E a cabeça do ministro da Justiça não rolou

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1. Que nome se dá a quem persegue antifascistas?

É surreal como o Brasil está anestesiado. A notícia do excelente Rubens Valente saiu na sexta e não vi ninguém relevante exigindo a cabeça do “ministro terrivelmente evangélico“. Nos acostumamos com o grotesco, não há qualquer reação equivalente ao absurdo, a cabeça do ministro nem rolou, e esse deveria ser apenas o primeiro capítulo da novela:
“Criada na gestão do ex-juiz Sérgio Moro com a missão de integrar operações policiais contra o crime organizado, redes de pedofilia, homicidas e crimes cibernéticos, a Secretaria de Operações Integradas (Seopi) do Ministério da Justiça e Segurança Pública passou por uma remodelagem e, sob comando de André Mendonça, começou a ter como foco a investigação e produção de relatórios sigilosos a respeito de opositores políticos do presidente Jair Bolsonaro. Conforme revelou o Blog do Rubens Valente, do portal UOL, na sexta-feira, a mais recente investida da Seopi foi a produção de um dossiê contra 579 servidores federais e estaduais da área de segurança e professores identificados como integrantes do “movimento antifascismo”. Na lista de investigados, cuja existência foi confirmada pelo Estadão, constam profissionais da segurança e da docência de todas as regiões do País. A mudança das atribuições da Seopi teve início logo após a nomeação de André Mendonça como ministro da Justiça, no dia 28 de abril deste ano.” [Folha]
Sabe quando foi a reuniao ministerial, aquela em que Bolsonaro criticou os canais oficiais de inteligência e se vangloriu de sua “inteligência pessoal” na frente dum punhado de generais mudos? 22 de abril.
Sim, 6 dias antes da mudança de rumo da Seopi.
“Um agente que integra o órgão desde a sua criação, ainda na gestão de Sérgio Moro, relata que a missão da Seopi, antes, era produzir inteligência e realizar operações, mas “o foco era outro”. Segundo ele, não existia, sob o comando de Moro, qualquer orientação para produção de relatórios contra inimigos políticos. O funcionário público, que é oriundo da carreira militar, relata ainda que uma das grandes operações da Seopi foi coordenar a transferência dos líderes do PCC para presídios federais ao longo do ano passado. Na atual gestão, com Mendonça na chefia da pasta da Justiça, há orientação “expressa”, segundo esse profissional, para produção de relatórios com dados detalhados das pessoas monitoradas. Conforme mostrou o UOL, a Seopi não submete todos os seus relatórios a um acompanhamento judicial. Assim, vem agindo nos mesmos moldes dos outros órgãos que realizam normalmente há anos o trabalho de inteligência no governo, como o Centro de Inteligência do Exército e o Gabinete de Segurança Institucional (GSI).
O relatório foi confeccionado poucos dias depois da divulgação, no dia 5 de junho, de um manifesto intitulado “Policiais antifascismo em defesa da democracia popular”, assinado por 503 servidores da área de segurança de todo o Brasil. O documento ficou pronto na primeira quinzena de junho. Em páginas nas redes sociais, grupos de professores e policiais condenaram a informação de que grupos críticos ao governo viraram alvo de investigação sigilosa. A página Policiais Antifascismo, por exemplo, tem 19 mil seguidores no Facebook. Ao ser questionada sobre o dossiê contra professores e policiais, a pasta disse que não comentaria, especificamente, o caso, mas destacou que as atividades de investigação, por parte da Seopi, são uma atribuição de “rotina”. “
“Não comentaria especificamente”, conhecereis a verdade e bça bla bla.
O presidente os policiais antifascistas são “MARGINAIS, TERRORISTAS” – esse vídeo é de 3 de junho
“São marginais no meu entender, são terroristas.”
O capitão que iria explodir uma bomba na represa do Guandú chamando os outros de terroristas é sempre espantoso.
Quando li sobre isso na sexta fiquei esperando ansiosamente pela coluna do Marcelo Godoy e não foi em vão:
“A saída do olavismo de parte do primeiro escalão criou um novo desafio para os militares do governo. Após a demissão de Abraham Weintraub na Educação e com os insucessos do gabinete do ódio para emplacar novos ministros, a responsabilidade pelas ações polêmicas do governo passou a ser de coronéis e generais. São eles que coordenam os trabalhos na Amazônia – o vice-presidente Hamilton Mourão – e o combate à pandemia de covid-19 – Eduardo Pazuello. Na semana passada, surgiu um novo nome de militar enredado nos imbróglios do bolsonarismo: o coronel Gilson Libório de Oliveira Mendes. Ele é o chefe da Diretoria de Inteligência (Dint) da Secretaria de Operações Integradas (Seopi), no Ministério da Justiça, no momento em que a gestão do ministro André Mendonça é acusada de transformar a Seopi em órgão de vigilância e controle de opositores políticos. Oficial da Arma de Infantaria da turma de 1982 da Academia Militar das Agulhas Negras, Libório era major quando foi trabalhar na Casa Militar em 1998, que tinha então as funções do Gabinete de Segurança Institucional. Como tenente-coronel, foi designado para o gabinete do comandante do Exército, onde ficam o Centro de Informações e o de Comunicação Social (no chamado “gabinetão”) e as assessorias de pessoal, jurídica, parlamentar e de finanças do comandante (no “gabinetinho”).
Autorizado pelo general Francisco Albuquerque, então comandante do Exército, a exercer, ainda na ativa, uma função civil no Ministério da Justiça, Libório foi trabalhar em 2004 no Departamento de Recuperação de Ativos e de Cooperação Internacional (DRCI), um dos mais importantes órgãos de combate à lavagem de dinheiro e ao crime organizado. Permaneceu ali até 2007, quando rumou para a Controladoria Geral da União. O coronel só se tornaria conhecido fora dessa comunidade quando se tornou secretário-executivo do Ministério da Justiça, em 2018, na gestão de Torquato Jardim. Com Bolsonaro no poder, Libório foi parar na Advocacia-Geral da União (AGU). De lá voltou para a Justiça, acompanhando o chefe terrivelmente evangélico. Foi quando a Seopi mudou. E virou – segundo os críticos – uma “Abin paralela”” [Estadão]
Marcelo Godoy falou sobre o currículo de um subversivo professor:
“Um dos professores citados é Paulo Sérgio Pinheiro. Para quem não o conhece, Pinheiro era secretário nacional de Direitos Humanos do governo de Fernando Henrique Cardoso quando a Organização das Nações Unidas (ONU) o nomeou relator para os direitos humanos no Burundi, em 1995, logo após o genocídio de Ruanda. Mais tarde, ele exerceria o mesmo cargo em Mianmar e, em seguida, presidiria a Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre a Síria, entregando ao Conselho de Segurança da ONU seu relatório sobre os delitos contra a população cometidos na guerra civil. Respeitado pela atuação contra violações dos direitos humanos em todo o mundo, Pinheiro foi vítima em seu próprio País. Acabou exposto em relatório policialesco, como se fosse apoiador de criminosos, por gente que usa a função pública para atender a interesses do governo de plantão. O relatório, revelado pelo repórter Rubens Valente, do Uol, atinge Pinheiro, que integrou no País a Comissão Nacional da Verdade e a Comissão Arns de Direitos Humanos. “O que não se poderia imaginar era que o próprio ministro da Justiça, sem nenhum pudor, patrocinasse ação de vigilância e de intimidação, com dossiês, fotografias e tudo mais, com dinheiro público, contra servidores do Estado e professores como Paulo Sérgio Pinheiro”, afirmou a Comissão Arns. Para a Comissão Arns, a Seopi pratica “ações insidiosas contra o Estado de Direito e os que o defendem”. É preciso lembrar aqui por que o antecessor de André Mendonça deixou a Pasta. Sérgio Moro afirmou ter pedido demissão porque se recusara a intervir politicamente na Polícia Federal para nomear, a pedido do presidente, um chefe para a PF do Rio que não f… os filhos e amigos de Bolsonaro. Moro entregou o cargo para não entregar a cabeça de Maurício Valeixo, diretor da PF. Vieram depois as polêmicas sobre a gravação da reunião presidencial e as decisões do STF. Bolsonaro parecia repetir o presidente americano Richard Nixon.”
“Em 20 de outubro de 1973, Nixon ordenou ao secretário de Justiça, Elliot Richardson, que demitisse o procurador especial do caso Watergate, Archibald Cox, que intimara o presidente a entregar gravações feitas na Casa Branca. Richardson se negou e se demitiu. Seu vice, William Ruckelshaus, fez o mesmo. Nixon teve de buscar um funcionário de terceiro escalão para demitir Cox. O Saturday Night Massacre – como o episódio ficou conhecido – abriu o caminho para o impeachment do presidente americano. Em poucos dias, o Congresso de maioria democrata instauraria o processo e a Justiça reconduziria Cox ao cargo. Fazia três meses da demissão de Moro quando o caso Seopi veio à tona. O governo parece não ter aprendido nada com a saída de seu mais popular ministro. Nem se detém diante das investigações do STF e do Ministério Público Federal. Seria esperar demais que aprendesse algo com a história. Mas quem é que precisa estudá-la, quando se tem o Centrão? A gestão continuará da mesma forma, assim como Bolsonaro. Em silêncio ou não. Até o fim do governo. Não importa quem assessora o presidente, quem o representa ou quem faz o serviço para o chefe.”
Enquanto isso, o governo que persegue antifascistas jura paz e tem quem caia.
Essa entrevista do Fábio Faria explana o quão alucinado é (era, na versão dele) o presidente da República:
“Essa (mudança de postura presidencial) é uma decisão dele. Agora, ele tem muitos conselheiros. Eu defendi, falei isso no meu discurso de posse, um armistício nacional, uma pacificação em prol do Brasil. O governo precisa de paz para governar, e as pessoas também querem paz. Temos grandes desafios: a pandemia e a retomada econômica. Então vamos focar nisso e deixar as guerras de lado. O presidente entrou como um governo de direita, conservador e liberal, e nós vínhamos de 14 anos de um governo de esquerda, que teve uma pequena transição com Michel Temer, que foi reformista. Então é normal dar um conflito grande.” [O Globo]
É raro alguém do governo lembrar do Temer, pela retórica governamental é como se Bolsonaro tivesse sucedido a Dilma, pegado um país arrebentado. Mas Temer estava no estilo “passar a boiada do Salles”, o ex-presidente apenas aprovou a reforma trabalhista e só não aprovou a previdenciária por conta do Joesley. DEM na Educação, Meirelles na Fazenda, era direita pra caralho, inclusive entrou um bando de milico no governo antes mesmo do Bolsonaro subir a rampa, não existe essa “normalidade de conflito“, é estupidez do governo mesmo.
“As pessoas elegeram a pauta conservadora liberal, e o Bolsonaro tem o direito de apresentá-la e implementá-la. Ele não pode ser atacado por isso. Mas também não podem atacar quem é contra essa pauta no Congresso, porque os parlamentares também foram eleitos. A pacificação não significa refluir nas pautas, muito pelo contrário, é pacificar para tentar implementar.”
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2. Malditos milicos

