu ouvir Aras, que comunicou seu desinteresse em investigar a história. O ministro é um cavalheiro e atendeu ao desejo do procurador.” [O Globo]
Até o Mourão entrou no meio:
“O que existe hoje é uma certa judicialização da política. Na minha visão, o Judiciário vem sendo utilizado por partidos políticos que perderam eleições ou não conseguiram êxitos em suas votações dentro do Congresso e, a partir dali, judicializam, e o Judiciário passa a atuar até como uma linha auxiliar da política. Nem o Judiciário pode se envolver na política nem a política pode ser judicializada” [Folha]
Quando era contra o PT era o virtuosismo jurídico, agora que é o próprio cu na reta Mourão posa de vítima, não fode.
“Julgo que o trabalho que o presidente Jair Bolsonaro vem realizando dará bons frutos e ele chegará a 2022 extremamente competitivo, o ideal era que a gente conseguisse ter os dois mandatos do presidente”.
Fiquei com esse “bons frutos” na cabeça o dia todo e esbarrei com essa tirinha certeira do André Dahmer:
parabens
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3. O mais vil dos governos

O mais foda do Bolsa-família é que o benefício é pago às mães, e isso causou uma revolução silenciosa no Norte e no Nordeste, mas não seria o presidente que relaciona o sexo feminino à uma “fraquejada” que ia manter isso, né?
“O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vetou hoje o projeto de lei 2.508, que previa a possibilidade de uma pessoa receber duas cotas do auxílio emergencial, independentemente do sexo do provedor, caso fosse provedora única da família. Em nota, a assessoria do governo apontou que “não há estimativa do impacto orçamentário e financeiro dessa proposição, o que impede juridicamente a sua aprovação”. O comunicado aponta ainda que o veto presidencial não é um “ato de confronto” ao Poder Legislativo. “Caso o presidente da República considere um projeto, no todo ou em parte, inconstitucional, deverá aplicar o veto jurídico para evitar uma possível acusação de Crime de Responsabilidade. Por outro lado, caso o Presidente da República considere a proposta, ou parte dela, contrária ao interesse público, poderá aplicar o veto político. Entretanto, a decisão final sobre esses vetos cabe ao Parlamento”, diz a nota. O Senado aprovou a proposta no dia 8 de julho, com o objetivo de dar prioridade à mulher provedora em família monoparental a receber o auxílio emergencial pago pelo governo em decorrência da Covid-19. ” [Folha]
“A justificativa do projeto era que muitas mulheres que cuidam sozinhas dos filhos não receberam o auxílio porque o ex-cônjuge ou companheiro, pai das crianças, sacou os recursos e não repassou o valor. A matéria aprovada pelo Senado modificava a Lei 13.982, de 2020. De acordo com a lei, a mulher provedora de família monoparental tinha o direito a receber duas cotas mensais do auxílio, o que dá o valor de R$ 1.200. São consideradas famílias monoparentais aquelas nas quais a guarda dos filhos ou dependentes seja exclusiva de um dos pais. Pelo projeto, se houvesse informação conflitante entre mãe e pai, seria dada à mulher a preferência no recebimento de auxílio emergencial. O senado também apontou que não haveria empecilhos para homens receberem o benefício, desde que fossem realmente os provedores de famílias monoparentais.
Eaqui retomo o papo do Bolsa-família lá em cima, a matéria é de 2012:
“Uma revolução está em curso. Silencioso e lento – 52 anos depois da criação da pílula anticoncepcional – o feminismo começa a tomar forma nos rincões mais pobres e, possivelmente, mais machistas do Brasil. O interior do Piauí, o litoral de Alagoas, o Vale do Jequitinhonha, em Minas, o interior do Maranhão e a periferia de São Luís são o cenário desse movimento. Quem o descreve é a antropóloga Walquiria Domingues Leão Rêgo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Nos últimos cinco anos, Walquiria acompanhou, ano a ano, as mudanças na vida de mais de cem mulheres, todas beneficiárias do Bolsa Família. Foi às áreas mais isoladas, contando apenas com os próprios recursos, para fazer um exercício raro: ouvir da boca dessas mulheres como a vida delas havia (ou não) mudado depois da criação do programa. Adiantamos parte das conclusões de Walquiria. A pesquisa completa será contada em um livro, a ser lançado ainda este ano.
As áreas visitadas por Walquiria são aquelas onde, às vezes, as famílias não conseguem obter renda alguma ao longo de um mês inteiro. Acabam por viver de trocas. O mercado de trabalho é exíguo para os homens. O que esperar, então, de vagas para mulheres. Há pouco acesso à educação e saúde. Filhos costumam ser muitos. A estrutura é patriarcal e religiosa. A mulher está sempre sob o jugo do pai, do marido ou do padre/pastor. “Muitas dessas mulheres passaram pela experiência humilhante de ser obrigada a, literalmente, ‘caçar a comida’”, afirma Walquiria. “É gente que vive aos beliscões, sem direito a ter direitos”. Walquiria queria saber se, para essas pessoas, o Bolsa Família havia se transformado numa bengala assistencialista ou resgatara algum senso de cidadania.
“Há mais liberdade no dinheiro”, resume Edineide, uma das entrevistadas de Walquiria, residente em Pasmadinho, no Vale do Jequitinhonha. As mulheres são mais de 90% das titulares do Bolsa Família: são elas que, mês a mês, sacam o dinheiro na boca do caixa. Edineide traduz o significado dessa opção do governo por dar o cartão do benefício para a mulher: “Quando o marido vai comprar, ele compra o que ele quer. E se eu for, eu compro o que eu quero.” Elas passaram a comprar Danone para as crianças. E, a ter direito à vaidade. Walquiria testemunhou mulheres comprarem batons para si mesmas pela primeira vez na vida. Finalmente, tiveram o poder de escolha. E isso muda muitas coisas.
“Boa parte delas têm uma renda fixa pela primeira vez. E várias passaram a ter mais dinheiro do que os maridos”, diz Walquiria. Mais do que escolher entre comprar macarrão ou arroz, o Bolsa-Família permitiu a elas decidir também se querem ou não continuar com o marido. Nessas regiões, ainda é raro que a mulher tome a iniciativa da separação. Mas isso começa a acontecer, como relata Walquiria: “Na primeira entrevista feita, em abril de 2006, com Quitéria Ferreira da Silva, de 34 anos, casada e mãe de três filhos pequenos,em Inhapi, perguntei-lhe sobre as questões dos maus tratos. Ela chorou e me disse que não queria falar sobre isso. No ano seguinte, quando retornei, encontrei-a separada do marido, ostentando uma aparência muito mais tranqüila.”
A despeito do assédio dos maridos, nenhuma das mulheres ouvidas por Walquiria admitiu ceder aos apelos deles e dar na mão dos homens o dinheiro do Bolsa. “Este dinheiro é meu, o Lula deu pra mim (sic) cuidar dos meus filhos e netos. Pra que eu vou dar pra marido agora? Dou não!”, disse Maria das Mercês Pinheiro Dias, de 60 anos, mãe de seis filhos, moradora de São Luís, em entrevista em 2009. Walquiria relata ainda que aumentou o número de mulheres que procuram por métodos anticoncepcionais. Elas passaram a se sentir mais à vontade para tomar decisões sobre o próprio corpo, sobre a sua vida. É claro que as mudanças ainda são tênues. Ninguém que visite essas áreas vai encontrar mulheres queimando sutiãs e citando Betty Friedan. Mas elas estão começando a romper com uma dinâmica perversa, descrita pela primeira vez em 1911, pelo filósofo inglês John Stuart Mill. De acordo com Mill, as mulheres são treinadas desde crianças não apenas para servir aos homens, maridos e pais, mas para desejar servi-los. Aparentemente, as mulheres mais pobres do Brasil estão descobrindo que podem desejar mais do que isso.” [Marie Claire]
Esse vídeo d’A Pública é uma paulada:
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4. “Tem que passar a boiada”

Mas antes dos bois…
“O deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) apresentou projeto de lei (PL 3961/2020) para declarar estado de emergência climática no Brasil, seguindo o exemplo de países como Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Canadá e Argentina. O texto define como meta neutralizar as emissões de gases de efeito estufa no Brasil até 2050. Além disso, determina que o Executivo crie um Plano Nacional de Resposta à Emergência Climática, com políticas quinquenais para enfrentar a emergência climática, além de divulgar relatórios anuais sobre as ações concretas realizadas. Por fim, proíbe o bloqueio do orçamento destinado ao enfrentamento da crise climática e ao combate ao desmatamento. “É um primeiro passo para a construção de um ‘green new deal’ no Brasil. Uma retomada verde da economia. Uma retomada da economia, mas não nos mesmos moldes de antes”, explica Molon. “A lei brasileira de política climática só tem meta até 2020. Da mesma forma que se votou o Fundeb porque não teria nada no ano que vem se não votasse, se não votarmos esse projeto com meta ousada para 2050 o Brasil vai ficar sem meta no ano que vem”, completa.” [Folha]
Vamos aos bois:
“O governo Bolsonaro acelerou a publicação de atos sobre meio ambiente durante os meses de maior crescimento da pandemia da Covid-19 no país. Levantamento da Folha em parceria com o Instituto Talanoa mostra que, entre março e maio deste ano, o Executivo federal publicou 195 atos no Diário Oficial —entre eles, portarias, instruções normativas, decretos e outras normas — relacionados ao tema ambiental. Nos mesmos meses de 2019, foram apenas 16 atos publicados. Ou seja, o número de publicações neste ano é 12 vezes maior do que em 2019.
Os atos do Executivo, de forma geral, servem para direcionar o cumprimento das leis e complementar sua aplicação. No entanto, a análise também aponta que uma parte dessas medidas infralegais tentou mudar o entendimento da legislação. O resultado do levantamento vai ao encontro do que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, defendeu na reunião ministerial de 22 de abril, cujo teor veio a público em maio, após decisão do Supremo Tribunal Federal. “Precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos neste momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa porque só se fala de Covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”, afirmou Salles no encontro.
A análise das principais decisões publicadas confirma a direção de desregulamentação. Entre elas, estão decisões que repercutiram na imprensa e foram contestadas pelo Ministério Público Federal e pela Justiça, como a reforma administrativa do ICMBio, órgão responsável pela gestão das unidades de conservação no país. A reforma exonerou gestores especializados e centralizou a administração das unidades de conservação através de cargos ocupados por militares. A decisão é alvo de inquérito civil público. Por outro lado, a análise também revela “boiadas” que passaram despercebidas. Um exemplo é a instrução normativa 4/2020 do Ministério do Meio Ambiente (MMA), que regula o pagamento de indenizações no caso de desapropriação de propriedades localizadas no interior de unidades de conservação. Em artigo que trata da priorização de indenização para populações tradicionais em reservas ambientais, a instrução cria uma brecha que, na prática, facilita a expulsão de índios e quilombolas dessas áreas. No início de abril, o Ibama passou a flexibilizar o cumprimento de obrigações ambientais de empreendimentos licenciados pelo órgão durante pandemia.
A medida foi vista por ambientalistas como um ensaio, que, no dia a dia, adianta parte das flexibilizações defendidas no projeto da lei geral do licenciamento ambiental, que deve ser votado na Câmara neste semestre. Em outra decisão, publicada em maio pela portaria 432/2020, o ICMBio centraliza a gestão de duas unidades de conservação em Roraima, cancelando a criação de duas bases avançadas do órgão na região, onde há registros recentes de invasão de garimpeiros. Ainda em maio, o ICMBio publicou um código de ética com regras mais frouxas na relação entre agentes públicos e privados, permitindo que empresas paguem despesas de viagens de servidores.” [Folha]
Enquanto isso o dinheiro foge tal qual um Forrest Gump de ecsatsy – não versa apenas sobre o meio ambiente mas também sobre a usina de instabilidade que virou o palácio:
“Os investidores retiraram US$ 31,252 bilhões de aplicações financeiras no Brasil nos seis primeiros meses deste ano, informou nesta terça-feira (28) o Banco Central. O valor inclui ações, fundos de investimentos e títulos da renda fixa. Segundo ao BC, é a maior saída de recursos de aplicações financeiras da economia brasileira desde o início da sua série histórica, em 1995, ou seja, em 26 anos. Essa retirada também representa reversão em relação ao registrado no mesmo período do ano passado – quando US$ 9,087 bilhões ingressaram na economia brasileira. “Essa saída se concentra fundamentalmente em março, com US$ 22,2 bilhões [de retirada], 2/3 do total [do semestre] em um mês único. Essa saída de março, especificamente, está muito relacionada às incertezas daquele momento mais agudo da crise, ou à véspera daquele momento”, disse o chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha.” [G1]
E o que mais será preciso para o Salles cair?!
“Após pressionar o Palácio do Planalto a adotar políticas de proteção ambiental, empresários fizeram nesta terça-feira (28) uma investida sobre o Congresso para ganhar adesão à pauta de combate ao desmatamento da Amazônia. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se reuniu pela manhã com executivos de diversos ramos da economia. Ele se comprometeu a criar um grupo de deputados para debater o tema. O grupo de empresários no início deste mês já havia enviado uma carta ao vice-presidente, Hamilton Mourão, pedindo o combate “inflexível e abrangente” ao desmatamento ilegal na Amazônia e demais biomas brasileiros. Mourão atualmente preside o Conselho Nacional da Amazônia Legal. Agora, eles pediram a Maia ajuda para barrar a devastação da floresta. O encontro teve a participação de representantes de Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais), Itaú, Santander, entre outras empresas e entidades.
“Foi um encontro importante, pois um grupo de empresários de setores muitos diversos, como alimentos e mineração, conseguiu apresentar falar não apenas te temas essenciais para região Amazônica, como a rastreabilidade, mas também apresentar a importância de o país criar mecanismos para priorizar uma agenda de negócios sustentáveis no pós-pandemia”, disse Paulo Hartung, presidente executivo da Iba, associação que reúne a cadeia produtiva de árvores cultivadas para fins industriais e ex-governador do Espírito Santos, que participou do encontro. Segundo Hartung, depois do encontro com o Executivo, que foi representado pelo vice-presidente Hamilton Mourão, e da reunião com o Legislativo, o grupo se prepara para um encontro com governadores dos estados que integram o Consórcio da Amazônia Legal, que reúne representantes de Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Maranhão, Pará, Roraima e Rondônia. Após se reunir com os empresários brasileiros, Maia chamou deputados ligados à questão ambiental para debater pautas voltadas à proteção da Amazônia e combate ao desmatamento ilegal.
Na semana passada, Maia já havia aventado na semana passada a possibilidade de criar uma comissão para acompanhar as ações do governo em relação ao ambiente e medidas contra o desmatamento. Maia disse aos empresários que vai criar o colegiado. Segundo o deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP), que preside a Comissão de Meio Ambiente da Câmara e participou da reunião, a ideia é apresentar a Maia propostas prioritárias para que a Casa aborde. Maia reuniu cinco deputados nesta tarde. Eles formarão um grupo informal para auxiliá-lo na agenda ambiental da Câmara. Agostinho, que participou da reunião com os executivos, fará parte do colegiado. Além dele, Maia convidou também Enrico Misasi (PV-SP) e Alessandro Molon (PSB-RJ), mais ligados à causa ambiental, e Zé Silva (Solidariedade-MG) e Zé Vitor (PL-MG), mais ligados ao agronegócio.
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5. Centrão

“A disputa pela sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) no comando da Câmara dos Deputados preocupa o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) e pode implodir a tentativa do Planalto de formar maioria na Casa para aprovar projetos de seu interesse.” [Folha]
“Desde a prisão do policial militar aposentado Fabrício Queiroz, amigo do presidente e ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), o Executivo tenta costurar uma rede de proteção no Legislativo para blindar Bolsonaro. O movimento abriu espaço para o chamado centrão, grupo formado por partidos como PP, PL e Republicanos. Em troca de cargos, as legendas acenavam com uma eventual blindagem ao governo caso os desdobramentos da ação contra Queiroz se agravassem e levassem a um processo de impeachment. O Planalto via no deputado Arthur Lira (PP-AL) um nome de confiança para aglutinar uma base sólida que garantisse a Bolsonaro ao menos 172 votos (um terço mais um) necessários para barrar uma eventual denúncia contra ele e, de quebra, minar o poder do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).”
O governo tá tão fodido que acredita na fidelidade do Centrão.
“Contudo, para se afastar do governo, DEM e MDB decidiram desembarcar do grupo conhecido como blocão, que hoje reúne formalmente nove legendas e 221 parlamentares, dentre eles muitos do centrão. O blocão foi montado em 2019 para definir a formação da Comissão Mista de Orçamento (CMO). É composto por PL, PP, PSD, MDB, DEM, Solidariedade, PTB, PROS e Avante. Alguns estão mais alinhados com o governo (como PP, PSD e PL) e outros têm posição de mais moderados, como o Solidariedade. Essa diferença de posicionamento é um dos motivos da saída dos dois partidos. A conta feita hoje nos corredores da Câmara é que, com boa vontade, o governo tem cerca de 200 deputados em sua base de apoio.