Lá vem os milicos cumprindo ordens absurdas:
“Após o presidente Jair Bolsonaro ter determinado a revogação de portarias com regras para rastreamento de armas de fogo e munições, o Exército prepara novas versões do texto sob críticas tanto de especialistas em segurança pública quanto de representantes dos CACs (caçadores, atiradores esportivos e colecionadores). Para os especialistas, as minutas das novas portarias, apresentadas em consulta pública no início de julho, têm retrocessos em relação às normas originais e pioram o controle sobre marcação, importação e exportação de armas, o que dificulta a resolução de crimes. Já os CACs reclamam de obrigações a usuários de armas que foram mantidas e também do prazo relâmpago da consulta do Exército, que durou apenas seis dias.” [O Globo]
Seis dias, porra. E nem fodendo Bolsonaro quer tornar público as visitas de lobistas da indústria das armas pois colocaria em risco “a segurança do chefe do Execeutivo“:
“Duas ações no Supremo Tribunal Federal (STF), que têm como relator o ministro Alexandre de Moraes, alegam que Bolsonaro defendeu interesses privados ao revogar as portarias 46, 60 e 61 do Colog (Comando Logístico do Exército), no dia 17 de abril, e pedem que as normas voltem a valer. Naquela data, em mensagem nas suas redes sociais, Bolsonaro se dirigiu a “atiradores e colecionadores” e afirmou ter determinado a revogação dos textos “por não se adequarem às minhas diretrizes definidas em decretos”. Os textos ampliavam as regras de controle para armas e munições sob responsabilidade de fabricantes, órgãos de segurança e pessoas registradas como CACs junto ao Exército, além de determinarem a criação do SisNaR, um sistema unificado para o rastreamento desses produtos em todo o país. Um dos pontos suprimidos na nova minuta foi a necessidade de marcação, com um código para rastreabilidade, de estojos usados com recarga de munição.”
Sim, a redação mais recente das portarias não tinha a palavra “RASTREAMENTO“, porra!
“O dispositivo presente na portaria original havia sido atacado por CACs, que alegaram que esta exigência “inviabilizaria” a prática de tiro esportivo, já que atiradores costumam reutilizar estojos depois de competições para baratear custos. A nova minuta também afrouxou as regras de marcação de armas e de manutenção dos registros de venda por fabricantes. Outro item que sumiu no texto foi a identificação do nome do importador em armas vindas do exterior. À época em que as portarias foram revogadas, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) classificou como “inadmissível que o Colog faça portarias restringindo importação”.
— Quando se comparam os textos, percebe-se que a maior parte das mudanças foi para retirar novas responsabilidades que melhoravam marcação e rastreio de armas. A qualidade das informações também se perdeu. Coincidentemente, os beneficiários em vários pontos são a indústria bélica ou entes privados como os CACs, no caso da marcação na recarga — afirmou Bruno Langeani, gerente de projetos do Instituto Sou da Paz.
Segundo a pesquisadora do Instituto Igarapé, Michele dos Ramos, o Exército não apresentou justificativas técnicas para a embasar a revogação das portarias e a redação das novas minutas. Na avaliação da especialista, o governo priorizou objeções apresentadas por grupos específicos, como os atiradores esportivos, e abriu brechas para desvios de armas e munições. — Estamos falando de marcação de munições usada por forças de segurança pública. Quando se fala em um sistema para armas e munições, é preciso lembrar que desde o Estatuto do Desarmamento de 2003 há uma previsão de integração dos registros mantidos por Polícia Federal e Exército. Isso até hoje não aconteceu, o que prejudica investigações. Não dá para pautar uma discussão como essa por privilégios para determinadas classes, que vão na contramão do fortalecimento da fiscalização — afirmou a pesquisadora.”
E ai de quem ousar contrariar o presidente:
“Responsável pelas normas originais, o general Eugênio Pacelli teve sua exoneração da Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados (DFPC) publicada em Diário Oficial uma semana após a publicação da primeira portaria que desagradou Bolsonaro. Em carta de despedida, Pacelli desculpou-se por não atender “interesses pontuais”.  O Exército argumenta que a ida de Pacelli para a reserva estava prevista desde a reunião do Alto Comando em março.”
Então tá, né? Nada a ver com a tara presidencial por armar a população. Sabe quantos generais recriminaram a confissão presidencial naquela fatídica reunião ministerial?
Tem um Almirante que me lembra demais o Heráclito Fortes e nem fodendo quer ir pra reserva ou voltar para a Marinha, a Folha fez um perfil dele:
“A fase “paz e amor” do presidente Jair Bolsonaro, que tem evitado desde o mês passado uma conduta agressiva e uma postura beligerante, teve a influência de uma personagem dos bastidores do Palácio do Planalto que se tornou peça-chave da atual gestão. Apelidado de “a sombra do presidente”, o almirante Flávio Rocha, 57, tornou-se em seis meses, desde que ingressou no governo, um dos principais conselheiros e articuladores do chefe do Poder Executivo, com participação em decisões estratégicas e acesso livre ao gabinete presidencial. Descrito como “discreto”, “sociável” e “apazigua​dor”, o secretário de Assuntos Especiais da Presidência da República atuou para arrefecer crises recentes, ajudou na sucessão do Ministério da Educação e coordenou a transição do Ministério da Saúde em meio à pandemia do coronavírus. Segundo auxiliares presidenciais, quando se trata de um assunto delicado e que não pode vazar para veículos de imprensa, o almirante é sempre o nome escalado pelo presidente para atuar na linha de frente, incluindo crises institucionais com o Judiciário e o Legislativo. Em conversas reservadas, o presidente já disse a militares do governo que confia no almirante e que o lugar dele, mesmo na ativa, está garantido no Palácio do Planalto.
Segundo cálculo informal de auxiliares palacianos, o almirante participa de mais de 90% das reuniões de Bolsonaro no gabinete presidencial. Reconhecido dentro das Forças Armadas pelo conhecimento geral, ele é chamado frequentemente pelo presidente para opinar e aconselhar em temas delicados. O militar foi nomeado para o comando da Secretaria de Assuntos Estratégicos em fevereiro deste ano. Ele foi escolhido para comandar a estrutura em um novo formato, no qual o órgão deixou de ser vinculado à Secretaria-Geral e passou a responder diretamente à Presidência da República. A mudança foi pensada exatamente para que Bolsonaro, conhecido pelo perfil inseguro e desconfiado, trouxesse alguém de extrema confiança para auxiliá-lo, bem como para monitorar temas considerados estratégicos e que não podem ser divulgados.” [Folha]
“Inseguro” e “desconfiado” porque a Folha é elegante, a palavra certa é paranóico.
“Foi neste contexto que o próprio mandatário sugeriu o nome do almirante. Bolsonaro e Rocha se conheceram em 2002, quando o militar era chefe da assessoria parlamentar da Marinha da Câmara dos Deputados. O presidente, que era então deputado federal, se aproximou do militar por defender pautas de interesse das Forças Armadas. Segundo pessoas próximas a ambos, os dois já atuaram juntos, por exemplo, na Credn (Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional). Nesse período, Rocha fez amizade com deputados e senadores de diferentes partidos, o que, segundo amigos do almirante, o ajudaram a hoje atuar na articulação política sempre quando demandado pelo presidente. Após a atuação no Congresso Nacional, Rocha foi chefe de gabinete do ex-comandante da Marinha Leal Ferreira e, no ano passado, comandou o 1º Distrito Naval, que inclui o Rio de Janeiro e, por isso, é considerado o mais importante.
Naquele momento, Bolsonaro já havia se tornado presidente. E o contato entre Rocha e Bolsonaro, que se tornaram amigos, ocorria ocasionalmente quando o presidente visitava o Rio de Janeiro. Em uma dessas ocasiões, Bolsonaro brincou com Rocha que o levaria para trabalhar com ele em Brasília. O convite ocorreu no início deste ano. Em fevereiro, o comandante da Marinha, Ilques Barbosa, levou o nome do almirante ao presidente na lista dos militares que seriam promovidos. Rocha havia chegado ao topo da carreira, com quatro estrelas. Naquele momento, enquanto analisava os nomes, Bolsonaro disse que precisava de um assessor de confiança. Ele disse que pretendia levar o colega da Marinha para ser seu secretário de Assuntos Estratégicos. Com a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça, Bolsonaro chegou a pensar em deslocar Jorge Oliveira, da Secretaria-Geral, para a pasta. Para o seu lugar, cogitou nomear o almirante. No final, desistiu, já que preferiu indicar André Mendonça para o lugar de Moro.
Ainda no início da pandemia do coronavírus, em março, Rocha teve participação ativa na tentativa de arrefecer os embates do Executivo com o Legislativo e o Judiciário. Em mais de um episódio, ele aconselhou o presidente a diminuir o tom e a não responder a críticas. O esforço do almirante, somado aos conselhos dos ministros Fernando Azevedo (Defesa) e Fábio Faria (Comunicações), só tiveram efeito em junho, quando Bolsonaro decidiu abandonar a postura agressiva em meio a um cerco jurídico contra seus filhos. Chamado de Rochinha por pessoas próximas e integrantes do governo, devido à sua estatura baixa, Rocha é considerado um militar culto, ele fala seis línguas, além de bem-humorado e não beligerante. Além do presidente, integrantes da equipe ministerial também costumam pedir conselhos ao almirante.”
E é hilário os generais dizendo que ativa e governo não se misturam e Pazuello e o Almirante ligando o foda-se. Nem controlar os próprios milicos os senis conseguem.
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3. Fake News

Porra, Levy!
“O presidente Jair Bolsonaro pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF), neste sábado, a suspensão de decisões que tiraram do ar nas redes sociais perfis de apoiadores do governo que são investigados no inquérito das fake news. O pedido foi feito por meio de uma ação direta de inconstitucionalidade, assinada por Bolsonaro e pela Advocacia-Geral da União.” [O Globo]
Até tu, Levy?! E a AGU pode arguir uma porra dessa? O processo do Moraes é contra o governo ou Bolsonaro?!
No pedido, o governo argumenta que “o bloqueio ou a suspensão de perfil em rede social priva o cidadão de que sua opinião possa chegar ao grande público, ecoando sua voz de modo abrangente. Nos dias atuais, na prática, é como privar o cidadão de falar”. Em outro trecho, diz que “não se está a defender a prática de ilícitos penais. Ao contrário, o que se busca é que se faça cessar os ilícitos sem que seja imposta medida desproporcional ao exercício das liberdades públicas”. Para o governo, “medidas de suspensão ou bloqueio de contas em redes sociais para fazer cessar o direito de manifestação de investigados configuram-se como desproporcionais e contrárias ao direito à liberdade de expressão e ao devido processo legal, os quais constituem preceitos fundamentais da ordem constitucional”. A ação argumenta ainda que a “desproporcionalidade das medidas de bloqueio das contas em redes sociais é ainda mais evidente quanto a investigados protegidos pela cláusula de imunidade parlamentar. Seja pela importância da utilização da rede social para a comunicação com a população, seja ainda pela inviolabilidade dos parlamentares por opiniões, palavras e votos (art. 53 da Constituição da República), a adoção de medidas cautelares obstativas do direito de manifestação em plataformas cvirtuais limita o livre exercício do mandato popular”.”
A AGU tá saindo em defesa dos parlamentares bolsonaristas, que troço espantoso.
“Bolsonaro fez neste sábado o anúncio nas redes sociais da ação no Supremo. “Agora às 18hs, juntamente com a @AdvocaciaGeral, entrei com uma ADI no STF visando ao cumprimento de dispositivos constitucionais. – Uma ação baseada na clareza do Art. 5°, dos direitos e garantias fundamentais. Caberá ao STF a oportunidade, com seu zelo e responsabilidade, interpretar sobre liberdades de manifestação do pensamento, de expressão, … além dos princípios da legalidade e da proporcionalidade”, escreveu.”
Isso aí é Bolsonaro mandando sinais de fumaça branca aos bolsonaristas que tão putos pois se sentem abandonados.
E a Bia Kicis deve ter ameaçado poucas e boas pra receber a visita presidencial surpresa no sábado.
Duvido ler sem rir:
“Após a visita do presidente da República a sua casa na manhã deste sábado, a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) frisou a importância do “gesto” de Jair Bolsonaro. Bia Kicis foi retirada da vice-liderança do governo na Câmara dos Deputados nesta semana após votar contra a PEC do Fundeb, contrariando a orientação do governo, e por isso perdeu o cargo.
— Ele falou que acha que eu não deveria ter votado contra a orientação. Só isso. Aí eu falei pra ele que eu respeito isso, que eu não questiono isso de forma alguma. E foi ótimo — diz a deputada ao GLOBO. — Então fiquei muito feliz e eu acho que não só pra mim, esse gesto foi importante para muita gente no Brasil.
Ela acrescenta ainda que “tinha ficado chateada” com a forma como aconteceu — a deputada soube que perdeu o cargo pela imprensa — e que agora “isso foi completamente superado”.
— O fato de ele vir aqui é um gesto muito simbólico, de que ele fez o que ele achava certo, de que ele respeita o que eu fiz também, mas que ele não pode concordar. E eu respeito isso completamente. O cargo é dele.
A deputada ressalta que a visita “foi uma surpresa muito boa” e que ela e Bolsonaro são amigos, e que “foi um gesto de muita consideração”.” [O Globo]
“No vídeo, o presidente afirma que “voltou o amor, falou? Tá tudo tranquilo agora”.”
Hoje é só no amor“, disse o miliciano.
“Fico mais liberada para votar contra o governo. “Temos uma relação de amizade, então segue o jogo. O gesto [do presidente] é de que quer todos os líderes e vice-líderes votando com o governo. Mas isso é uma novidade, porque houve casos em que votaram contra. Marquei minha posição, o presidente marcou a dele. Somos amigos. Sei que conto com a confiança do presidente, assim como ele conta com o meu apoio.””, disse a deputada federal, durante entrevista à “CNN Brasil”. Ela declarou ainda que esperava ser comunicada com antecedência, porém disse entender os motivos que levaram o presidente a retirá-la da função.
Segundo um assessor de Bolsonaro, ao visitar a deputada, o presidente fez um gesto político ao grupo de parlamentares do PSL e de outros partidos que sempre foi aliado de Bolsonaro. Com a aproximação do governo com o Centrão, assessores palacianos temem que ocorra um racha entre apoiadores do governo. “Ele fez um afago aos aliados. Ele sabe que precisa contar com o apoio dela e de outros parlamentares que sempre estiveram ao seu lado”, disse o assessor.”
Não é só Bolsonaro que está mandando acenos:
“Outro episódio que demonstrou o esforço de reaproximação da ala ideológica se deu depois que o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), e o ex-vice-líder Otoni de Paula se estranharam nas redes sociais, devido a um comentário do primeiro sobre a postura de bolsonaristas “midiáticos”, que estariam atrapalhando a gestão do presidente e destruindo “o canal de diálogo”. Otoni reclamou, disse seguir “firme com os ideais que levaram o presidente ao poder” e que não poderia ficar calado vendo “nosso líder se tornando refém”. No início da noite de sábado, Vitor Hugo afirmou que sua crítica foi tirada do contexto e defendeu a união dos aliados de Bolsonaro. Vitor Hugo também elogiou a visita do presidente a Bia Kicis, que dias antes contrariou sua orientação na PEC do Fundeb. “Como disse, a hora é de unir e pacificar nosso lado e de nos contrapormos aos reais adversários”, disse ele.” [O Globo]
Sim, o STF, o Congresso, a extrema-imprensa, os perigosíssimos anti-fascistas e por aí vai.
“O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Luís Roberto Barroso, disse nesta sexta-feira (24) que os autores de fake news e campanhas de ódios nas redes sociais “são bandidos”. O ministro fez a declaração durante uma live, na abertura do 1º Congresso Internacional de Direito Partidário. “A democracia tem lugar para conservadores, liberais e progressistas. Só não tem lugar para a intolerância, a violência e a tentativa de destruir das instituições. Quando isso acontece, as instituições de bens têm de agir. Repito, não são pessoas de bem. São bandidos”, disse o ministro. Nesta sexta-feira, contas no Twitter e no Facebook de influenciadores, empresários e políticos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foram tiradas do ar por determinação do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. Figuras como o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), Sara Giromini (conhecida como Sara Winter), o blogueiro Allan dos Santos e os empresários Luciano Hang (da Havan) e Edgard Corona (das academias Smart Fit) tiveram as contas suspensas. [Folha]
A Natalia Portinari fez uma boa matéria sobre o Allan dos Santos, explica muita coisa:
“Allan dos Santos, dono do site Terça Livre, é um defensor visceral do presidente Jair Bolsonaro. Sua defesa é tão incondicional que não titubeia nem mesmo depois que ele passou a ser investigado e alvo de busca e apreensão nos inquéritos que apuram ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) e a organização de manifestações antidemocráticas. Mas até a devoção mais exaltada tem seus limites — e o centrão parece ser o de Santos. “Tutorial de Brasília: agrade ao centrão. Não critique o divino STF. Deputados são importantes, mesmo sem fazer nada. Esqueça ideologia, pois bom mesmo é ser técnico, tipo (André) Mendonça e Jorge (Oliveira). Discordou disso: você só merece ser alguém com a camisa do Brasil quando precisarem.” A reflexão, destilando ressentimento, foi postada no Twitter em junho. Depois dela, um rosário de queixas de sua autoria se seguiu na arena das redes. Estaria o fiel servo da militância mudando de lado?
Santos criticou o general Eduardo Pazuello, interino do Ministério da Saúde, por ter conversado ao telefone com o ministro Gilmar Mendes, do STF. Diz abertamente que Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo, boicota os conservadores. Sugeriu a demissão do ministro da Justiça, André Mendonça, e faz ataques diários à ala militar como um todo, a quem se refere como “tecnocratas” — adjetivo que, em sua concepção, seria pejorativo. O perigo que se avizinha, na visão de Santos, é que seja instaurado um “governo tecnocrata”, que não leve em conta a ideologia.” [Época]
Generais tecnocratas. GENERAIS TECNOCRATAS, PORRA! Não tem UM tecnocrata nesse governo, um.
“Bolsonaro, neste caso, seria uma espécie de marionete tutelada pelos militares, mas sobretudo por Ramos, que ele diz acreditar ser o grande artífice da entrada do centrão no governo. Sua fidelidade começou a se abalar quando o ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, foi demitido. Santos foi até Bolsonaro para uma conversa. Munido da boa-fé dos inocentes, disse ao presidente que é possível governar sem dar cargos ao centrão, mantendo apenas o apoio popular e usando esse apoio para pressionar o Congresso. Relatou a pessoas próximas que saiu da conversa com a sensação de que não foi ouvido. A frustração se somou ao sentimento de abandono que experimentou desde que sua casa foi alvo da Polícia Federal. Confidenciou a amigos que não acha que o núcleo jurídico de Bolsonaro esteja interessado em defendê-lo.”
Ele vai cair no papinho da AGU saindo em sua defesa? Será?
“Aos 36 anos, Santos é uma celebridade da extrema-direita — uma mudança e tanto de perspectiva para um seminarista que abandonou a vida religiosa recentemente, em 2014. Quando tinha 15 anos e ainda morava no Rio de Janeiro, deixou a Igreja Batista evangélica e se voltou ao catolicismo, inspirado pela visita do papa João Paulo II à capital fluminense, em 1997. Por seis anos, foi membro da organização franciscana Toca de Assis, viajando pelo país em missões de filantropia e assistência social. Quem era da Toca no período lembra do jovem como discreto e trabalhador, sem um grande protagonismo na organização. Depois, Santos passou pelo Seminário da Arquidiocese do Rio de Janeiro e estudou filosofia no Seminário Maria Mater Ecclesiae do Brasil, em Itapecerica da Serra, São Paulo. Nessa época, postava vídeos no YouTube tocando canções religiosas. Aparece usando batina, de barba feita, sempre acompanhado de um violão.
Em 2013, viajou para os Estados Unidos, onde fez parte da Fraternidade Sacerdotal de São Pedro. Lá, se aproximou do conservador Michael Voris. Começou a se interessar por jornalismo quando trabalhou no site de Voris, o Church Militant, página radical de direita, conhecida também por disseminar conteúdo falso. No mesmo período, começou um blog em português sobre catolicismo, em que postava textos sobre teologia e filosofia. Já era um blogueiro conservador, mas não entrava em polêmicas. No final de cada postagem, vinha o seguinte apelo: “Ajude a divulgar o blogue: envie para um seminarista ou um sacerdote! Em CRISTO, A Edição”.
Nesse período, teve contato com Olavo de Carvalho. No fim de 2014, voltou ao Brasil e criou o Terça Livre, importando o modelo do Church Militant e de outros sites americanos de extrema-direita. Segundo ele mesmo conta, montou a empresa “porque os comunistas estavam querendo criar os sovietes no Brasil, e o (Eduardo) Cunha conseguiu romper com esse projeto”. Desistiu de ser padre. Segundo o amigo e hoje deputado federal Márcio Labre (PSL-RJ), Santos justifica a decisão dizendo que não aguentaria manter o voto de castidade. De fato, se casou assim que voltou ao Brasil, e hoje já tem três filhos. Posa sempre com um cigarro na mão, defendendo o hábito de fumar e emulando o mestre habitante da Virgínia, que não abandona seu cachimbo. Assim como Olavo de Carvalho, Santos acredita não haver relação entre cigarro e câncer. Também não se acanha em dizer que os Beatles foram cooptados pela KGB, polícia secreta russa, para “destruir a moral e a cultura no Ocidente”, entre outras teses de difícil comprovação.”
Até consigo imaginar a Natalia digitando esse final com um sorriso no rosto.
Esses dois episódios são espantosos e mostram bem o quão pancada das idéias ele é:
“Em 2016, embrenhou-se em movimentos que pediam o impeachment de Dilma Rousseff e se aproximou da então blogueira e hoje deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP). Já com o Movimento Brasil Livre (MBL), também atuante no período, a relação era menos amistosa, a ponto de Santos ter sido acusado de ter cuspido no prato de um colega. “Ele sempre foi um cara reacionário de verdade, completamente louco. O MBL montou um acampamento pelo impeachment, e o Allan ficou louco, disse que aquela ideia era dele. Ele sempre teve muito ciúmes”, disse o deputado estadual Arthur do Val (Patriota-SP), o alvo da hipotética cuspida, que teria ocorrido sobre um prato de esfirras, enquanto o hoje deputado dava uma entrevista à imprensa. “Eu não sei se é verdade até hoje. Mas eu tirei as primeiras esfirras de cima e comi o resto.” Santos sempre negou ter cometido tal insensatez…
Santos é descrito como arrogante por desafetos e como culto e informado pelos que gostam dele. É também célebre pelo temperamento explosivo. Em um evento com deputados do PSL no ano passado, período em que Luciano Bivar, presidente da sigla, estava doente e fazendo um tratamento nos Estados Unidos, Santos teria dito aos presentes que estava tudo arranjado, já que Bivar “iria morrer”, e a sucessão garantiria poder a Bolsonaro dentro do partido, num período de queda de braço entre ele e Bivar. Santos disse a tal frase a quem quisesse ouvir, inclusive para aliados do enfermo.”
E sobra adivinha pra quem:
“Um dos aliados que tentam botar panos quentes na fúria de Allan dos Santos é Filipe Martins, assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, olavista de carteirinha e um dos membros mais atuantes do núcleo ideológico. Recentemente, publicou um desabafo relatando como a “ala ideológica” foi deixada de lado por Bolsonaro. Escreveu que o governo tem permitido “que o discurso político-ideológico que lhe dá sustentação seja enfraquecido” e substituído por “uma forma de neutralismo tecnocrático”, em referência ao atual protagonismo dos militares. Pelas postagens, Martins tenta se compadecer da frustração da militância, mas há quem diga que isso não passa de estratégia para continuar mantendo a horda virtual sob controle, guiando até mesmo o tom da insatisfação.
O deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP), outro expoente da ala ideológica, deixa claro que não se trata de uma crise com o governo. “Não é um atrito, é uma preocupação. Temos de criticar para mostrar que estamos vivos. Nós não temos poder nenhum no governo. Quem está governando é o STF, Rodrigo Maia e Alcolumbre”, disse. “Veja quem está assumindo, as nomeações que estão sendo feitas. Como nós somos base de qualquer jeito, o governo dá mais tempo para atender partidos que eram antagônicos ao presidente, e estão recebendo mais benesses. Essa tem sido a reclamação dos deputados.”
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4. Caralho, Haddad!