200 de 573.
“O Planalto sonhava em ter entre 250 e 300 deputados, mas pode acabar tendo nas mãos pouco mais do que o necessário para livrar Bolsonaro de um eventual pedido de impeachment. Legendas menores, como Patriota e Avante —que somam 12 deputados—, devem deixar o blocão de Lira. O deputado do PP levou o peso do bloco para a negociação com o governo em um momento de fragilidade de Bolsonaro por conta da demora em reagir ao avanço da pandemia do coronavírus e do impacto do caso Queiroz. Ao apostar em Lira, o governo tentou, na avaliação de integrantes do Planalto, enfraquecer a liderança de Maia e, de quebra, criar um cenário favorável para ter um sucessor do presidente da Câmara mais favorável à agenda bolsonarista. Para assessores de Bolsonaro, o controle da pauta por Maia e erros estratégicos de articulação política deram sobrevida ao presidente da Câmara e o recolocaram como protagonista na Casa, o que é atestado agora com a movimentação de DEM e MDB. A vitória de Maia na votação do Fundeb, fundo que financia a educação básica, deu a demonstração final de sua força.”
Olha que maravilha:
“Agora, dizem integrantes do Planalto, o governo fica numa saia justa. Na sucessão ao comando da Casa, deverá pisar em ovos. A leitura é que, se decidir abandonar Lira, pode ganhar um adversário forte em um cenário de base frágil entre os deputados. Por outro lado, o Planalto pode se ver derrotado por respaldar um candidato natimorto. Diante do cenário, assessores recomendam que o governo tire o corpo fora da influência nessa disputa.”
“Auxiliares de governo e líderes ouvidos pela Folha avaliam que fora da agenda econômica novas derrotas como a do Fundeb podem acontecer. Bolsonaro, segundo aliados, estaria de mãos atadas enquanto as peças na Câmara se mexem olhando para a disputa pela presidência que, hoje, não tem nenhum favorito.”
E sempre que o major se fode é um grande dia:
“Em meio a essas incertezas, Bolsonaro avalia como acomodar Major Vitor Hugo, aliado de primeira hora e líder do governo na Câmara. A ideia passa por alocá-lo em uma autarquia federal e nomear o deputado Ricardo Barros (PP-PR) como líder do governo na Casa. A expectativa é a de que a troca seja feita no início de agosto.”
E aqui me valho do Vinícius Torres Freire:
“O que existe de governança do Brasil é uma resultante do desgoverno de Jair Bolsonaro, de um anteparo na Câmara e de surtidas do Supremo contra desbordamentos do bolsonarismo. Diga-se “governança” por conveniência e brevidade, para dar um nome ao que resulta do salseiro. Não é governo, que inexiste, nem equilíbrio de Poderes. É uma bruxa inacreditável, mas que existe. Esse esquema de governança improvisada, por informe, gelatinoso e variável que seja, deve mudar a partir do começo do ano que vem com a eleição dos novos (ou não) presidentes da Câmara, em especial, e do Senado. Vai definir se a Câmara continua como um anteparo das exorbitâncias do governo e dar uma medida mais precisa do apoio que Bolsonaro tem no Congresso (se é que quer mesmo algo assim, tão normal).” [Folha]
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6. Guedes e seu cretinismo

“O ministro da Economia, Paulo Guedes, indicou nesta quarta-feira (29) que uma ampliação da faixa de pessoas isentas do Imposto de Renda –compromisso de campanha do presidente Jair Bolsonaro– só será possível após a criação de um novo imposto para ampliar a base de arrecadação do governo. Após reunião técnica no Palácio do Planalto, o ministro afirmou que a reforma tributária defendida pelo governo não levará a um aumento de impostos no país.” [Folha]
Não tem como bancar um “orçamento de guerra” e não aumentar imposto, é surreal que Guedes continue com esa retórica pré-pandemia. E o Guedes quer convencer Derus e o mundo mas não consegue nem convencer seu chefe.
“Se houver uma base ampla nova, ela permite extinguir vários impostos: fogão, geladeira, máquina de lavar roupa, aumentar faixa de isenção [do Imposto de Renda], muita coisa pode ser feita se nós conseguirmos uma base ampla que tribute quem não pagava antes e permita pagar menos aqueles que já pagavam. Quando todos pagam, todos pagam menos”
Ah, vai tomar no cu. Ele quer um imposto sobre consumo, sendo que o nosso sistema tributário é estúpido pois tributa… consumo, fodendo os mais pobres e beneficiando os mais ricos.
“A ampliação de base tributária desenhada pelo governo passa pela criação de um imposto sobre pagamentos aos moldes da extinta CPMF, com foco em arrecadar principalmente de transações e serviços digitais. Na campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro defendeu a isenção de Imposto de Renda para pessoas que ganham até cinco salários mínimos, com a cobrança de alíquota única de 20% para todas as outras.”
Sim, a família do Itaú vai pagar o mesmo que alguém da classe média, entendeu?
E é difícil dar conta da estupidez da equipe econômica:
“Quando assumiu o cargo, há um ano e meio, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que pretendia privatizar todas as estatais para levantar cerca de R$ 1,2 trilhão, valor suficiente para quitar a dívida pública. Hoje, somente 18 das 614 estatais estão na lista de privatizações, e nenhuma teve sua estruturação definida. O primeiro leilão está previsto para o fim deste ano. Sem os estudos elaborados, nem mesmo o valor das empresas pode ser estimado. De capital fechado, não há referência do potencial de arrecadação, uma vez que não existe negociação em Bolsa. Levantamento feito pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) a pedido da Folha mostra que metade dos 18 projetos incluídos pela gestão Jair Bolsonaro no PND (Plano Nacional de Desestatização) está em fase de estruturação.” [Folha]
A nossa sorte é que eles são incrivelmente burros.
“Ou seja, só foram contratadas equipes para avaliar o modelo mais apropriado para a venda ou a concessão da estatal à iniciativa privada. Até o momento, nenhum processo foi concluído. Um deles é o da Emgea, vinculada ao Ministério da Economia e que cuida de contratos imobiliários do extinto Sistema Financeiro Habitacional, principalmente da Caixa Econômica Federal. O leilão está previsto para o quarto trimestre deste ano. Doze projetos devem ser vendidos no próximo ano. Cinco deles (Correios, portos de São Sebastião e Santos, Parque Nacional dos Lençóis e o de Jericoacoara) nem sequer tiveram editais para a contratação dos estudos. Todos foram incluídos no PND em 2019. A grande maioria dos projetos incluídos pelo governo Bolsonaro no PND em andamento teve seus estudos de viabilidade econômica realizados na gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB). Também boa parte dos projetos leiloados em 2019 foi herança de Temer.
Isso ajudou Guedes a “bater a meta de privatizar US$ 20 bilhões”. Os leilões realizados renderam R$ 78,6 bilhões. Com as privatizações (venda da empresa) emperradas, o sucesso de Guedes se deve ao PPI (Programa de Parcerias de Investimentos), que conduz um programa de concessões, cujos projetos são mais interessantes à iniciativa privada porque preveem receita certa. Afinal, só não haverá tráfego em rodovias, aeroportos, ferrovias e portos se o país fechar as portas. A pandemia causada pelo novo coronavírus gerou mais pressão sobre o plano de Guedes. O ministro, que viu sair dos cofres públicos R$ 826 bilhões para tentar conter a crise no país, anunciou no mês passado sua intenção de realizar ao menos quatro grandes privatizações neste ano: Eletrobras, Correios, porto de Santos e PPSA (Pré-Sal Petróleo S.A.). Os recursos ajudariam a cobrir os gastos, segundo o chefe da Economia. Nos bastidores, os técnicos envolvidos na estruturação desses projetos afirmam que não há a menor possibilidade de que sejam levados adiante.
Desde o início da gestão do ex-presidente Temer, o governo tenta se livrar do peso que a Eletrobras representa na sua contabilidade. Reduto político para as bancadas dos estados e fonte de investimentos sociais, especialmente no Nordeste, a estatal renderia R$ 17 bilhões à União, caso a proposta de capitalização (via diluição da participação da União) enviada ao Congresso fosse aprovada. Mas não passou. O governo preparou uma nova proposta, mas não houve avanços por resistência de deputados e senadores, especialmente do Nordeste. Nos Correios, existe uma trava legal. Cabe à União o serviço postal, que é, justamente, o que dá prejuízo aos cofres públicos. Na prática, a única possibilidade de venda, neste momento, seria a das entregas, a galinha dos ovos de ouro da estatal.
Nenhum dos processos tem chance de avançar sem a aprovação do Congresso. Por isso, no fim do ano passado, o secretário especial de Desestatização do Ministério da Economia, Salim Mattar, cogitou enviar um projeto para criar uma espécie de “fast track” (via rápida, em tradução livre do inglês) para a venda de estatais. Salim queria que o Congresso desse aval para a inclusão automática de uma lista de estatais enviadas pela Economia. Dessa forma, conseguiria furar a fila do PPI, que segue rito próprio incluindo no PND projetos enviados pelos diversos ministérios.
Nem o beabá os imbecis conseguem fazer. Não à toa o Salim tá de saída do governo.
“Até o momento, a prioridade são os projetos do Ministério da Infraestrutura, que conduz um programa de concessões (rodovias, ferrovias, aeroportos e portos) com potencial para atrair R$ 250 bilhões em investimentos no período de vigência da concessão até o fim do mandato de Bolsonaro. Com o projeto de lei, Salim conseguiria que o Congresso incluísse as estatais no PND em vez de passarem pelo PPI. Em fevereiro deste ano, o PPI foi remanejado do Palácio do Planalto para o Ministério da Economia, permanecendo sob o controle de Guedes. Essa mudança fez com que Salim desistisse do plano de conseguir um atalho via Congresso.”
Faz sentido vender ativos na baixa? Não, né?
“Além dos entraves políticos, o plano de desestatização de Guedes também sofre com a pandemia, que fez o valor das empresas despencar mundo afora. Esse foi o motivo que levou o secretário Salim a declarar publicamente, no fim de abril, que o governo só falaria de privatizações no ano que vem. Guedes, no entanto, diz que não pode esperar.”
Quando o Salim Mattar é a voz da razão é porque estamos deveras fodidos.
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7. Clac clac bum

Malditos milicos!
“Após acumular 12 questionamentos na Justiça em torno de normas que editou envolvendo armas e munições, o governo decidiu contratar um expert no assunto para evitar novos reveses. O coronel da reserva Valdir Campoi Junior, instrutor de armamento e tiro credenciado pela Polícia Federal com quase 30 anos de experiência foi nomeado em 27 de maio como assessor na Secretaria-Geral da Presidência. Considerado por militares e atiradores uma autoridade no assunto por sua atuação dentro e fora no quartel, ele vai auxiliar o ministro Jorge Oliveira nessa área.” [Estadão]
Mais um militar para cumprir ordens absurdas do prsidente que quer armar a população:
“No Palácio do Planalto, caberá a Campoi a tarefa de avançar nas pautas de flexibilização de armas e munições. Segundo a Secretaria-Geral, as principais funções dele são “revisar os atos normativos, especialmente aqueles referentes à posse e porte de armas de fogo pelos cidadãos, e revisar as normas referentes aos CACs” (sigla do grupo que reúne colecionadores de armas, atiradores desportivos e caçadores). “Recentemente convidei um CAC específico para trabalhar conosco na Secretaria-Geral, justamente para entender do tema de maneira mais efetiva e dar continuidade a essa pauta”, disse o ministro Jorge Oliveira, em entrevista ao deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), divulgada no dia 11 de julho no canal do YouTube do filho do presidente. Na ocasião, o ministro não divulgou o nome do coronel. O ministro detalhou que a missão do novo assessor é dialogar a partir da Presidência com o Ministério da Defesa, o Comando Exército, o Ministério da Justiça e a Polícia Federal para avançar na regulamentação. E pontuou que o “Comando do Exército também tem se sensibilizado com as pautas do presidente.”
“Se sensibilizando”, porra!
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8. Covid-17

É surreal como Bolsonaro é completamente anestesiado, insensível à tragédia.  incapaz de compreender o luto de 82 mil famílias:
– Senhor tá bem, presidente? Tranquilo?
– Não tive problema nenhum, é muita pressão em cima do povo, né, pra quem tem problemas de saúde, certa idade, qualquer coisa é perigosa, vai tomar uma chuva, pega pneumonia…
– Mas o senhor é um cavalão, saúde de ferro
– kkkkk
Passo à Lígia Bahia, uma das maiores autoridades em saúde pública o Braisl, professora da UFRJ:
“A passagem dos militares pela gestão do Ministério da Saúde é melancólica. Sem bravura para enfrentar a Covid-19, passam seus dias descobrindo novas funções para o SUS. A Saúde passou a ser receptora das toneladas de cloroquina fabricadas em laboratórios do Exército e de filhas desempregadas de generais. A morte de quase 90 mil compatriotas não mobiliza a defesa da pátria. O SUS, ao invés de campo de batalha pela Saúde, virou agência de empregos. Enquanto o país tem uma taxa de subutilização da força de trabalho de 24,2%, combatentes estrelados, exercendo atividades para as quais não têm competência, nomeiam profissionais sem formação na Saúde. A única demonstração de força foi um arroubo do coronel que ocupa cargo importante no Ministério. O oficial recomendou, na Câmara dos Deputados, a compra de insumos superfaturados, desde que acompanhada por sindicâncias — orientação contrária às regras elementares da administração pública. ‘Enfrentamento’, ‘controle’ e ‘campanha’, metáforas de guerra, adotadas pela ciência para delinear estratégias de ação durante a pandemia, perderam significado para quem impávido assiste o país perder vidas”.” [O Globo]
Bolsonaro quer porque quer armas para que a população se proteja mas sabota a arma mais eficiente para enfrentar o vírus:
“Pesquisadores já sabem há algum tempo que o uso de máscaras pode impedir que pessoas espalhem germes, como vírus, pelas vias aéreas. E foi esse tipo de conhecimento que conduziu grande parte das discussões sobre os acessórios cruciais para combater a pandemia do coronavírus. Mas agora, à medida que os casos continuam aumentando em alguns países, especialistas apontam para uma série de evidências sugerindo que as máscaras também protegem as pessoas que as usam, diminuindo a gravidade dos sintomas ou, em alguns casos, impedindo completamente a infecção. Diferentes tipos de máscaras “bloqueiam o vírus em um grau diferente, mas todos impedem a entrada do vírus”, disse Monica Gandhi, médica de doenças infecciosas da Universidade da Califórnia, em São Francisco. “Se alguma partícula de vírus romper essas barreiras, a doença ainda pode ser mais branda”, disse ela.
Gandhi e seus colegas defendem esse argumento em um novo artigo que será publicado no Journal of General Internal Medicine. Partindo de experimentos com animais e observações de vários eventos durante a pandemia, eles afirmam que as pessoas que usam coberturas faciais absorvem menos partículas de coronavírus, facilitando o sistema imunológico a se proteger. Tsion Firew, médico de emergência da Universidade de Columbia que não estava envolvido no trabalho, alertou que os vínculos entre o uso de máscaras e o desenvolvimento de versões mais leves de doenças ainda não foram provados como causa e efeito. Mesmo assim, o novo artigo “reitera o que dizemos sobre máscaras”, disse. “Não é apenas um ato altruísta.”
Ideias sobre a importância da dose viral no desenvolvimento de doenças surgiram na literatura médica desde pelo menos a década de 1930, quando dois pesquisadores notaram formalmente que os ratos expostos a quantidades maiores de germes tinham maior probabilidade de morrer. Mais recentemente, os cientistas chegaram a analisar diferentes quantidades de um vírus da gripe pelo nariz de voluntários humanos. Quanto mais vírus nessa pluma nasal, eles descobriram, mais provável que os participantes fossem infectados e apresentassem sintomas. Porém, esse tipo de experimento não pode ser feito de maneira ética para o novo coronavírus, dado o perigo que pode representar. Mas no início deste ano, uma equipe de pesquisadores na China tentou algo semelhante em hamsters: eles abrigaram animais saudáveis e infectados por coronavírus em gaiolas adjacentes, algumas das quais separadas por tampões feitos de máscaras cirúrgicas. Muitos dos hamsters saudáveis por trás das partições nunca foram infectados. E os animais que pegaram a doença desenvolveram versões da doença mais leves do que seus vizinhos “sem máscara”.