Senta que lá vem absurdo:
“Tenho sérias dúvidas de que uma revolução teria feito mais pelo Nordeste do que os governos petistas.” [Folha]
Tem que ver o que Haddad entende por “revolução“, porra.
“Lula nunca fez segredo do seu projeto político. Via o pobre como parte da solução, não parte do problema. E, diante da enorme dificuldade em transformar democraticamente uma sociedade atrasada, tomou a decisão que lhe parecia mais viável para cumprir os seus objetivos.”
Para seus objetivos eleitorais, né?
“Sem aumentar a carga tributária —que nos oito anos anteriores tinha passado de 26% para 32% do PIB—, Lula optou por redefinir prioridades e, nas suas palavras, “pôr os pobres no Orçamento da União”.”
Isos, colocou os pobre sno orçamento e deixou de lado reformas. Tributária pra quê? Tá tranquilo tributar consumo, os pobres que se fodam. Saneamento pra quê? Foda-se que metade do país não tem esgoto e água. Mas Lula colocou os pobres no orçamento! Por falar em pobre no orçamento, repare na Dilma sabotando o Bolsa-família desde o primeiro mandato:
bfdilma
Lá pelas tantas Haddad lista os programas sociais e provoca:
“Em 1º de abril de 2010, o Twitter do Bolsonaro pontuava: “o bolsa farelo (família) vai manter esta turma no poder”.”
Sabe quem também classificava programas sociais como esmola? Lula lá!
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5. Vai tarde

O presidente do BB  caiu, que chato:
“Rubem Novaes, que agora deixa o Banco do Brasil, compunha o núcleo duro da equipe econômica de Paulo Guedes desde antes da posse. Foi indicado ao cargo ainda em novembro de 2018, quando se formava a equipe de transição. Sua gestão retratou o conservadorismo do governo dito liberal. Em abril do ano passado, foi pressionado a retirar do ar um comercial que teria desagradado ao presidente Jair Bolsonaro. Um mês depois, ao falar sobre o tema, Novaes 74, afirmou que havia muita juventude descolada no filme e que concordava com o veto. “Ele viu o filme e me mandou. Eu assisti e estranhei, não gostei. Não gostei por uma razão muito simples: nosso objetivo é atingir todo o espectro de jovens, que não vi representado”, afirmou à época. “Não vi o jovem fazendeiro, o rapaz esportista, o nerd. Não vi ali o jovem de classe média baixa que rala um dia inteiro para pagar estudos à noite. Ficou muito concentrado na juventude descolada”, criticou. Além de retirar o comercial do ar, o banco afastou o executivo responsável pela campanha. Em postagens em redes sociais, feitas antes de tomar posse, Novaes contestava o aquecimento global e atacava mulheres, como a ex-presidente Dilma Rousseff. Também fez comentários sobre a aparência física de Graça Foster, ex-presidente da Petrobras.” [Folha]
E esse governo é uma zona:
“Novaes fez uma série de aparições públicas defendendo a privatização do banco, alinhado ao discurso de Guedes, mas contrariando Bolsonaro.”
Todas as matérias dizem que Novaes e Guedes se dão muito bem e aqui eu preciso fazer um parêneteses e voltar à fatídica reunião ministerial, lá fica muito claro que havia um clima esquisito entre Novaes e Guedes, que abusa da deselegância, como de hábito:
“Jair Bolsonaro: O Banco do Brasil … o Banco do Brasil não fala nada não? 
Paulo Guedes: O banco do Brasil não é tatu nem cobra. O Banco do Brasil não é tatu nem cobra. Porque ele não é privado, nem público. Então se for apertar o Rubem, coitado. Ele é super liberal, mas se apertar ele e falar: “bota o juro baixo”, ele: “não posso, senão a turma, os privados, meus minoritários, me apertam.” . Aí se falar assim: “bota o juro alto”, ele: “não posso, porque senão o governo me aperta.”. O Banco do Brasil é um caso pronto de privatização.
Jair Bolsonaro: (Risos).
Paulo Guedes: É um caso pronto e a gente não tá dando esse passo. Senhor já notou que o BNDE e o … e o … e a Caixa que são nossos, públicos, a gente faz o que a gente quer. Banco do Brasil a gente não consegue fazer nada e tem um liberal lá. Então tem que vender essa porra logo.
Jair Bolsonaro: Vamos dispensar o Rubem da próxima reunião aí, pô.
Rubem: Ape … apesa … apesar de todo …
Damares: (Ininteligível).
Rubem: Apesar de todo o aumento de risco que passou haver no sis … no sistema bancário. O Banco do Brasil tá expandido bastante seus empréstimos e .. .
Damares?: (Ininteligível)
Rubem: A agricultura, a … a ministra Teresa Cristina é testemunha aqui de que o apoio tá sendo muito grande e … e … nós tamos numa situação confortável, ministro. Porque, a … primeiro porque na … na … em termos de liquidez, a, o público vê o Banco do Brasil como um porto seguro. 
Então, nós não tamos tendo problemas que outros bancos tão tendo de … de preocupação com … com a liquidez do banco, com a higidez do banco. É … e na nossa, a … a … na nossa formação de … de … de resultado, as pessoas físicas tem um, um papel preponderante dentro do Banco do Brasil e nós temos a felicidade, nesse momento, de contar com folhas de pagamento de … de … de empresas públicas, das forças armadas, (balbuciando) que … que … em termos relativos estão numa situação mais segura do que o cidadão comum, que … que não participa de … de … de .. . de … de empresas públicas.
Paulo Guedes: Mas só confessa o seu sonho.
Rubem: Hein?
Paulo Guedes: Confessa o sonho. 
Jair Bolsonaro: Deixa pra depois, confessa não.
Rubem: Agora …
Paulo Guedes: Confessa o seu sonho.
Rubem: Privati . .. em … em relação a privatização …
Jair Bolsonaro: Faz assim: só em vinte e três cê confessa, agora não.
Rubem: Em relação (risos) à privatização, eu acho que fica claro que com o BNDES cuidando do desenvolvimento e com a Caixa cuidando do fim soei … do … do … da área social, o Banco do Brasil estara … estaria pronto pa … para um programa de de privatização, né? 
Rubem: Mas isso a gente pode fazer. ..
Jair Bolsonaro: Isso aí. .. isso aí só se discute, só se fala isso em vinte e três, tá?
Fecha parênteses.
“Novaes foi aliado do governo também ao criticar medidas de distanciamento social adotadas por governadores e prefeitos para conter a propagação do novo coronavírus. Em uma entrevista no fim de março, quando a doença ainda começa a se alastrar, o executivo afirmou que “a ciência médica é tão ou mais imprecisa que a ciência econômica”. Endossava, com isso, o fim das quarentenas, na mesma linha que presidente Bolsonaro.”
É só maluco nessa porra!
ATENÇÃO, PAULO GUEDES
“Na semana passada, porém, disse que o nível de incerteza do momento exigia cautela e que tinha medo de uma reforma tributária muito ambiciosa, entrando em colisão com Guedes, que articulava o envio do texto ao Congresso. “Hoje os empresários e consumidores estão com um nível de incerteza enorme”, afirmou. “Se você coloca em cima disso uma reforma tributária muito pretensiosa, que vai mexer com preços relativos, que vai envolver municípios, estados, governo federal, fica um receio danado de que surjam propostas mirabolantes.”
“Nos bastidores, o executivo travava uma queda de braço com o ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) Bruno Dantas desde que veio à tona a sua declaração chamando a corte de “usina de terror”. A fala ocorreu na reunião ministerial do dia 22 de abril, quando Novaes também defendeu a privatização do Banco do Brasil. As declarações reverberaram negativamente também entre parlamentares do centrão, bloco que se aproximou de Jair Bolsonaro. Em seguida, Novaes defendeu o aporte de verba do banco em site de fake news, após Carlos Bolsonaro criticar a interrupção preventiva feita pela área de marketing do BB. Com resposta, o TCU sustou parte relevante da publicidade do BB na internet e o banco, como mostrou o Painel, alega que estava tendo prejuízo. Mesmo assim, a chance de revisão na corte era considerada pequena.” [Folha]
O sujeito tem SETENTA E QUATRO ANOS e fica obedecendo um débil mental do naipe do Tonho da Lua, que final de carreira miserável.
“Ainda não se sabe quem ocupará o seu posto – Novaes fica no cargo até meados de agosto. Mas já se sabe que não haverá uma “dança das cadeiras” nos bancos estatais. Pedro Guimarães deve ficar na Caixa.”
Eu conto ou você conta pro Montezano?!
E Rubem é outro que confessa prevarticação sem qualquer pudor, fascinante:
“Em mensagem de despedida, enviada a amigos, Novaes fala de “ambiente poluído em Brasília e compadrios”: “O ambiente poluído de Brasília não é para mim. Privilégios, compadrios, corrupção e muitos chantagistas profissionais criando dificuldades para vender facilidades. Além disso, é chegada a hora de passar o bastão para alguém mais jovem, neste mundo de tantas inovações tecnológicas”, escreveu Novaes.” [O Globo]
Funcionário público que sabe de “compadrios, corrupção e muitos chantagistas profissionais criando dificuldades” e não denuncia é prevaricador. Falo com tranquilidade.
“Ao participar de uma recente videoconferência, realizada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Novaes criticou a política de Brasília: “É muito difícil para a equipe de Paulo Guedes, o grupo de liberais, trabalhar no ambiente político de Brasília”, disse Novaes, acrescentando que sente como se fosse “um vírus do bem tentando entrar em um organismo doente”.”
Depois de cidadão de bem temos o vírus do bem.
E tem mais baixa na equipe do Guedes:
“Ex-secretário da Indústria e atual diretor de programas da Economia, Caio Megale deixará o ministério. Trata-se da terceira baixa de Paulo Guedes, que recentemente perdeu Mansueto Almeida (Tesouro) e Marcos Troyjo (Comércio Exterior). Na pasta, Megale tem dito que completou ciclo de quatro anos (foi secretário municipal da Fazenda de João Doria) no poder público. Também tem explicado a saída pela necessidade de renovação no ministério para o pós-pandemia, quando a pressão para aumento de gastos públicos será intensa. Antes de começar na Prefeitura de São Paulo, Megale foi economista do banco Itaú.” [Folha]
Cai a ficha de todo mundo da equipe econômica, menos do Guedes, pois incrivelmente burro.
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6. Chorem na minha, Moro e Deltan!