Os pesquisadores também estimaram, provisoriamente, que cerca de 40% das infecções por coronavírus não produzem sintomas. Mas quando algumas pessoas usam máscaras, a proporção de casos assintomáticos parece disparar, supostamente ultrapassando 90%. Usar uma cobertura de rosto não torna as pessoas impermeáveis à infecção, mas essas tendências de casos assintomáticos podem sugerir que as máscaras levam a doenças mais leves, potencialmente reduzindo hospitalizações e mortes. Gandhi disse que são particularmente atraentes os dados de navios de cruzeiro, que agrupam grandes grupos de pessoas em locais próximos. Mais de 80% dos infectados a bordo da Diamond Princess do Japão em fevereiro — antes que o uso da máscara se tornasse prática comum — apresentavam sintomas, observou ela. Mas em outro navio que saiu da Argentina em março e no qual todos os passageiros receberam máscaras cirúrgicas depois que alguém a bordo ficou com febre, o nível de casos sintomáticos ficou abaixo de 20%.” [O Globo]
A conclusão é bem boa:
“Alguns especialistas independentes dizem que o artigo é uma atualização bem-vinda, dada a idéia difundida de que usar uma máscara é um ato principalmente altruísta. Foi uma deficiência real nas mensagens dizer que as máscaras apenas protegem o outro”, disse Charles Haas, engenheiro ambiental e especialista em avaliação de riscos na Universidade Drexel. “Desde o início, isso nunca fez sentido cientificamente.”
Sobre as ondas – ou uma grande onda:
“Afinal, a pandemia de Covid-19 se traduzirá em uma única e grande onda ou vai acontecer em várias ondas, com o ressurgimento de novos casos depois de uma maré baixa? Até que a vacina surja como resolução definitiva, coisa que só é esperada a partir de 2021 e se os testes se mostrarem eficazes, espera-se que novos casos da doença continuem reaparecendo em países que supostamente haviam erradicado a enfermidade. Nesta terça-feira (28), Margaret Harris, porta-voz da OMS (Organização Mundial da Saúde), descreveu a pandemia da Covid-19 como “uma grande onda” e fez um alerta contra a complacência em relação à transmissão do vírus durante o verão no Hemisfério Norte. “Nós estamos na primeira onda, e vai ser uma grande onda. Ela vai subir e descer. A melhor coisa a se fazer é achatá-la e transformá-la numa marolinha aos seus pés.”
Mas não há consenso entre os especialistas até o momento, nem mesmo entre as autoridades da OMS, sobre a definição de “ondas”, uma vez que elas são caracterizadas por uma reincidência total da doença após um período zerado de novos casos. Nas últimas semanas, o reaparecimento da doença em alguns países, provocando novos recordes diários, como Hong Kong (que atingiu o pico de 145 novos casos no último dia 27 de julho, após o mês de junho praticamente inteiro abaixo de 30 casos diários), e Japão (que registrou 927 novos casos no dia 24 de julho, com crescimento da curva a partir do dia 22 de junho), podem indicar que a epidemia nunca se erradicou, apenas regrediu. Outros países também apresentaram uma curva ascendente após semanas de estagnação. O caso mais chamativo é da Espanha, que registrou 6.361 novos casos no último dia 27. A alta fez com que o governo voltasse às medidas de restrição nos bares e restaurantes, limitasse o acesso a praias no litoral de Barcelona e decretasse obrigatório o uso de máscaras. No dia anterior, o Reino Unido decretou a quarentena forçada para qualquer viajante vindo do país ibérico.
Na França, a média móvel de casos diários cresceu 200% nas últimas semanas, e o país deixou para trás os dias em que nenhum novo caso era reportado. O governo também passou a exigir obrigatoriedade de exames de cidadãos de dezesseis países, incluindo os Estados Unidos e Brasil, em uma tentativa de impedir a entrada de novos portadores do vírus. Paulo Lotufo, epidemiologista e professor titular de clínica médica da Faculdade de Medicina da USP, explica a diferença entre ondas e surtos. “Surto é surgimento de uma enfermidade localizada que não atinge todo mundo, como por exemplo piolhos em uma escola. A epidemia é quando passa do número normal daquela época do ano para uma determinada doença ou quando ela é muito nova [como é o caso da Covid-19].” Para ele, a impressão no caso da Covid-19 é de uma única grande onda mesmo. Lotufo afirma que a pandemia pode vir em ondas distintas, mas é preciso ter certeza que o país zerou o contágio para ter essa confirmação. “Em Barcelona, a impressão é que não houve o fim do contágio. Já na Itália, embora a taxa de mortalidade tenha sido a mais elevada do mundo na região da Lombardia, a taxa de contágio se manteve baixa.” [Folha]
E no país do capitão Cloroquina…
“Depois de o prefeito Vavá Cordeiro (PSB) flexibilizar a quarentena na cidade de Cajati, no Vale do Ribeira, e defender uso de cloroquina no tratamento da Covid-19, o município do interior paulista de aproximadamente 29 mil habitantes registrou, em uma semana, um aumento de 144% no número de casos, passando de 234 para 571 infectados. Cajati tem os piores números da região: 894 casos confirmados e 15 óbitos. A cidade passou a distribuir kits com o medicamento. “O aumento veio porque a gente começou a testar as pessoas. Testamos todos os departamentos e temos três multinacionais que começaram a testar os funcionários. Se testou, vão aparecer as pessoas que têm a Covid”, alega o prefeito. Apesar de diversos estudos científicos mostrarem que o uso de cloroquina não tem eficácia no combate ao novo coronavírus, Vavá Cordeiro diz seguir as orientações do governo e incentiva o uso do medicamento. “Temos uma equipe médica que acredita bastante na hidroxicloroquina e, com o pedido que fizemos para o presidente Jair Bolsonaro, que enviou 1.500 comprimidos, a gente já faz a testagem e entrega o kit com o remédio”, afirma.” [Folha]
E esssa do Pazuello?!
“O ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, indicou como representante da pasta em Pernambuco uma amiga próxima sem experiência em saúde ou gestão pública. Segundo a assessoria de Pazuello, ele e ela são amigos “há cerca de 30 anos, apresentados por conhecidos em comum”, e a nomeação se baseou na “relação de confiança e amizade” entre ambos. O ministério afirma que experiência na área de saúde não é um pré-requisito —Pazuello, afinal, é um oficial de intendência do Exército.” [Folha]
Que ironia maravilhosa da Folha esse final aí!

“Paula foi escolhida, diz a assessoria, por sua capacidade de articulação no estado, embora a pasta não tenha informado quais exatamente seriam suas credenciais no campo.”
“Entre alguns dos cerca de cem servidores do Núcleo Estadual do Ministério da Saúde em Pernambuco, a chegada da nova chefe gerou contrariedade. Segundo relatos recolhidos pela Folha com pessoas que pediram anonimato, a falta de familiaridade de Paula com os assuntos de saúde pública está gerando entraves decisórios. A nova coordenadora afirmou à Folha, por telefone, que não estava trabalhando antes de ser chamada para o cargo. Ela é econômica sobre sua suposta experiência pregressa. Afirma ter sido no passado “assessora de um governador”, mas não disse qual ou quando. A nova coordenadora afirmou à Folha, por telefone, que não estava trabalhando antes de ser chamada para o cargo. Ela é econômica sobre sua suposta experiência pregressa. Afirma ter sido no passado “assessora de um governador”, mas não disse qual ou quando.”
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9. Imunidade

Ainda é sobre o maldito vírus mas o texto do Hélio Gurovitz é tão bom que ganhou tópico próprio:
“Um novo estudo de pesquisadores portugueses e brasileiros, divulgado sábado no repositório MedRxiv, começa a despertar controvérsia entre os cientistas e lança mais combustível numa das questões mais inflamáveis da pandemia: quantos infectados são suficientes numa população para que os imunes impeçam a circulação do vírus – e a transmissão comece a definhar naturalmente? Tal proporção – conhecida como “limiar de imunidade coletiva” ou, num anglicismo desajeitado que conquistou certas manadas, “limiar de imunidade de rebanho” – ganhou vulto descomunal em debates motivados mais por interesse político que científico. Não é difícil entender por quê. Se o limiar estiver entre 50% e 70%, como sugerem os cálculos baseados nos modelos matemáticos tradicionais, o risco de uma segunda onda de contágio e de um novo morticínio é muito maior, já que, mesmo nas cidades mais afetadas, o novo coronavírus não contaminou mais de 25% da população. Se, ao contrário, tal limiar for mais baixo, como sugere o novo estudo, então o pior já pode ter passado em vários lugares – e devemos nos preocupar mais com as regiões menos afetadas pela primeira onda, onde quase toda a população ainda permanece suscetível ao contágio.
Como já repetido um sem-número de vezes ao longo da pandemia – inclusive num vídeo da chanceler alemã, Angela Merkel, que se espalhou mais rápido que o vírus –, o tal R0 representa quantos infectados cada doente contamina em média, no início da pandemia. É uma média teórica para o instante inicial do contágio na população. À medida que o tempo passa, esse indicador varia, de acordo com as medidas tomadas para reduzir a transmissão (como distanciamento social ou uso de máscaras), mas também porque a quantidade cada vez maior de imunes não contrai mais o vírus (o número de reprodução passa a ser identificado, dependendo do gosto, apenas como R, Rt ou R-efetivo). O problema intrínseco a qualquer um desses Rs é que se trata de médias – e qualquer média esconde mais do que revela. Nem todos os infectados transmitem o vírus ao mesmo número de pessoas. Uns podem contaminar dezenas ou até milhares – são conhecidos como superdifusores (leia mais aqui). Outros, isolados, podem não transmitir a ninguém. É justamente nesse ponto que os cálculos feitos com base nos modelos tradicionais falham. Populações são heterogêneas. Tomar a média como representativa do todo necessariamente leva a aproximações grosseiras. Eis que entram em cena os modelos mais sofisticados, em que a taxa de contágio, o famigerado R-qualquer-coisa, varia não apenas ao longo do tempo, mas também de indivíduo para indivíduo, para dar conta daquilo que os cientistas chamam de “heterogeneidade” da população. Tal variação pode derivar de fatores biológicos (certos indivíduos podem correr menos risco por razões genéticas ou por terem tomado certas vacinas). Ou de fatores sociais (o risco é menor para quem sai menos de casa, conversa menos ou tem uma vida social menos intensa). Há toda uma fauna de modelos que tentam lidar com a heterogeneidade, todos eles com hipóteses distintas a respeito da dinâmica do contágio. Desde pelo menos fevereiro, quando a pandemia começou, a questão é objeto de debate intenso na comunidade acadêmica. Um desses modelos, publicado por cientistas suecos na revista Science em junho, despertou controvérsia por concluir que o limiar de imunidade coletiva poderia, sob certas condições, estar em torno de 37% (leia mais neste post). Editores da própria Science fizeram ressalvas ao modelo em editorial. O modelo proposto no estudo de Gabriela é anterior e mais sofisticado que o dos suecos. Sua conclusão é ainda mais provocativa. Nos quatro países para os quais os cientistas simularam suas hipóteses (Portugal, Espanha, Bélgica e Reino Unido), o limiar ficou abaixo de 20%. Na primeira versão do trabalho, ainda era uma conclusão apenas hipotética. Na versão publicada no último fim de semana, ela é corroborada pelos números reais, verificados em cada um dos países analisados.
– Numa população suscetível, uns são mais suscetíveis que os outros. O vírus não afeta as pessoas aleatoriamente. Vai infectar primeiro os mais suscetíveis, então eles desenvolvem alguma imunidade, portanto saem do grupo dos suscetíveis. Há então um fenômeno de seleção. Os que sobram são aqueles que no início tinham menos suscetibilidade. Há uma redução da suscetibilidade média. Ela é dinâmica. À medida que epidemia se desenvolve, essa suscetibilidade média vai diminuindo, vai desacelerando o crescimento de casos, vai fazer a epidemia menor. O limiar de imunidade coletiva portanto também vai ser menor.” [G1]
E olha a doideira:
“O limiar de imunidade coletiva não depende, diz Gabriela, das intervenções. O que depende é o tamanho da epidemia. O modelo não diminui, portanto, a importância dessas intervenções, mas as coloca noutro contexto. “Não é porque se atingiu o limiar da imunidade coletiva que tudo para. Ela é atingida quando a epidemia está mais ou menos no pico, mas até terminar ainda acontecem casos dali abaixo”, diz Gabriela. É justamente na descida da curva que máscaras e distanciamento se tornam cruciais para eliminar todo e qualquer contágio. “Sem as medidas de distanciamento, o número de casos seria praticamente o dobro do limiar da imunidade coletiva. Com as medidas de distanciamento, conseguimos terminar a epidemia com poucos mais casos”, afirma Gabriela. “Graças a essas medidas, portanto, o tamanho da epidemia vai ser bem menor.”
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10. 5G

Nada como a arrogância diplomática americana.
“O embaixador dos Estados Unidos, Todd Chapman, disse que “haverá consequências” para o Brasil caso o país permita que a gigante chinesa de tecnologia Huawei forneça equipamentos para a rede 5G, cujo leilão está previsto para 2021. Ele sugeriu que empresas americanas poderiam deixar o Brasil, por temer que seus segredos de propriedade intelectual não estejam protegidos.” [O Globo]
Aham, vão embora sim e deixar o vazio para chineses e europeus, tá bom.
“É um tema bastante importante para o mundo. É a próxima geração de telecomunicações que será a base da revolução tecnológica que vai beneficiar a todos. Nosso interesse é que essa tecnologia seja usada para promoção de atividades econômicas, avanço da sociedade e para o bem de nossos princípios, como a democracia. E que essa tecnologia não seja usada para reprimir a sociedade, como estamos vendo em vários regimes autoritários no mundo.”
Isso enquanto Trump dá um show autoritário e manfestantes em NY são literalmente sequestrados pela polícia federal à paisana do Trump.
“A tecnologia deve liberar e não reprimir as pessoas. É importante que os fornecedores de um produto tão sensível tenham os mesmos princípios que você. Por isso, a posição dos EUA e nosso alerta para nossos amigos e aliados, como o Brasil, é saber com quem se está trabalhando. Nós já sabemos que Huawei e outras empresas da China, como a ZTE, têm a obrigação, por lei, de entregar toda a informação que passa por elas. Trata-se da segurança nacional dos Estados.”
Disse o sujeito do país da NSA.
“A seleção de fornecedores do 5G não é, para nós, uma questão comercial. Nós não temos uma empresa puramente americana que esteja competindo. Isso não é para ganhar US$ 1 bilhão. É um assunto de segurança nacional. Muitos países já decidiram excluir a Huawei por questão de segurança, como Austrália, Japão e Inglaterra, por exemplo. E esse número é crescente porque mais pessoas estão fazendo a mesma análise, vendo o comportamento da Huawei de roubar propriedade intelectual. A Inglaterra disse que vai tirar tudo da Huawei de seu sistema nos próximos anos. E isso vai custar um pouco de dinheiro, mas não tanto como as pessoas estão falando. Na Europa, para substituir todo o equipamento da Huawei em 5G serão US$ 3,5 bilhões. São US$ 7 por usuário.”
E se o Brasil fehar coma  Huawei?
“Eu diria que represálias não, consequências sim. Cada país é responsável por suas decisões. As consequências que estamos vendo no mundo é que há um receio de empresas que estão baseadas na propriedade intelectual de fazer investimentos em países onde essa propriedade intelectual não seja protegida. Primeiro, a informação não estará segura. A qualquer hora, o governo chinês pode pedir à Huawei que a informação seja mandada a eles. O segundo ponto é que, ao fazer um investimento, você tem que decidir para onde vai. Os que estão investindo em farmacêuticos, em software, olham isso. Nossa economia é baseada em serviços. A maior exportação dos EUA é inteligência, propriedade intelectual. Temos que proteger nossa propriedade intelectual. E o Brasil tem que fazer o mesmo. Ou vai continuar exportando produtos primários, e não de alta tecnologia.”
O embaixador foi perguntado sobre o tuíte de Eduardo Bolsonaro e que vaselina do caralho:
“Eu sou um grande defensor da liberdade de expressão. E todos têm a habilidade de falar sobre quem eles estão pró e contra como eles quiserem, e não vou dizer para alguém que eles não devem falar bem ou mal do meu presidente. Podemos falar sobre isso, sobre eleições. Eu defendo os direitos da nossa Constituição e de todos os que acreditam neles, inclusive aqui no Brasil: direitos de expressão, liberdade de imprensa, de religião. Tudo isso é importante para países democráticos que defendem a liberdade. E, olha, tem muitos que não defendem isso.”
O jornalista não perdoa e manda na lata: “Mas se o presidente russo Vladimir Putin dissesse que torce por Trump, o senhor ficaria incomodado, não?”.
“Isso depende dele. Nem quero falar sobre o senhor Putin nem sobre outros líderes autoritários no mundo. Vou deixá-los para lá.”