O jurista italiano Luigi Ferrajoli é considerado  o “pai” do garantismo penal e deu uma boa entrevista à Folha, e alô, assessores de imprensa da LJ deCuritiba, de longe as pessoas mais lúcidas daquele prédio, coloquem essa entrevista na abertura do clipping do Deltan do Powerpoint, nunca pedi nada pra vocês.
“Qualquer confusão entre acusação e julgamento, repito, é prejudicial à imparcialidade e, portanto, à credibilidade do julgamento. Por causa dessa confusão, o juiz, como escreveu Cesare Beccaria, deixa de ser “um imparcial investigador da verdade” e “se torna um inimigo do réu” e “não busca a verdade do fato, mas busca no prisioneiro o delito, prepara-lhe armadilhas, considerando-se perdedor se não consegue apanhá-lo”.” [Folha]
“No caso da condenação do ex-presidente Lula, as violações das garantias do devido processo legal foram, desde o início, massivas. Em qualquer outro país, o comportamento do juiz Moro justificaria sua suspeição, por sua explícita falta de imparcialidade e pelas repetidas antecipações de julgamento. Nos julgamentos italianos do início dos anos 1990, conhecidos como “Mãos Limpas”, houve indubitavelmente excessos antigarantistas, como o abuso de prisão preventiva e o excessivo papel desempenhado pelo delator. No entanto, comparados ao julgamento contra Lula, esses julgamentos parecem um modelo de garantismo. Neles nunca houve confusão entre juiz e acusação: as limitações da liberdade na fase de instrução e, obviamente, as sentenças sempre foram decididas por juízes independentes que, muitas vezes, rejeitavam os pedidos da acusação por considerar que eles não eram fundados em provas suficientes.”
Alô, Moro e Deltan!
“A expressão “excesso de garantismo” não faz sentido. “Garantismo” não significa formalismo vazio na aplicação da lei. Consiste em respeitar as garantias penais e processuais, que são, muito mais e muito antes que garantias de liberdade, garantias de verdade… Porque consiste principalmente na sujeição à lei dos juízes e promotores, que é precisamente a substância do “Estado de Direito” e, portanto, na exclusão de qualquer arbitrariedade judicial e na proteção máxima dos inocentes. Como escreveu Beccaria, “um dos maiores freios aos delitos não é a crueldade das penas, mas sua infalibilidade”.”
A jornalista pergunta como um país violento como o Brasil pode enfrentar a criminalidade:
“A primeira medida elementar deve ser a proibição radical de armas, que são os principais instrumentos de violência e morte. “
“Os dados estatísticos são impressionantes: o número de assassinatos na Itália em 2018 foi de 345, dos quais 142 consistiam em feminicídios; no Brasil, por outro lado, foi de 57.341. A razão dessa enorme diferença está no fato de que na Itália ninguém sai armado, enquanto no Brasil, como de fato nos Estados Unidos e no México, todos se armam de medo. A segunda medida capaz de combater o crime consiste em ativar políticas sociais voltadas à redução da pobreza, que obviamente é o principal fator do crime de rua e de subsistência. Mas, evidentemente, o populismo criminoso prefere obter um consenso fácil recorrendo ao endurecimento das penas, como se essa fosse uma varinha mágica capaz de remover as causas sociais e culturais da criminalidade.”
Sem falar na insana guerra às drogas.
Sobre  a genial idéia do Moro de “plea bargain“:
“É a negação da justiça e todas as suas garantias. O “plea bargain”, que nos Estados Unidos corresponde a 97% dos casos julgados pela Justiça Federal e 94% dos julgados pelas jurisdições estaduais e é responsável por mais de 2 milhões de prisioneiros nas penitenciárias americanas…”
“… não é de fato um processo alternativo, mas uma própria e verdadeira alternativa ao devido processo legal. Consiste, na verdade, na extorsão inquisitorial da confissão, com base na troca desigual proposta pelo promotor ao suspeito, [que tem que escolher] entre a admissão de culpa e a redução da pena que ele sofreria –geralmente não podendo pagar defesas caras– ou se submeter ao julgamento.”
Se tem duas coisas que você tem que fugir nos EUA é de ambulância (a menos que você seja o Bill Gates) e julgamentos.
Passo ao Demetrio Magnoli:
“O mundo dá voltas. No auge da Lava Jato, entre o impeachment de Dilma e a prisão de Lula, os porta-vozes informais da operação exigiam a cassação do registro do PT. Hoje, o cerco que se fecha em torno de Deltan Dallagnol sinaliza a cassação do registro inexistente do Partido da Lava Jato (PLJ). Nem a ascensão de Luiz (In) Fux (we trust) à presidência do STF parece capaz de evitar o desenlace. O primeiro ato significaria uma violação dos direitos políticos de milhões de eleitores. O segundo é um imperativo democrático e, ainda, um pressuposto indispensável para o combate à corrupção. O PLJ tem candidato presidencial —Sergio Moro— e conserva uma sombra de sua antiga aura em setores políticos como o PSL, o Podemos e o Novo. Mas sua estrutura orgânica é o “Partido dos Procuradores” —isto é, a corrente liderada por Dallagnol que organiza uma parcela do Ministério Público e exerce influência difusa entre juízes e policiais federais.” [Folha]
Lembrando que as operações contra o Serra são uma vacina para a estratégia presidencial de apontar imparcialidade do Moro. Tanto que tentaram entrar no gabinete dele de qualquer jeito, sem ok do STF, o que é um baita absurdo – compare essa visita da PF ao Senado que rolou recentemente:
“Menos de uma semana após ser barrada na porta no Senado, a Polícia Federal voltou ao Congresso nesta segunda-feira, 27, para executar mandados de busca e apreensão no gabinete da deputada federal Rejane Dias (PT-PI). Desta vez, porém, houve uma autorização prévia da ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal, para que a operação fosse realizada. Na terça-feira passada, dia 21, agentes da PF tentaram cumprir mandados no gabinete do senador José Serra (PSDB-SP) relativos a outra ação, mas foram impedidos por determinação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-RJ). Advogados da Casa, então, recorreram ao presidente do Supremo, Dias Toffoli, que suspendeu a operação, determinada pela Justiça Eleitoral, sob o argumento de que havia o risco de as provas colhidas na investigação de Serra (como dados armazenados em computadores) incluírem objetos ligados ao exercício do atual mandato. No caso de Rejane Dias, a operação também foi determinada por um juiz de primeira instância, mas com o aval prévio de Rosa Weber.” [Estadão]
Voltando ao texto do Magnoli:
“Moro tem direito, como qualquer brasileiro adulto, de disputar as eleições presidenciais. Mas o PLJ precisa ser extinto, em nome da preservação de um sistema judicial apolítico. O “espírito da Lava Jato” veio à luz em 2017, quando o então procurador-geral Rodrigo Janot justificou o acordo ilegal do Ministério Público com Joesley Batista pelo objetivo de combater “o estado de putrefação de nosso sistema de representação política”. O programa do PLJ é a criação de uma “nova democracia” protegida por um Poder Moderador que seria exercido pela casta de altos funcionários públicos não eleitos do MP. O PLJ tentou criar um “fundo partidário” bilionário por meio da apropriação de recursos recuperados pela Petrobras.”
Esse dia foi louco, viado!
“A Vaza Jato evidenciou tanto os preconceitos ideológicos quanto as práticas processuais abusivas da força-tarefa, que violou sistematicamente o princípio da separação entre Estado-acusador e Estado-julgador. Depois de tudo, só o corporativismo extremado ainda impede a punição da brigada de jacobinos que desmoralizou a maior operação anticorrupção de nossa história.”
Ninguém desmoralizou mais o impeachment que a jurista Janaina do Brasil, ninguém  desmoralizou mais o Exército braisleiro que seus generais e ninguém desmoralizou mais a Lava-Jato que seus juiz e procurador símbolos. Eles não aprenderam NADA com Protógenes e De Sanctis, é impressionante.
“A confluência do PLJ com o bolsonarismo foi um epílogo apropriado. Arautos notórios do “espírito da Lava Jato” engajaram-se na campanha de Bolsonaro, alguns deles manipulando o pretexto do antipetismo. O juiz-candidato deu o passo decisivo, transmutando-se em ministro de um presidente que, avesso à democracia, sonha com a restauração do AI-5. No cargo, expôs o cerne de sua plataforma eleitoral pela proposição do “excludente de ilicitude”, um passaporte para matar oferecido às polícias e uma das sementes da onda de violência policial em curso. Moro personifica um bolsonarismo envernizado, superficialmente sanitizado pelo expurgo do misticismo de extrema direita. Sua candidatura recupera o programa original do PLJ, que esvazia a democracia de suas salvaguardas institucionais prescindindo do recurso ao AI-5.”
Que o macabro “excludente de ilicitude” no país da polícia que mais mata e morre persiga Moro incasavelmente até o fim de seus dias.
E isso aqui é curioso:
“A Lava Jato considerou uma derrota para a operação quando, em março do ano passado, o Supremo Tribunal Federal decidiu enviar à Justiça Eleitoral casos de corrupção e lavagem de dinheiro relacionados a caixa dois de campanhas. Muitos desses casos estavam nas mãos das forças-tarefas. À época, a então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, foi derrotada ao defender que esses casos ficassem sob responsabilidade da Justiça Federal. O argumento do Ministério Público era o de que a Justiça Eleitoral não tinha estrutura para julgar crimes complexos, o que poderia levar à impunidade. Pouco mais de um ano depois, porém, o que tem ocorrido é o inverso dessa previsão —ao menos nas investigações tocadas no âmbito eleitoral em São Paulo. O acúmulo de inquéritos enviados ao Ministério Público paulista que envolvem campanhas políticas citadas em delações fez a Procuradoria Regional Eleitoral do estado fortalecer o setor que atuaria nesses casos. Desde fevereiro, cinco promotores de Justiça trabalham juntos nessas apurações, inicialmente de 29 inquéritos, com apoio investigativo da Polícia Federal. Nelas estão incluídos casos das megadelações da Odebrecht e JBS, firmados pela Lava Jato.” [Folha]
E os tucanos, Costinha?!
O Skaf também!
“A primeira ação do Ministério Público de SP a respeito desses casos foi apresentada em abril, contra o presidente da Fiesp (federação de indústrias do estado) e ex-candidato a governador pelo MDB, Paulo Skaf. O caso de Skaf, que aponta suspeita de recebimento de propina na campanha de 2014, sofreu reviravoltas desde que a delação da Odebrecht foi homologada, em 2017. Inicialmente, foi enviado para Curitiba, depois, à Justiça Federal em São Paulo. Após a decisão do STF, seguiu para a Justiça Eleitoral. Em maio, a Justiça Eleitoral abriu ação contra Skaf, sob acusação de ter recebido propina de R$ 5,1 milhões. Ele nega ter cometido irregularidades. A partir de julho a Polícia Federal entrou em ação, com as operações Dark Side e Paralelo 23, que tiveram como principais alvos respectivamente o deputado Paulo Pereira da Silva (Solidariedade-SP), o Paulinho da Força, e Serra. Na Paralelo 23 foram cumpridos quatro mandados de prisão temporária e 15 mandados de busca e apreensão. Além dessas operações, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) também foi indiciado sob suspeita de caixa dois eleitoral, lavagem de dinheiro e corrupção e, na última quinta (23), denunciado sob acusação de prática desses crimes. Alckmin tem dito que lamenta a denúncia, que jamais foi procurado para se manifestar e que não praticou qualquer ilícito.”
Vai ver o Alckmin apontou o absurdo da coercitiva do Lula antes de qualquer depoimento do ex-presidente, né?
“O grupo afirma que pretende tratar os casos que estão em suas mãos com celeridade. “O intuito é nós tentarmos produzir em um período curto de tempo, porque as nossas designações no âmbito da Justiça Eleitoral vão até março do ano que vem, e tentarmos trabalhar o máximo possível para tentar produzir o máximo em um período curto de tempo”, disse João Santa Terra no último dia 14.”
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7. Maia e Lira

Maia convidado Arthur Lira? Aí tem.
“Rodrigo Maia (DEM-RJ) convidou Arthur Lira (PP-AL) e Baleia Rossi (MDB-SP) para coordenarem a reforma tributária ao seu lado. Enquanto integrantes da comissão mista que analisa o tema comandam a relação com os setores econômicos, Maia espera que Lira e Baleia ajudem no convencimento das bancadas políticas da Câmara.” [Folha]
Numa hora a nova CPMF seria a última fase da reforma tributária do goveno, agora tudo mudou, que zona do caralho:
“Apesar de Paulo Guedes (Economia) ter entregado primeiro a proposta para a unificação dos tributos federais que incidem sobre o consumo, auxiliares acreditam que a desoneração da folha de salários e o resgate da CPMF vão pular na frente da fila e vão abrir os trabalhos da reforma tributária no Congresso. A equipe de Guedes conta com a pressão do setor de serviços para isso.” [Folha]
Guedes conta com o setor de serviços para convencer seu chefe, algo que ele parece ser absolutamente incapaz.
“As equipes técnicas da Economia ainda não fecharam questão sobre o desenho da CPMF e dizem analisar diferentes opções para compensar a tributação sobre salários, não só a contribuição sobre transações financeiras.”
Então por que diabos o Guedes fala nisso se ainda é um estudo?! Nada faz sentido.
E Maia tá bailando em Brasília:
“O presidente da Câmara vai chegando ao fim de seu mandato mostrando uma eficiência poucas vezes vista nas gestões de seus antecessores. Rodrigo Maia, que foi o principal responsável pela aprovação da Reforma da Previdência, no ano passado, fez barba, cabelo e bigode na votação do Fundeb e mostrou musculatura ao pautar a Reforma Tributária. Peitou e rechaçou todos os rompantes antidemocráticos perpetrados pelo presidente da República e seus três zeros. Mas ficou devendo no encaminhamento de pelo menos um dos 48 pedidos de abertura de processo de impedimento de Bolsonaro em razão dos seus inúmeros crimes de responsabilidade.” [O Globo]
E por falar em Arthur Lira, o queridinho do palácio, ô sujeito enrolado:
“A Procuradoria da República em Alagoas abriu investigação criminal contra o deputado federal Arthur Lira (PP), um dos líderes do centrão e novo aliado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A apuração, instaurada no mês passado, está sob a responsabilidade do Núcleo de Combate à Corrupção da Procuradoria alagoana. Ela é fruto de uma denúncia apresentada ao Ministério Público Federal por Jullyene Cristine Lins Rocha, ex-mulher de Lira, que o acusa de ocultar bens e lavar dinheiro.” [Folha]
Ex-esposa de político é a única insitituição brasileira em constante funcionamento.
Documentos anexados a esta denúncia em Alagoas foram encaminhados também pela defesa de Jullyene Rocha ao STF, como parte de uma queixa-crime na qual ela acusa o líder do centrão de difamá-la ao se defender das acusações em reportagens. Ela pede ao tribunal que instaure uma investigação contra Lira. O caso está com o ministro Luís Roberto Barroso, que determinou a intimação do deputado para que ele apresente as explicações. O parlamentar foi notificado no apartamento funcional em Brasília no dia 19 de junho. Lira é um dos nomes do PP incluídos pela Procuradoria-Geral da República na denúncia do chamado “quadrilhão do PP”. Em junho de 2019, a denúncia foi aceita pela 2ª Turma do STF, mas em razão do vaivém burocrático a ação penal ainda não começou a tramitar, conforme mostrou a Folha. De acordo com a acusação, desdobramento da Lava Jato, integrantes da cúpula do PP formaram uma organização criminosa que tinha ascendência sobre a diretoria da Petrobras e desviou verbas por meio de empresas com contrato com a estatal.
Além de Lira, foram denunciados nesse caso o presidente nacional do PP, o senador Ciro Nogueira (PI), e os deputados Eduardo da Fonte (PE) e Aguinaldo Ribeiro (PB), esse também pré-candidato à sucessão de Rodrigo Maia (DEM-RJ) no comando da Câmara. O deputado alagoano figura em outras duas denúncias relacionadas à Lava Jato, a última delas apresentada recentemente pela PGR. Nesta, a Procuradoria-Geral da República o acusa de receber R$ 1,6 milhão de propina da empreiteira Queiroz Galvão em troca de apoio do PP para a permanência de Paulo Roberto Costa como diretor da Petrobras. Costa é dos delatores da Lava Jato. Na outra, aceita pelo STF em 2019, o líder do PP é acusado de receber em 2012 propina do então presidente da CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), Francisco Colombo, indicado pelo partido para o cargo. Sobre essas denúncias, Lira e sua defesa têm dito que elas são baseadas em delações premiadas de criminosos que buscam implicá-lo em irregularidades com o objetivo de atenuar suas próprias penas.”
Se gritar pega centrã, não fica um meu irmão.
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8. Alô, Cristina Rocha!

Urge um ‘Casos de Família’ entre Marcelo e Emílio MEDIADO por Cristina Rocha, isso ia ser melhor que Casa dos Artistas no auge do Alexandre Frota (se tocou Careless Whisper na sua cabeça vai aí um beijo do Frota na sua orelha).
“Manuscritos do empreiteiro Marcelo Odebrecht feitos de dentro da cadeia, onde esteve até 2017, mostram uma suposta pressão da força-tarefa da Lava Jato durante a negociação de um acordo com a empresa e relatam o inconformismo dele com os rumos da delação da construtora. Marcelo, ex-presidente do conglomerado e principal empresário detido na Lava Jato no Paraná, diz que os investigadores falaram na possibilidade de mais operações sobre o grupo, caso ele conseguisse habeas corpus para sair da prisão em 2016. As cartas foram anexadas pela defesa do ex-presidente Lula ao último dos processos a que ele responde em Curitiba, que trata da compra pela empreiteira de um terreno para ao instituto do petista. A defesa do ex-presidente, em documento escrito em maio, diz que as correspondências mostram “calibragem de relatos” e falta de espontaneidade na delação.
Os manuscritos também viraram prova na Justiça de São Paulo. Devido a eles, foi determinado em março o bloqueio de R$ 143,5 milhões que o conglomerado empresarial havia pago a Marcelo na época da assinatura do acordo de colaboração com a Lava Jato, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos e a Suíça. A construtora considera que houve ameaças da parte dele em frases redigidas como: “A própria empresa e os demais colaboradores (e não colaboradores) estão levando a uma situação onde acabarei ‘detonando’ a todos”. Marcelo diz à Justiça que é perseguido pela empresa por ter exposto em sua colaboração pessoas ligadas ao pai, Emílio Odebrecht, com quem está rompido. Afirma que nessas mensagens apenas cobrava dos demais executivos que não houvesse omissões nos relatos que pudessem pôr o acordo em risco. As cartas fazem parte de anotações que o ex-presidente da Odebrecht entregava para seus advogados no período em que ficou preso. Ele também escrevia um diário no período em que ficou detido.
Ao relembrar a negociação da delação, em carta de fevereiro de 2017, Marcelo menciona ocasião em que mudou o rumo de sua negociação, inclusive com o rompimento com um advogado e com uma irmã. “Foi quando o Mouro [Sergio Moro] ia me soltar (por volta de maio/16) e o MPF nos ameaçou dizendo que se eu fosse solto, outras operações seriam deflagradas”, escreveu ele. Disse que tinha “certeza de que era blefe”, mas aceitou abrir mão de um “período de liberdade​” desde que fosse para o regime domiciliar com o assinatura do acordo, o que acabou não acontecendo. Marcelo, detido em junho de 2015, só foi para a prisão domiciliar um ano após a assinatura do compromisso, em dezembro de 2017. Procurada, a força-tarefa da Lava Jato rechaçou ter havido qualquer pressão indevida e disse que todo contato com o empreiteiro sempre ocorreu com o acompanhamento de seus advogados. “A eventual apresentação de esclarecimento ou informação para o investigado ou réu sobre a existência de investigações de caráter público e sobre as consequências legais de seus possíveis crimes não caracterizaria qualquer ‘ameaça’ ou pressão indevida, mas sim a exposição legítima de dados que permitam a investigados e réus tomarem decisões.”
Uma das declarações nas cartas de Marcelo mais destacadas pela defesa de Lula trata do Setor de Operações Estruturadas, divisão da Odebrecht apelidada de “departamento de propina”, responsável por operações ilícitas dentro e fora do Brasil. Sem dar muitos detalhes, o empreiteiro diz que a companhia precisa se manifestar sobre “absurdos que estão dizendo sobre o nosso passado”. “Onde estão nossos sócios nos projetos? E as estrangeiras? Não tínhamos um departamento de propina, nem muito menos este tipo de relação com o setor público era só nós que fazíamos…” Em outra anotação, o empreiteiro critica “HS”, sigla de Hilberto Silva, executivo que atuava nesse departamento e também delator. “Não posso aceitar que a empresa esteja respaldando tudo que ele está dizendo.” Outro trecho em contradição com os conclusões da Lava Jato é a respeito de seu conhecimento sobre a propina na Petrobras, foco dos procuradores de Curitiba e pilar, por exemplo, da condenação de Lula no caso do sítio de Atibaia. Marcelo disse que, em relação à Petrobras, foi “mentirosamente acusado de ter praticado atos ilícitos nos quais não se envolveu”.
​Rompido com Emílio Odebrecht desde a época da prisão, Marcelo faz uma série de queixas sobre o modo como o pai agiu na crise da empreiteira. Faltou, disse o filho, uma defesa mais contundente nos meses após sua prisão, em 2015. Na visão de Marcelo, não havia como ligá-lo a ilícitos na Petrobras, o que poderia preservá-lo da Justiça e salvar o grupo. Diz, em carta de 2017: “Dói muito que eu nunca tenha sido defendido por meu próprio pai. Eu nunca deixaria uma filha ou pai ser incriminado, e trucidado na mídia por algo que não fez, sem sair publicamente em sua defesa.” Ele pediu atenção à sua família e diz que “EO” não teria uma outra chance. “Ou então [vai] carregar um remorso ainda mais pesado pelo resto da sua vida ao destruir um filho, sua família, e o legado de gerações.” O “legado” do império familiar, aliás, aparece em outros momentos de seus manuscritos. No início de 2017, diz que uma de suas metas é: “Mitigar/minimizar os danos à minha imagem e da organização preservando um pouco do legado de meu avô”, uma referência ao fundador, Norberto Odebrecht.
Em correspondência ainda antes de o acordo da Odebrecht ser firmado simultaneamente com autoridades do Brasil, Estados Unidos e Suíça, no fim de 2016, Marcelo cogitou não aderir ao compromisso e partir para defesa individual na Justiça. Dizia que não tinha como se comprometer a pagar como reparação quantias a que já não dispunha e colocou condicionantes financeiras, em declarações que hoje a empresa usa para processá-lo e receber de volta o que foi pago. Um de seus pleitos era o custeio dos advogados até o final de todos os processos. Dizia que a consequência possível era “comprometer todo mundo”. Em novembro de 2016, Marcelo escreveu que, caso o acordo não o protegesse suficientemente, “toda ação será uma guerra da vida e morte, com várias ‘baixas’, em especial, de outros integrantes da organização”. Com o acordo já consumado, no meio de 2017, ele fala em renegociar sua situação com o Ministério Público, “exponha a quem exponha”. Essas frases também são interpretadas como uma ameaça, versão que os advogados de Marcelo atribuem a uma retaliação da atual direção do grupo. A defesa de Lula também cita pontos como esse para atacar a credibilidade do acordo no processo.” [Folha]
Não tinha uma viva alma na LJ pra socar a mesa, ofender os colegas e perguntar se eles estavam comendo merda, inacreditável. Em que mundo alguém delata uma empres e continua recebendo salário dessa mesma empresa?!
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9. Brasil-sil-sil