Eu tava pensando o quão absurdo era o embaixador americano sair em defesa do absurdo, e o Eliot, o parlamentar americano, ficou puto:
“Ninguém está contestando o direito de Eduardo Bolsonaro falar livremente, mas as eleições dos EUA são para os americanos decidirem. Depois de tudo o que aconteceu na eleição de 2016, o nosso embaixador não deveria saber disso? Os comentários do embaixador Chapman são extremamente decepcionantes” [G1]
E essa análise aqui do ex-embaixador do Brasil em Washington, Rubens Barbosa, sobre o tuíte do filho presidencial mostra o quão tóxico Bolsonaro é:
“Me ocorreram duas coisas sobre o episódio: primeiro que o apoio acabou sendo um “fogo amigo”: Bolsonaro não é muito próximo de Trump, a própria campanha de Trump não quer que ele se aproxime. A outra é que, na visão americana, os países não têm amigos, têm interesses. O fato de ser amigo do Trump não quer dizer que você esteja acima de tudo.” [O Globo]
Eduardo tentou se defender e piorou tudo:
“Na tarde de terça-feira, Eduardo Bolsonaro, em uma série de postagens no Twitter, afirmou que aquela era “a posição individual do seu presidente [da comissão], o congressista de esquerda Eliot Engel (Partido Democrata)”, e até criticou o acordo sobre o programa nuclear iraniano, fechado em 2015 no governo de Barack Obama. Ao defender seu apoio a Trump, o deputado o comparou a iniciativa à adotada por governos de esquerda na América Latina no passado. “O que acontece nos EUA repercute no mundo e é inaceitável cobrar de mim uma posição não de neutralidade, mas de omissão, já que quando Lula, Chávez, Maduro, Evo, Kirchner, Correa, Bachelet e Castros se apoiavam mutuamente ninguém falava nada.” O deputado afirma que “as relações Brasil-EUA estão acima das pessoas e independentemente do vitorioso nos EUA em 2020 trabalharemos para manter essa boa relação”, mas ele acrescentou que se dá o direito de manter suas “convicções pessoais”.” [O Globo]
E aqui vai uma boa lembrança, é absurdo Bolsonaro se meter nas eleições amerianas da mesma forma que foi absurdo o Lula fazer isso aqui – e uma coisa é mostrar torcida, o que já é suficientemente errado, outra é mostrar torcida e dinamitar todas as pontes com a candidatura rival.
“Embora o alinhamento do governo do Brasil ao líder de uma potência seja algo inédito, o apoio a candidatos aliados em outras nações já ocorreu. Na primeira década do século XXI, o então presidente Lula deixou clara sua preferência por candidatos da esquerda em países vizinhos. Em 2005, por exemplo, a duas semanas das eleições presidenciais na Bolívia, ele fez elogios a Evo Morales durante reunião com o igualmente aliado Néstor Kirchner. Na época, Evo tentava o primeiro mandato. — Olha o que significou a eleição do (Hugo) Chávez na Venezuela. Imagine o que significa se o Evo Morales ganhar as eleições na Bolívia. São mudanças tão extraordinárias que nem mesmo os melhores cientistas políticos dos nossos países poderiam ter escrito — disse à época. Ao contrário de Bolsonaro, no entanto, não houve um esforço deliberado para “queimar pontes”. Dilma Rousseff, por exemplo, se encontrou com Mauricio Macri dias depois de ele ter sido eleito na Argentina em 2015. Na época, Macri derrotou Daniel Scioli, candidato kirchnerista que tinha a simpatia da presidente. No caso de Bolsonaro, o presidente se envolveu diretamente na campanha de reeleição de Macri, a ponto de alguns assessores do argentino sugerirem um distanciamento por conta da alta rejeição do brasileiro no país. Ele chegou a dizer que haveria um “êxodo de argentinos” rumo ao Brasil em caso de vitória de Alberto Fernández, que tinha a ex-presidente Cristina Kirchner como sua vice. Bolsonaro não foi à posse de Fernández, tampouco telefonou para parabenizá-lo pela vitória. O dois só se encontraram de forma virtual no começo de julho, na reunião de cúpula do Mercosul.”
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11. UE

Boa entrevista com Durão Barroso, ex-premiê de Portgual e ex-presidente da comissão européia por 10 anos – o assunto, claro, é o acordo para enfrentar a pandemia a duras penas, aos 49 do segundo tempo:
“Não gosto de banalizar a palavra “histórico”, hoje usa-se demais esse adjetivo. Mas ele abre a porta para maior interação. Mais alguns tabus foram quebrados, linhas vermelhas foram ultrapassadas. Na prática, houve uma mutualização de dívida, num montante inédito, de 750 bilhões de euros, com pagamento até 2058, e transferências diretas de 390 bilhões de euros. Estamos já a entrar naquilo a que alguns chamam de união orçamental. Não é isso ainda, mas foi um passo importante.” [Folha]
E essa mudança da Merkel foi significativa:
Quando eu propus os eurobonds, em 2011, a sra. Merkel disse que [a aprovação] só [ocorreria] por cima do seu cadáver [principal defensora da política de austeridade na crise financeira global, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, foi uma das principais apoiadoras do pacote de ajuda recém-aprovado]. Mas a União Europeia caminha assim, por uma via incremental, passo a passo. Só que às vezes dão-se passos maiores, e este foi um grande. Um dos pais da União Europeia, Jean Monnet [1888-1979, empresário e diplomata francês], dizia que a Europa vai se construir como resposta sucessiva a crises sucessivas, e é o que está a passar. A última crise financeira nos permitiu avançar com coisas que na altura eram impensáveis, como o Mecanismo Europeu de Estabilidade. Agora, não é ainda o nosso Momento de Filadélfia [quando se escreveu a Constituição dos EUA, em 1787]. Há dois erros típicos sobre a Europa. Os mais eurocéticos estão sempre à espera da desintegração da Europa. Mas sua resiliência, e a do euro, são muito maiores que o reconhecido. Outro erro muito comum é o dos mais federalistas, da chamada “bolha de Bruxelas” [cidade que concentra várias das instâncias decisórias da UE], sempre achando que vamos a ser os EUA da Europa. Vai ser algo a meio caminho.
Europa tá numa ecnruzilhada:
“Outros fatores são a posição cada vez mais assertiva da China e a posição cada vez mais imprevisível dos EUA. O nível de confiança europeia hoje nos EUA é muito baixo, estamos no pior momento das relações transatlânticas pelo menos desde o fim da Segunda Guerra. Na atual administração americana, os EUA estão de fato a abandonar uma ordem global da qual são os principais “share holders” [acionistas] e de que foram os principais criadores… A UE está de certa forma a assumir que perdeu a sua inocência. Não é apenas um espaço, quer ser uma potência. Mas há um trabalho a fazer. À União Europeia falta-lhe ainda a capacidade de projetar poder em termos geopolíticos, nomeadamente na política de defesa e segurança, e em certa medida na política externa. Dito isso, não há dúvida de que a União Europeia hoje conta muito mais do que contou no passado. Muitos têm um saudosismo da Europa imperial, mas eram impérios em conflitos, que levaram a duas guerras mundiais.”
Sobre a sempre ameaçada saída da Itália:
“Não posso dizer “nunca”, mas, no futuro previsível, a Itália não vai deixar a UE. Sua vinculação econômica à França ou à Alemanha é enorme. Seria um desastre completo. O problema é que os diferentes governos europeízam o fracasso e nacionalizam o sucesso. E há o contrafactual: o que seria para a Europa termos os países todos a competirem sem os mecanismos de solidariedade que há hoje? A UE não é perfeita, mas, comparando às alternativas, é a melhor opção.”
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12. Um Trump Muito Louco

Que pérola isso aqui, puta que pariu!
E o medo que Trump tem do Putin?!
A tragédia cobrará seu preço na eleição:
“Em 18 de março deste ano, Donald Trump se declarou um presidente em guerra contra “o inimigo invisível” do coronavírus e invocou a Lei de Produção de Defesa. Agora, o chefe da Casa Branca enfrenta o lado negativo de presidir o país durante uma guerra: as baixas nos Estados Unidos. Desde o dia em que fez essa declaração, a Covid-19 matou quase 150 mil americanos, muito mais do que os que morreram nas guerras mais recentes do país juntas. Dados de mais de 328.692 entrevistas em 3.025 condados dos Estados Unidos sugerem que as mortes relacionadas ao coronavírus, como baixas de guerra, prejudicam o índice de aprovação do presidente e podem custar votos a ele e a seu partido. A diferença entre o apoio declarado a Trump e ao seu adversário, Joe Biden, cresce cerca de 2,5 pontos percentuais a favor do democrata quando um condado tem níveis extremamente altos de mortes relacionadas ao coronavírus, em comparação com aqueles em que ele tem níveis baixos.