Toca o hino, mete a mão no peito e canta de olho fechado!
“Criados em 2005 para fiscalizar o trabalho de juízes e promotores, os conselhos nacional de Justiça e do Ministério Público ficaram mais marcados neste período pelo arquivamento de casos conhecidos do que por impor penas severas aos profissionais. O CNJ, por exemplo, já autuou ao menos 13.638 processos disciplinares, mas em apenas 104 casos, o equivalente a 0,78%, houve punição a magistrado. Apesar dos números, os conselhos sempre serviram como um escudo perante a opinião pública. Os órgãos são rápidos para anunciar a apuração de desvios éticos, como o caso do desembargador Eduardo Siqueira, que responderá a procedimento por humilhar um guarda municipal após ser abordado por estar na rua sem máscara. Em muitos casos, porém, as apurações não têm resultado prático. O juiz João Carlos Corrêa, por exemplo, passou por situação parecida por ter dado voz de prisão a uma agente de trânsito numa blitz e o processo foi arquivado no CNJ. O episódio aconteceu em 2011 e, em 2013, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro afirmou que ele não cometeu nenhuma irregularidade e encerrou o processo. Em 2016, o assunto voltou a ganhar o noticiário após a agente ser condenada a pagar R$ 5 mil de indenização ao magistrado por danos morais, e o CNJ resolveu revisar o caso.” [Folha]
Inacreditável, mas o mais absurdo ainda está por vir:
“Na ocasião, a ação tinha sido movida por ela, mas a 36ª Vara Cível do RJ entendeu que o prejudicado foi o juiz, uma vez que a profissional teria o ironizado ao dizer que ele era “juiz e não Deus”.”
“O procedimento, porém, foi arquivado definitivamente porque o conselho entendeu que o TJRJ já havia apurado o caso “com profundidade”. Em relação à Lava Jato, a provocação para apuração da conduta de procuradores e juízes já partiu até do STF (Supremo Tribunal Federal), mas nenhum caso foi para frente. O ex-juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol já responderam, cada um, a mais de 30 procedimentos, mas todos foram arquivados ou têm tramitação lenta. Uma representação em que o PT acusa Moro de ter tornada pública uma conversa por telefone entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a então presidente Dilma Rousseff sem decisão judicial figurou na pauta do CNJ mais de 15 vezes, mas nunca foi chamado para julgamento.”
Apenas o mais cristialino dos crimes, o maior dos absurdos da vasta coleção da LJ.
“Em junho do ano passado, o corregedor-nacional de Justiça, Humberto Martins, arquivou o caso monocraticamente e classificou o caso como “mero inconformismo” da parte, que teria apresentado apenas “alegações genéricas”.”
Mero inconformismo“, vai tomar no cu!
“No CNJ, não há possibilidade de desligamento e a punição máxima é a aposentadoria compulsória. Dos 104 magistrados punidos pelo CNJ, 66 deles sofreram esta penalidade. Apenas dois deles foram julgados na gestão do atual presidente do conselho, ministro Dias Toffoli. Mas, apesar da sanção, os 104 juízes ainda representam despesa para os cofres públicos, uma vez que a punição é de aposentadoria com vencimentos proporcionais.”
Nem corte na aposentadoria tem, esse pessoal vive no Olimpo.
“Para o ex-corregedor Nacional de Justiça Gilson Dipp é necessário atualizar a Lei Orgânica da Magistratura, que estabelece as penas a serem impostas aos magistrados. “Poderiam modernizar a lei e possibilitar punições mais efetivas. Também poderia explicitar quando seriam impostas as punições, deixar mais clara e menos subjetiva a situação em que pode ser enquadrada cada conduta”, diz. Dipp diz, ainda, que não se pode negar que há um corporativismo entre os membros da magistratura que pode interferir nos julgamentos. Ele defende, ainda, que o CNJ não pode “se imiscuir” em todos os episódios em que magistrados podem ter cometido algo mais grave, uma vez que as corregedorias dos tribunais locais também têm essa atribuição. Dipp ressalta, porém, que boa parte dos mais de 13 mil procedimentos disciplinares tratam-se de ações manifestamente infundadas ou visavam reverter decisão judicial por discordância de interpretação, sem que estivesse caracterizado desvio de conduta. “Tem decisões do CNJ violentas, no meu tempo aposentamos até um colega do STJ”, recorda.”
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10. PSDB

Alô, Alckmin, olha o Doria te esfaqueando pelas costas de novo:
“O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou que as recentes investidas da Lava Jato contra expoentes tucanos, como José Serra e Geraldo Alckmin, não têm natureza política. “O PSDB não classifica essas investigações como de ordem política”, afirmou o governador em entrevista à imprensa nesta sexta-feira (24). É a nossa posição, diferente de um outro partido, que, na defesa do seu presidente de honra, criou obstáculos e classificou como política a investigação. Não vemos essas denúncias como uma resposta de ordem política, sim de ordem técnica. A Polícia Federal realiza seu trabalho, assim como o Ministério Público Federal e o Ministério Público estadual, cumprindo seu dever e o dever é investigar. Assim como o [dever] do PSDB é não criar nenhuma objeção e nem condenar nenhum tipo de investigação” [Folha]
Quando for o cu dele na reta vai virar investigação política, anote.
“A opinião, no entanto, não é unânime no PSDB. Tucanos próximos ao prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), que tenta a reeleição neste ano, avaliam que a mira do Ministério Público de São Paulo no partido está relacionada de alguma forma à eleição municipal. Tucanos enxergam na denúncia contra Alckmin uma forma de tirá-lo do jogo em 2022. O ex-governador paulista indica que pode voltar a disputar cargos eleitorais depois de sofrer, em 2018, a pior derrota do PSDB em eleições presidenciais. Há expoentes nacionais da sigla que não descartam haver algum componente político nas acusações, sobretudo por considerarem a operação contra Serra no Senado agressiva e pela insistência de investigadores em atribuír crimes a Alckmin, visto como um político austero e honesto mesmo fora do círculo tucano.”
Círculo tucano“, explanaram, porra.
“A avaliação geral de tucanos, no entanto, se aproxima da visão de Doria, de que seria exagero atribuir o andamento das investigações ao cenário eleitoral —até porque as apurações já tramitam na Lava Jato há mais tempo. Por outro lado, líderes do partido também admitem que as investidas contra Serra e Alckmin se colocam no contexto de uma articulação para ressuscitar, em São Paulo, o protagonismo da Lava Jato, já apagada em Curitiba, seu local de origem.”
Serra não é inocente nem fodendo mas isso aqui é espantoso:
“As evidências e provas reunidas pela defesa de José Serra (PSDB-SP) reforçaram na cúpula do Congresso a convicção de que a Lava Jato e seus braços investigaram (ou investigam) a atividade parlamentar de deputados e senadores, desrespeitando o princípio do foro privilegiado. Relatório do inquérito em que Serra é alvo cita, por exemplo, “projetos de lei” dele, ou seja, a investigação tem origem no passado, quando Serra não era senador, mas se estende para o presente, o que explica a tentativa, frustrada, da busca e apreensão no gabinete tucano.” [Estadão]
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11. Amazônia

Olha a capa do NYT de hoje:
A Folha traduziu:
“O vírus varreu a região como as pestes do passado que percorreram o rio com os colonizadores e as corporações. Ele se espalhou com as canoas feitas de troncos que carregam famílias de cidade em cidade, as barcas de pesca com motores ruidosos, as gaiolas levando produtos por centenas de quilômetros, lotadas de passageiros dormindo em redes, lado a lado, dias a fio. O rio Amazonas é a fonte de vida essencial da América do Sul, uma superestrada reluzente que corta o continente. É a artéria central de uma vasta rede de afluentes que sustenta cerca de 30 milhões de pessoas em oito países, movimentando suprimentos, pessoas e indústrias às regiões profundas da floresta, muitas vezes não alcançadas por estradas. Mais uma vez, porém, em um eco doloroso da história, ele também leva doença. Enquanto a pandemia assola o Brasil, arrasando o país com mais de 2 milhões de infecções e mais de 84 mil mortes —atrás somente dos Estados Unidos—, o vírus está cobrando um preço excepcionalmente alto na região amazônica e das populações que dependem de sua abundância há gerações.
No Brasil, as seis cidades com maior exposição ao coronavírus estão sobre o rio Amazonas, segundo um extenso novo estudo de pesquisadores brasileiros que mediram os anticorpos na população. A epidemia se espalhou tão depressa e amplamente pelo rio que em comunidades afastadas de pesca e agricultura como Tefé a população tem igual probabilidade de contrair o vírus que na cidade de Nova York, onde houve um dos piores surtos mundiais. “Foi tudo muito rápido”, disse Isabel Delgado, 34, cujo pai, Felicindo, morreu do vírus pouco depois de adoecer na pequena cidade de Coari. Ele nasceu junto ao rio, criou sua família ao seu lado e construiu sua vida fazendo móveis da madeira que encontrava nas margens. Nos últimos quatro meses, conforme a epidemia viajava da maior cidade da Amazônia brasileira, Manaus, com seus arranha-céus e fábricas, até vilarejos isolados no interior da selva, o frágil sistema de saúde vacilou sob o ataque. Cidades e aldeias ao longo do rio têm alguns dos mais altos índices de mortes per capita do país —com frequência várias vezes maior que a média nacional. Tyler Hicks, fotógrafo do New York Times, passou semanas junto ao rio, documentando a disseminação do vírus. Em Manaus, houve períodos em que o pavilhão da Covid estava lotado e cem pessoas morriam por dia, levando a cidade a abrir novos cemitérios na floresta densa. Coveiros colocavam as filas de caixões em longas trincheiras na terra recém-escavada.
Rio abaixo, redes se transformaram em macas, levando os doentes de comunidades sem médicos para barcos-ambulâncias que cortam a água. Em extensões distantes da bacia fluvial, aviões de socorro médico pousaram em pequenas pistas cortadas na paisagem luxuriante, para descobrir que seus pacientes tinham morrido esperando pela ajuda. O vírus está cobrando um preço especialmente alto dos povos indígenas, num paralelo com o passado. Desde os anos de 1500, levas de exploradores percorreram o rio em busca de ouro, terra e convertidos —e mais tarde borracha, recurso que ajudou a alimentar a Revolução Industrial, transformando o mundo. Mas os forasteiros trouxeram a violência e doenças como varíola e rubéola, matando milhões de pessoas e eliminando comunidades inteiras. “Este é um lugar que gerou tanta riqueza para outros”, disse Charles Mann, jornalista que escreveu extensamente sobre a história das Américas, “e veja o que está acontecendo com ele.”” [Folha]
Eis o link original, vale ler na íntegra: [NYT]
Enquanto isso, o governo completa seu trabalho em outra frente:
“Em manifestação técnica encaminhada ao presidente do Ibama, Eduardo Bim, e ao presidente do Conselho da Amazônia, o vice-presidente Hamilton Mourão, mais de 600 servidores do órgão alertam para um aumento de 28% no desmatamento consolidado na Amazônia entre agosto de 2019 e julho de 2020, em comparação com o mesmo período em 2018-2019. O Ibama possui 2.944​ servidores em exercício, segundo portal da transparência. A estimativa foi feita com base nas detecções feitas pelo Deter, o sistema de monitoramento do Inpe, nos últimos cinco anos, que já haviam revelado um aumento de 49,7% no desmatamento na região entre agosto de 2018 e julho de 2019 em comparação com o período anterior (2017-2018). Comparando com os números de 2017-2018, último período da gestão de Michel Temer (PSDB), o aumento do desmatamento na Amazônia no primeiro ano de gestão integral de Jair Bolsonaro (sem partido), cujo calendário começou em julho de 2019, pode chegar a 72%. Na manifestação técnica, os servidores lembram ainda que, em agosto de 2019, eles já haviam alertado o governo federal, em ofício assinado por quase 700 servidores, sobre as medidas emergenciais que deveriam ser tomadas para evitar a crise ambiental na Amazônia. “Tal documento alcançou ampla repercussão nacional e internacional, mas foi lamentavelmente ignorado pelos decisores e pelos agentes políticos e econômicos do país. Infelizmente as previsões ali expostas se concretizaram”, diz trecho do documento. Os servidores de carreira ambiental ainda apontaram a desestruturação do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama) e a adoção de medidas que “reduzem a autonomia e a capacidade de atuação institucional” dos órgãos ambientais, sobretudo o Ibama, como fatores que agravaram o cenário de altas taxas de desmatamento, degradação e incêndios florestais em 2019. Para eles, sem a adoção de medidas efetivas para a retomada da função estratégica do Ibama, a gestão ambiental brasileira caminhará para um colapso, estimulando ainda mais os crimes ambientais.” [Folha]
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12. Covid-17

Sonhar não custa nada.
“Trabalhadores do setor da saúde apresentaram uma denúncia por suposta “prática de crime contra a Humanidade” contra o presidente Jair Bolsonaro no Tribunal Penal Internacional(TPI), com sede em Haia. A apresentação foi realizada pela UNI Américas, braço regional da UNI Global, que no Brasil representa mais de um milhão de trabalhadores da saúde. O documento, que tem 59 páginas, diz que “alguns governantes menosprezaram a gravidade da pandemia, dentre eles o presidente do Brasil”. Logo em seguida, afirma que “essa atitude de menosprezo, descaso, negacionismo, trouxe como consequências desastrosas, com consequente disseminação, total estrangulamento dos serviços de saúde, que se viu sem as mínimas condições de prestar assistência às populações, advindo disso, mortes sem mais controles. A omissão do governo brasileiro carateriza crime contra a humanidade -genocídio”. O texto menciona a propaganda realizada pelo presidente sobre o uso da hidroxicloroquina, medicamento para o qual não existe comprovação científica sobre efeitos positivos em pacientes com Covid-19.” [O Globo]
Genocídio não é, apesar da desigualdade castigar os mais pobres que os mais ricos. Mas que é criminoso e cabe punição em corte gringa isso me parece óbvio, o que não falta é confissão do Bolsonaro por livre e espontânea vontade.
“O documento apresentado em Haia também menciona o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, acusado de ter abandonado “a defesa do distanciamento social mais rígido” e passado a “recomendar tratamentos para a Covid-19 sem aval de entidades médicas e científicas, como o uso da cloroquina e hidroxicloroquina”.”
Bela tirinha do João Montanaro:
trumanjoaomontanaro
Bolsonaro já tá passeando de moto, conversando com pessoas sem máscaras e meteu ese caô aqui:
“Não senti nada desde o começo, se eu não tivesse feito teste eu nem sabia que tinha contraído o vírus” [O Globo]
Voltemos a 6 e julho:
“Começou no domingo com certa indisposição. E se agravou na segunda-feira, com mal-estar, cansaço, uma febre” [Correio Braziliense]
Do Hélio Shwartsman:
“Não é assim tão difícil de entender. Estou seguro de que todos, presidentes e militares incluídos, se se esforçarem um pouquinho, conseguem. Se você quer saber se a droga X é efetiva para tratar a doença Y, deve recrutar um número tão grande quanto possível (de preferência milhares) de pacientes da moléstia e dividi-lo aleatoriamente em dois grupos. O primeiro, chamado de grupo de tratamento, tomará a droga. O segundo, o grupo controle, não. Idealmente, receberá um placebo. Aí é só esperar um tempinho e comparar os desfechos dos dois grupos. Se a proporção dos pacientes que se curaram (ou que sobreviveram, que tiveram menos complicações etc.) não for maior entre os que tomaram a droga do que entre os que não a tomaram, isso é um sinal de que ela não funciona.
Mas, se é assim tão simples, por que presidentes e generais insistem no uso da cloroquina contra a Covid-19 mesmo quando já há um bom número de estudos mostrando que ela não traz nenhum benefício dramático e pode provocar efeitos colaterais indesejados? Há uma diferença importante entre micróbios e pessoas. Vírus e bactérias fazem o tipo “no-nonsense”, isto é, obedecem sem questionar às leis da bioquímica. Pessoas são mais complicadas. Solomon Asch mostrou que um indivíduo pode facilmente ser levado a afirmar que uma linha de um centímetro é maior do que uma de três. Basta que algumas pessoas digam isso em público antes dele. Não há muito limite para as besteiras que podemos fazer sob pressão dos pares ou de líderes. A insistência na cloroquina indica que presidentes e generais ou não entenderam o bê-á-bá da pesquisa clínica, o que deporia contra sua inteligência, ou estão mais interessados em iludir pessoas do que em combater o vírus, o que denotaria irresponsabilidade. Em qualquer caso, o Ministério Público deveria mandar para o Jair a conta pelos estoques de cloroquina inutilmente acumulados.” [Folha]
Eu duvido que os milicos não tentem dar sumiço no estoque ou em parte dele. Aguarde e confie.
Lembra do Bolsonaro em 22 de março falando em menos de 800 mortes por Covid?
“Brasil registrou 556 mortes pela Covid-19 neste domingo (26). Desde março, o país acumulou 87.052 óbitos durante a pandemia do novo coronavírus. Atualmente, são 2.419.901 casos; 23.467 deles nas últimas 24 horas. De acordo com os dados coletados até as 20h, a média de mortes nos últimos sete dias é de 1.074.” [Folha]
Lembrando que já batemos 100 mil mortes há muito tempo. Até o imbecil do Trump mudou de rumo desesperadamente, mas nada do Bolsonaro.
“Média diária de mortes no Brasil aumentou 9% na pandemia, aponta empresa O número diário de mortes no Brasil aumentou 8,96% entre março e maio, meses marcados pela pandemia de Covid-19. O dado é da empresa de serviços em saúde Head in Health, e equivale a 300 novos óbitos por dia. Segundo a empresa, em 2019, a média diária no trimestre foi de 3.358. Em 2020, esse número foi de 3.659.” [Folha]
O Gonzalo Vecina Neto, Professor do Departamento de Política, Gestão e Saúde da Faculdade de Saúde Pública da USP, explicou os ciclos da pandemia:
“Em seus primeiros estágios no país, a Covid-19 fazia mais vítimas entre trabalhadores do setor informal, porque eles precisam sair diariamente de casa para trabalhar. Por isso, cidades mais pobres, como Manaus e Belém, viram seu sistema de saúde entrar em colapso — recorda. — Depois as mortes concentraram-se em trabalhadores de serviços essenciais, como funcionários de farmácias e mercados. Agora, a população está saindo de casa. Vai para a escola, deixa o home office. Eram pessoas que aderiram ao isolamento, e agora, ao “liberou geral”.” [O Globo]
Do Celso Rocha de Barros:
“Se você está na bolha bolsonarista, você não sabe que na Argentina, onde fizeram o isolamento, morreram em todos esses meses menos do que morrem no Brasil em três dias de pandemia.” [Folha]
“Você não sabe que na Nova Zelândia, que também fez o isolamento, não há mais casos de Covid-19, e a vida voltou ao normal. Você não sabe que o governo Bolsonaro só gastou 11% dos recursos destinados a combater a epidemia (governos estaduais receberam 39% do prometido, municípios receberam 36% do prometido). Sem a comparação com outros países, é mais difícil ter noção de que o longo platô de mortos —um número estável e alto de mortos por dia durante meses— vai atrasar mais a recuperação econômica do que qualquer quarentena que Bolsonaro não tivesse sabotado. Ninguém no mundo resolveu a economia antes de resolver a pandemia. Nós não resolvemos a pandemia.”
E repare no peso das palavras presidenciais:
“Embora pesquisas não apontem benefícios no uso de cloroquina e hidroxicloroquina em pacientes com covid-19, o debate político em torno dos medicamentos – capitaneado, muitas vezes, pelo presidente Jair Bolsonaro – coloca médicos na linha de frente do atendimento sob grande pressão. Segundo pesquisa da Associação Paulista de Medicina, 48,9% de quase 2 mil profissionais entrevistados em todo o País relataram pressões de pacientes ou parentes para prescrever remédios sem comprovação científica. Nas redes sociais, também há relatos de intimidação. senti nada desde o começo, se eu não tivesse feito teste eu nem sabia que tinha contraído o vírus.  O presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Clóvis Arns, chegou a ser ameaçado de morte nas redes sociais e foi alvo de notícias falsas após a instituição publicar recomendação contra a cloroquina para a covid-19, no dia 17. “Notícias falsas e informações sensacionalistas ou sem comprovação técnica são inimigos que os médicos enfrentam simultaneamente à covid-19”, diz o estudo da Associação Paulista de Medicina (APM).
A intensivista Bruna Lordão, de 32 anos, pediu demissão do Hospital Geral de Vila Penteado, na zona norte de São Paulo, onde trabalhava, após ser chamada de “assassina” por parentes de um paciente, a quem ela se recusou a prescrever cloroquina. “As pessoas não querem saber de pesquisa cientifica”, conta a médica. “Elas querem saber o que o Bolsonaro tomou, o que o (presidente americano Donald) Trump disse”, contou. “Foram certamente os piores momentos da minha carreira”, disse ela, médica há cinco anos. “Quando você trabalha num pronto-socorro, numa UTI, vai ter muitas baixas, com certeza. Mas nada igual à UTI covid-19: são três, quatro óbitos por dia. Muita gente morrendo, num mesmo lugar, da mesma coisa”, acrescentou Bruna. A gota d’água para o pedido de demissão, no entanto, veio por causa da cloroquina, quando ela foi dar a notícia da morte de um paciente à família. “Sei que é um momento complicado. Entendo a agonia e a angústia das pessoas, mas começaram a me chamar de assassina porque eu não tinha usado cloroquina no tratamento”, disse. “As pessoas não entendem que não existe benefício no uso da cloroquina porque o presidente fala que tem benefício. E acreditam piamente nisso. Ninguém entende que a gente não usa justamente porque não tem benefício” afirmou ela, que trabalhou com pacientes da covid-19 desde o início da pandemia.” [Estadão]
É difícil de dar conta do cretinismo presidencial:
“Jair Bolsonaro é um homem com pouco conhecimento das coisas. Na quinta-feira (23), depois de voltinhas de motocicleta pelos jardins do Alvorada e de um colóquio, sem máscara, com funcionários da limpeza, o presidente infectado proseou com apoiadores que o pajeiam às portas do palácio: “Não tem como evitar morte no tocante a isso [Covid]. No Brasil ninguém morreu, que eu tenha conhecimento, por falta de atendimento médico. Todos os recursos o governo repassou para estados e municípios”. Cenas excruciantes de usuários do SUS na fila por uma vaga nas unidades de saúde em estados que atingiram ou estão próximos do colapso do sistema público tornaram-se perversamente banais. Morre-se à espera, embora o presidente da Replúbica afirme não saber.” [Folha]
Não dava pra cravar isso antes da pandemia, imagine agora. E logo no começo da pandemia pelas bandas de cá o sistema de saúde de Manaus colapsou.
“Morre-se também porque hospitais lotados e alta ocupação de UTIs fazem com que a rede pública priorize o atendimento de quadros graves, deixando desassistidos casos menos severos que tendem a se complicar. Não à toa, esse é um dos fatores que levam a taxa de cura nas instituições privadas a ser maior que nas públicas, como revelado pela Folha. Em média, 51% dos doentes do sistema privado sobrevivem. No SUS, 34%.”
Na matéria do NYT tem esse trecho aqui, é sobre Tefé, no Amazonas, e vai ver Tefé não faz parte do Brasil, onde ninguém morreu sem atendimento:
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13. Economia em tempos de pandemia

“A CAF (Corporação Andina de Fomento) liberou na sexta (24) US$ 350 milhões pedidos pelo Brasil para ajudar a pagar o auxílio emergencial. Ao todo, o governo Bolsonaro pediu empréstimo de US$ 3,5 bilhões a organismos multilaterais, como o Banco Mundial, para bancar parte dos custos com o programa.” [Folha]
Podia pedir uns milhões pros milicos, hein, tá sobrando por lá…
E o Adolfo Sachisda, secretário do Guedes, me irritou ao falar sobre o crescimento em V da economia:
“Depende. Se nós não tivermos sucesso nas reformas, não. Se tivermos sucesso, sim. Logo que começou a pandemia, os dados de março começaram a ir muito mal. Em abril, estavam péssimos. Muitas projeções colocaram o Brasil com queda de 7% [do PIB em 2020]. Mas o que eu vejo hoje é um movimento de convergência justamente considerando que a retomada está com uma velocidade maior. A partir de julho, teremos 18 meses que vão entrar para a história do Brasil, 18 meses de reformas.” [Folha]
Armínio Fraga escreveu sobre dívida pública e moeda pelas bandas de cá:
“Um sinal de que o mercado já está pressionado no Brasil é a queda do prazo médio da dívida pública de um pico de 4,5 anos em 2016 para os 3,7 anos atuais. Tal queda em geral reduz o custo da dívida —é o caso hoje— mas ao encurtar o prazo dos vencimentos aumenta o risco de problemas com a rolagem da dívida. As necessidades de financiamento do governo neste ano (a soma do déficit público com as amortizações de dívida do ano) devem chegar a 46% do PIB, cerca de 1,7 vez as reservas internacionais. Até a recessão que começou em 2014-15, esse número oscilava entre 20% e 25%. Minha avaliação é que estamos em zona de alto risco. Uma surpresa negativa interna ou externa pode detonar uma crise macroeconômica de enormes proporções, sobretudo dado que a economia ainda se encontra muito debilitada. Já passamos do ponto de acumular dívida. O que fazer? Resta muito pouco espaço para cortes no orçamento. As demandas de gastos ligados à pandemia devem adentrar o ano que vem. Não vejo solução sem algum aumento da carga tributária pela via da eliminação dos elementos regressivos do Imposto de Renda e sem as reformas de longo prazo da Previdência e do Estado, como venho defendendo aqui desde antes da pandemia.” [Folha]
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14. Obituário

Que doideira isso aqui. Primeiro foi o jornalismo local a desaparecer, e isso tem e terá um impacto brutal ao parco funcionamento democrático brasileiro. E agora é a vez dos jornalões, e imagine aí um mundo de fake news sem imprensa – pelo menos a imprensa como conhecemos. O texto é do Nelso de Sá:
“Há dois meses, o tabloide Daily Mail deixou o Sun para trás em circulação, após quatro décadas, no que foi recebido como uma mudança histórica. Mas veio o balanço do segundo trimestre, e o grupo registrou uma queda, na publicidade impressa e digital, de 45%. A audiência do Mail Online, já entre as maiores de jornal em inglês no mundo, com versões em diversos países, disparou 37%, mas a publicidade online caiu 17% —e ele não cobra assinatura. O resultado foi agravado pela pandemia, porém reflete tendências anteriores de uma imprensa que serviu de farol para o jornalismo no mundo, na segunda metade do século 20, Brasil inclusive, e se vê hoje sob ameaça existencial. Desde o final do ano, por exemplo, o Telegraph, jornal de onde saiu o primeiro-ministro Boris Johnson, está à venda. E o Times estuda se juntar ao Sunday Times para, somadas as Redações, oferecer conteúdo capaz de disputar o mercado global com New York Times e outros.
Mas são mesmo as demissões dos últimos meses, quando as ilusões inglesas em relação ao vírus caíram de vez, que chocam mais. A Economist anunciou 90. O grupo do tabloide Daily Mirror, 550. Em televisão, a BBC acaba de confirmar 520 demissões, com programas inteiros, como The Andrew Neil Show, saindo do ar. A rede pública já havia falado em 450 em janeiro, mas adiou devido à pandemia —e agora acrescentou 70. Culminando o movimento, o Guardian anunciou 180 cortes, 70 na Redação, e a extinção de cadernos tradicionais como Weekend e Review. Abriu negociações com seu cartunista histórico, Steve Bell (charge acima, de 22/7, com os americanos Mike Pompeo e Trump jantando Johnson), para reduzir ou talvez eliminar suas colaborações. “O Guardian não tem mais a relevância dos tempos de [Alan] Rusbridger”, descreve Daniela Pinheiro, que foi curadora do Festival Piauí de Jornalismo e hoje é bolsista do Instituto Reuters, em Oxford, citando o editor de coberturas históricas, como as revelações de Edward Snowden.
Tanto no jornal como na BBC, a justificativa dada é a pandemia. “Se não fizermos mudanças, não seremos sustentáveis”, afirmou o diretor de jornalismo da emissora, em comunicado. “Essa crise nos levou a reavaliar como operamos como organização.” A nota do Guardian projetou para este ano uma diminuição de receita superior a 25 milhões de libras (R$ 166 milhões) e falou em “perdas anuais insustentáveis nos próximos anos, a menos que tomemos medidas decisivas”. O resultado contrasta com o quadro de um ano atrás, quando a publicação chegou a ser saudada como modelo para o “futuro digital dos jornais” pelo Nieman Lab, de Harvard, nos EUA, devido a seu programa de doações dos leitores. Era uma miragem, após uma década traumática, em que algumas das principais instituições jornalísticas inglesas foram vendidas para grupos estrangeiros.
Da agência Reuters, hoje canadense, ao Financial Times, japonês, e ao Evening Standard, parte russo e agora também saudita. O quadro tem levado algumas das principais vozes do jornalismo do país, como Emily Bell, ex-editora no Guardian, a defender subsídio estatal, como na Alemanha e outros europeus. Já houve até estudo encomendado pelo governo nessa direção. “O financiamento público é um tema muito discutido aqui”, relata Pinheiro, acrescentando, porém, ser cada vez mais controverso, como acontece neste momento no debate em torno da BBC. “Acham que, quando você põe dinheiro público, não consegue escapar do controle. E da crítica.”” [Folha]
Que doideira, um mundo sem uma imprensa forte há de ser mais distópico do que os tempos atuais. Some aí tecnologias capazes de forjas áudios e vídeos, a fake news de hoje nada será perto do que virá nos próximos anos. E smepre lembrando que o Medo e Delírio só existe pelos jornalões, melhor com seus defeitos que sem eles.
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15. Cenário Carter