Essas alterações podem ocorrer dentro de uma região à medida que o número de óbitos ligados ao vírus muda, ou entre elas a qualquer momento. Por exemplo, as mortes pela Covid-19 explodiram no condado de Wayne, em Michigan, em abril, que teve uma expansão de 1,25 ponto na diferença entre Trump e Biden. Os casos no condado de Maricopa, no Arizona, quase quadruplicaram nos últimos dois meses, indicando um aumento de 0,6 ponto na diferença de intenção de votos entre os candidatos. Já em lugares que tiveram pouco impacto da Covid-19, como Wyoming e alguns estados das Grandes Planícies, os dados mostram que Trump continuou se saindo bem e, em alguns casos, até atraiu mais eleitores nos últimos meses. Pandemia: Redes sociais retiram postagem replicada por Trump por promover desinformação sobre o novo coronavírus Os republicanos que concorrem à Câmara e ao Senado perdem tanto apoio quanto Trump quando as mortes aumentam localmente. Pesquisas mostram que quando as pessoas são mortas em ação durante a guerra, os moradores do local de origem das vítimas tendem a responsabilizar os líderes eleitos no Congresso e na Casa Branca.
Cientistas políticos apontam que isso aconteceu nas eleições presidenciais e intermediárias durante a Guerra Civil, a Guerra do Vietnã e as guerras no Iraque e Afeganistão. As mortes relacionadas ao coronavírus parecem ter um efeito semelhante. Tendências partidárias também influenciaram pontos de vista sobre as atuais crises do país. Dados de julho do Pew Research Center mostram uma grande polarização entre democratas e republicanos em relação ao coronavírus. Apenas 46% dos republicanos dizem que o surto é uma grande ameaça à saúde pública dos EUA, em comparação com 85% dos democratas que afirmam isso.” [O Globo]
Eu não sei se o mais espantoso é mais da metade dos republicanos ignorarem o impacto brutal da pandemia ou os 15% de democratas que concordam com a maioria republicana.
A matemática mórbida:
‘O dobro de casos per capita em um condado nos últimos 60 dias reduz a diferença de voto de Trump contra Biden em um terço de ponto percentual — algo aparentemente pequeno, mas não quando se considera que várias eleições recentes foram vencidas por margens estreitas. Em 2016, Michigan, considerado estado-chave, foi vencido por menos de um terço de um ponto; Wisconsin e Pensilvânia foram vencidos por menos de um ponto. E alguns lugares estão vendo seus casos triplicarem ou quadruplicarem. As notícias para os republicanos que concorrem ao Congresso americano são igualmente ruins. Várias votações para o Senado estão acontecendo em estados que sofreram aumentos recentes nos casos da Covid-19, incluindo Geórgia, Arizona e Carolina do Norte. No Arizona, por exemplo, a diferença entre a senadora Martha McSally, republicana, e seu desafiante democrata, Mark Kelly, continua a crescer à medida que o estado supera 3.300 mortes relacionadas ao vírus (bem acima dos 941 registrados em 2 de junho). As mortes locais pelo vírus custam tanto aos republicanos que concorrem ao Senado quanto ao presidente, em um ano em que o partido luta para manter a maioria na Casa.”
Se os republicanos perderem na Georgia é pra dar festa e os caralhos.
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>>>> Eita porra: “O retorno do coronavírus a Pequim fez as autoridades daquele país adotarem medidas que poderão afetar as exportações brasileiras de carnes para a China. O vírus teria passado por uma mutação na Europa e chegado à China no salmão. Por isso, os chineses estão acelerando a inspeção de alimentos frescos e de carnes congeladas. Com essas exigências, os importadores terão de fazer testes em amostras de carne no desembarque, o que tornam incertas as importações. Até que as coisas fiquem mais claras, os importadores chineses estão solicitando um retardamento nos embarques brasileiros, segundo alertou comunicado da Embaixada do Brasil em Pequim.” [Folha]
>>>> Aham: “Num documento remetido ao TCU (Tribunal de Contas da União), a Petrobras afirmou que quase 2 milhões de anúncios com sua marca foram indevidamente veiculados em sites cujo conteúdo pode ser impróprio. A informação foi enviada à corte no âmbito de um processo para analisar denúncias de pagamento, pela estatal, de propaganda em páginas de internet e canais do YouTube que espalham fake news e ataques ao STF (Supremo Tribunal Federal). O caso será julgado nesta quarta-feira (29). O tribunal decidirá se cabe ou não aplicar medida cautelar proibindo a companhia de anunciar em sites, blogs, portais e redes sociais que promovem desinformação e difamam personalidades. Ao responder a questionamentos do TCU, a Petrobras afirmou ter feito uma revisão de suas campanhas na web nos últimos anos, descobrindo que, por um suposto erro de uma empresa prestadora de serviços, as peças foram publicadas em sites que estão fora da lista por ela autorizada e homologada pela Secom (Secretaria de Comunicação Social), atualmente vinculada ao Ministério das Comunicações. A relação de páginas nas quais a propaganda pode ser exibida, conhecida como “whitelist”, é feita previamente e dela são excluídas aquelas de conteúdo considerado impróprio, como sobre sexo, drogas e pirataria, além das que veiculam fake news. A associação a elas implicaria dano à imagem da estatal. Um dos sites que receberam anúncios é o do Jornal da Cidade Online, conhecido por propagar notícias falsas favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao menos desde as eleições de 2018. Ele é um dos alvos do movimento Sleeping Giants Brasil, lançado em maio no país, cujo objetivo é demover empresas de anunciar em espaços de preconceito e desinformação.” [Folha]
>>>> As insitituições estão zzzzzz: “A prerrogativa de fiscalizar foi deixada em segundo plano pelo Congresso neste ano. Dos 87 requerimentos de convocação de autoridades do Executivo, apenas um foi aprovado pelo Senado. Somente na Câmara, foram 66 pedidos e só um está pronto para ser votado pelo plenário, o do ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni. A oposição atribui a Rodrigo Maia (DEM-RJ) o engavetamento dos pedidos. A interpretação é de que o presidente da Casa não quer “criar caso” e adota a linha de não ser nem o maior opositor ao governo nem o maior aliado. À Coluna, Rodrigo Maia disse: “A pauta da Câmara é uma construção entre o presidente e os líderes partidários. Ninguém consegue pautar tudo. Pergunte aos líderes de esquerda se eles não foram atendidos nas pautas da Câmara”. O único requerimento de convocação aprovado pelo Senado foi para chamar o então ministro da Educação Abraham Weintraub a explicar as políticas adotadas pela pasta. Os senadores também apresentaram oito convites nesse período, sendo que apenas dois foram aprovados pelo plenário. Um deles, resultou na participação do ex-ministro da Saúde Nelson Teich em uma sessão e o outro, aprovado em julho, foi ao vice-presidente Hamilton Mourão. O PSOL e o PT foram os que mais apresentaram requerimentos na Câmara, 26 cada. Eles são seguidos pelo PSB, que apresentou 19. A maior parte deles depende ainda de despacho de Rodrigo Maia.” [Estadão]
>>>> A última dos Trapalhões: “A propagandeada mudança de sede da Fundação Palmares trouxe algumas surpresas. A EBC cedeu um prédio gratuitamente à entidade, mas o contrato firmado implicou gastos que não estavam nos planos inicialmente. O documento estabelece que caberá à Palmares arcar com os custos do prédio que ocupará e de outro, anexo, que continuará sendo usado por funcionários da EBC. Entre as contas, estão a de água, luz, obras de acabamento e fiação, segurança e até copa.” [Estadão]
>>>> Vai dar merda: “Sonia Racy 29 de julho de 2020 | 00h55 Nessa confusão onde a JBS foi excluída de todo o portfólio de investimentos do Nordea por causa no quesito ESG – isto é, problemas na área ambiental, social e de governança corporativa e a resposta ríspida ao fundo sueco, há um fato que não esta sendo analisado pelas indústrias. Os históricos 30% de abate anual de vacas ultrapassou a casa dos… 40% até o momento. Esse número foi estipulado pelo mercado como forma de se manter o equilíbrio na reprodução do rebanho brasileiro. O forte abate de matrizes pode significar falta de carne ano que vem. Como lembra sempre uma alta fonte do setor, “no negócio de carne, diferente de outros, é a oferta (de boi no País) que determina quais frigoríficos vão sobreviver ou morrer no ano. E não o contrário”. Uma subversão da lógica de mercado.” [Estadão]
>>>> O que dizer disso aqui, Brasil?!

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