Bom texto do Roberto Simon:
“Um mês e meio antes da eleição presidencial americana de 1976, a revista Playboy dos EUA publicou uma longa entrevista com o democrata Jimmy Carter. Em um trecho, o candidato –que derrotaria o presidente Gerald Ford– abordou o Brasil. A camaradagem do governo Ford com Brasília era “o tipo de coisa que nós queremos mudar”, avisou Carter. O Brasil, afinal, era uma ditadura “em muitos aspectos, altamente repressiva”, e a política externa de Washington não deveria trair valores americanos “em troca de vantagens temporárias”. Em seis meses de governo Carter, Brasil e EUA viveriam a pior crise na história da relação bilateral. A questão dos direitos humanos era uma das duas pernas do problema. A outra era o programa nuclear brasileiro, que avançava rumo ao controle completo do ciclo do átomo.
O governo Carter espezinhou ditaduras sul-americanas e melou parte do acordo nuclear do Brasil com a Alemanha. Em retaliação, a ditadura suspendeu praticamente toda colaboração militar com os EUA. Caso Joe Biden vença em novembro, quais são as chances de um “cenário Carter” nas relações dos EUA com o Brasil de Jair Bolsonaro? Três meses de campanha numa pandemia equivalem a três décadas, e Donald Trump está ainda longe da derrota. Mas essa pergunta continuará a ganhar força daqui para frente. Há quem acredite que um choque frontal entre Biden e Bolsonaro seria inevitável. Uma análise fria, porém, aponta o contrário: um antagonismo profundo parece improvável, pelo menos na fase inicial de uma administração democrata. Primeiro, porque Biden teria mais o que fazer. Ele entraria na Casa Branca sobre os escombros deixados por quatro anos de Trump, em meio à pior crise da economia global em um século e enquanto a disputa com a China alcança níveis inéditos.
De um lado, o Brasil estaria relegado a um lugar secundário nessa agenda externa. De outro, ela reforçaria a importância de se evitar uma dor de cabeça com Brasília. Da competição global pela tecnologia 5G à recuperação latino-americana pós-pandemia, seria muito melhor a Biden encontrar um modus vivendi com Brasília. Ao mesmo tempo, o currículo de Biden indica que ele, pessoalmente, é um pragmático convencido da importância da relação com o Brasil. Com Dilma Rousseff no poder, foi o então vice-presidente americano quem liderou o plano de reconstrução dos laços bilaterais —fracassado em razão do caso Edward Snowden e de outros desencontros. Mas Biden realmente tentou e deixou um legado. Por exemplo, pontos do atual entendimento comercial entre Trump e Bolsonaro foram originalmente ideia sua. Sobretudo, se o democrata vencer, sua posição inicial será reativa.
A bola estará no campo do governo brasileiro. E é nesse ponto que as águas se tornam mais turvas. Bolsonaro não parece ter entendido inteiramente a lição com a Argentina, onde fez campanha aberta para o derrotado Mauricio Macri. Hoje a relação com Buenos Aires é a pior em décadas. “Torço pelo Trump”, soltou na semana passada, quando a vantagem de Biden na Flórida alcançou dois dígitos, ainda que tenha prometido trabalhar com Washington “se o outro lado ganhar”. Um “cenário Carter” é improvável, mas ele certamente é possível. Para a esquerda democrata, a questão ambiental é hoje o que os direitos humanos representavam nos anos 1970. Figuras como Ted Kennedy faziam campanha contra a tortura nos porões da ditadura, como os defensores do Green New Deal denunciam o desmatamento na Amazônia. É difícil saber como seria o equilíbrio de forças entre progressistas e moderados sob Biden. Mas diante de uma piora da questão ambiental, ou se Bolsonaro tentar alguma maracutaia institucional, uma crise com o Brasil se tornaria incontornável –e talvez uma oportunidade para o democrata unir sua base.” [Folha]
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16. Sobre o império

Dia desses postei um bom texto aqui sobre o saudosismo monárquico e o Chrystian Linch esceveu uma coluna sobre:
“Em comentário a artigo sobre a nostalgia imperial publicado na Ilustríssima, professor defende que uma leitura mais atenta às complexidades do passado evitaria visões dicotômicas e a projeção de preferências ideológicas atuais sobre o período do Império, tratado ou como maravilhoso reinado de Pedro 2º ou como regime de horror do latifúndio escravista.” [Folha]
Eu li isso meio ressabiado mas é bem interessante:
“Os conservadores americanos idealizam o período dos pais fundadores da República, ao passo que os argentinos e chilenos idealizam suas repúblicas oligárquicas da virada do século. Não houvesse monarquia aqui, os conservadores brasileiros idealizariam algum período republicano. A referida tendência a opor o Império à República passa a ilusão de regimes estanques. Não faz sentido, porque não houve uma monarquia, mas várias: absoluta sob João 6º, representativa sob Pedro 1º, parlamentarista sob Pedro 2º. Monarquia que foi conservadora em sua primeira metade e progressista na segunda. Esquecemos frequentemente que também houve várias repúblicas no Brasil: ditatoriais sob Deodoro/Floriano, o Estado Novo e o regime militar; oligárquica na República Velha; e democratizantes ou democráticas, como as de 1946 e 1988. O regime de governo, em si mesmo, pelo simples fato de ter coroa ou faixa presidencial, não diz nada de específico sobre seu conteúdo. Arábia Saudita, Tailândia e Grã-Bretanha são monarquias. França, Paraguai e Síria são repúblicas. O que isso diz sobre questões como liberdade e igualdade? Nada.
A essência supostamente conservadora atribuída ao Império nesse plebiscito também é discutível. Houve liberais (Rui Barbosa e Joaquim Nabuco) e socialistas (Barata Ribeiro e Lima Barreto), para quem as últimas décadas do período monárquico foram mais progressistas que a Primeira República. Por outro lado, vários republicanos conservadores (como Carlos Peixoto) e positivistas (como Carlos Maximiliano) recriminaram o Império por ter sido liberal demais, permissivo demais em matéria de liberdade de imprensa e de costumes políticos. O maior dos reacionários brasileiros, Jackson de Figueiredo, era na década de 1920 um ultramontano republicano, condenando a defunta monarquia brasileira por seu excesso de liberalismo. Qual desses impérios foi o “verdadeiro”? Provavelmente os dois, o conservador e o liberal, que existiram em épocas diferentes. O único que não existiu foi o império reacionário, justamente este que, ironicamente, anda nos corações da direita radical.
Nesse plebiscito eterno, esquece-se frequentemente que, para os moderados ou centristas do século 19, as diferenças entre os dois regimes eram muito menores que hoje se imagina. O grande modelo político de civilização era a monarquia britânica e, por isso, eles viam monarquias constitucionais como espécies de repúblicas coroadas. Na América hispânica, vários países se tornaram repúblicas por falta de opção, por não terem um príncipe à mão. Os mexicanos tentaram duas vezes o regime monárquico, e vários argentinos e chilenos também cogitaram a solução, não porque tivessem um fetiche por cetros e mantos, mas porque, no meio da guerra civil, achavam que um monarca teria mais condições de criar uma ordem nacional estável do que um presidente. Modernas teorias do desenvolvimento ou mudança política destacam a dificuldade de proporcionar uma ordem poliárquica quando não há regras prévias sobre os limites do conflito entre competidores pelo poder, que só podem ser conferidas pelo sentimento prévio de pertencimento a uma mesma comunidade. Em outras palavras, o imperativo de integração precede aquele de participação e de redistribuição.
Como o crescimento econômico depende da estabilidade, o Brasil cresceu pouco durante a primeira metade do século 19. Empobrecida e destroçada pelas guerras civis, toda a região da América Latina cresceu pouco até 1860/1870, época em que os capitais estrangeiros começaram a fluir. Nada a ver, mais uma vez, com o regime de governo. O primeiro meio século do Estado brasileiro, sob as vestes da monarquia, não é negativo quando considerado pela obra deixada em matéria de integração. Argentina, Colômbia e México, por exemplo, só conseguiram organizar seus Estados nacionais depois da década de 1870. Como república, só o Chile conseguiu estabilizar o Estado nacional tão cedo quanto o Brasil (1835-1840). Todavia, confirmando a relatividade das formas de governo, os chilenos, para consegui-lo, organizaram uma república “monárquica”, com severas restrições à imprensa e à participação, ao passo que os brasileiros organizaram uma monarquia “republicana”, com uma liberdade que, apesar de muito inefetiva e restrita aos grupos dominantes, ainda era a menos cerceada do subcontinente. Para reconhecer esse aspecto positivo do regime monárquico, não é preciso ser monarquista. Pode-se, perfeitamente, ser republicano, como é o caso aqui.
Quanto à escravidão, sua associação à monarquia também não é simples. Sua extinção foi lenta e gradual em todas as sociedades onde estava arraigada. Na república dos EUA, a escravidão durou ainda quase um século depois da independência —só terminou abruptamente por conta de uma guerra civil (1865). Não fosse a guerra, teria durado muito mais. Nas repúblicas hispânicas, em que a escravidão estava menos entranhada, a onda abolicionista só ocorreu na segunda metade do século: Equador (1851), Colômbia (1851), Argentina (1853), Venezuela (1854) e Peru (1855). Em nenhum país independente do continente a escravidão estava tão difundida como no Brasil.
Caso a monarquia não houvesse vingado por aqui, as diversas repúblicas surgidas em seu lugar teriam certamente preservado o regime escravista por mais tempo que todas as repúblicas vizinhas referidas, ao menos nas regiões brasileiras de maior dinamismo econômico, como o Sudeste. O que tornou insuportável o escravismo no mundo não foi a multiplicação de repúblicas, mas a associação definitiva entre democracia e civilização. Ainda assim, os descendentes dos escravizados ainda teriam um longo caminho para terem reconhecidos e efetivados seus direitos. Com sua filosofia política embebida de darwinismo social, a Primeira República não se saiu melhor nessa matéria, nem as repúblicas posteriores. Para concluir, tendo em vista a incontornável natureza ideológica da vida democrática, não é uma aberração que cada grupo político invente narrativas históricas, tendentes a legitimar sua visão de mundo, e que elas sejam contestadas por seus adversários. A invenção de versões e genealogias faz parte da luta política.
Sob esse aspecto, se deve compreender a fantasia reacionária da maior parte dos monarquistas atuais, com sua salada de referências díspares, que põe lado a lado Bonifácio, Nabuco, Mises, João Paulo 2º e Olavo de Carvalho. Para isso, contudo, é preciso resistir à tentação em sinal invertido: ter como verdadeira a associação reacionária com o Império. O bicentenário da Independência vem aí, e seria uma pena desperdiçar a efeméride, limitando-se somente a relançar a gasta narrativa, à direita e à esquerda, que condena o Império a ser o pai do Estado Novo e o avô do regime militar. Ou, agora, o bisavô do governo Bolsonaro. A história pode ser mais que um fútil exercício de política retrospectiva, no qual o estudioso retroprojeta as próprias preferências ideológicas sobre cadáveres e faz, de um cemitério, o campo de batalha de suas causas presentes.”
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17. Alô, Mossad!

Doideira!
“No dia 25 de junho, uma grande explosão pode ser vista e ouvida pelos moradores da região metropolitana de Teerã, lar de cerca de 15 milhões de pessoas. Na versão oficial, se tratou de um acidente, sem vítimas, em uma unidade de armazenamento de gás próxima ao complexo militar de Parchin, local ligado ao programa iraniano de desenvolvimento de mísseis. Dias depois, um incêndio era registrado dentro da instalação nuclear de Natanz, onde ocorre boa parte do enriquecimento de urânio no país, em um caso ainda sem explicação oficial. Nas semanas seguintes, o Irã se veria diante de dezenas de casos semelhantes: incêndios em centrais elétricas, explosões industriais e acidentes aparentemente sem explicação, dando margem a especulações de sabotagem externa. Além de analistas estrangeiros, funcionários do próprio governo não descartam a hipótese de um ataque vindo além das fronteiras, apontando diretamente para EUA e Israel, que no passado realizaram ações semelhantes. A principal delas, um ciberataque contra Natanz em 2010, causou atrasos no programa nuclear local, anos antes da assinatura do acordo que estabelecia limites às atividades atômicas iranianas em troca do alívio das sanções e melhores condições no comércio internacional.
Donald Trump, responsável por romper o acordo, repetiu incontáveis vezes que não permitiria que Teerã obtivesse uma arma nuclear, algo que jamais chegou perto de acontecer. Israel, maior parceiro americano no Oriente Médio, segue a mesma linha — e a conjunção desse discurso e dos locais onde ocorreram os incidentes mais graves destas últimas semanas aumentou as suspeitas. Em especial Natanz, onde imagens de satélite mostraram grandes estragos provocados pela explosão, ocorrida em uma unidade de produção em massa de centrífugas usadas para o enriquecimento de urânio. David Albright, fundador do Instituto, afirma que a retomada das atividades no ICAC levará em torno de um ano. Isso não significa que o país deixará de montar novas centrífugas, mas sim que os avanços propagandeados pelo governo podem levar mais tempo para sair do papel. — Mesmo que a destruição do ICAC não elimine todos os riscos apresentados pelo programa de centrífugas do Irã, sua destruição eliminou a ameaça mais perigosa apresentada pelo programa em curto e médio prazo — pontuou David, se referindo às declarações dos iranianos prometendo uma expansão rápida das atividades de enriquecimento.
Na sexta-feira, o site de notícias Didban Iran afirmou que o empreiteiro Ershad Karimi, que tinha acesso ao prédio atingido, foi o responsável por colocar um explosivo dentro do ICAC. Não foram revelados detalhes sobre os motivos de Karimi. Mas alguns sinais levantados por analistas podem dar pistas. Em artigo no Washington Post, Dalia Dassa Kaye, diretora do Centro de Políticas Públicas para o Oriente Médio da Rand Corporation, um centro de estudos dos EUA, afirma que há uma boa chance de Israel ser responsável. Para ela, os israelenses veem os iranianos fragilizados pelas sanções americanas, que devastaram a economia local, pela recente onda de protestos e pelo impacto da pandemia do novo coronavírus. Nessa linha, ataques poderiam passar a ideia de que o governo havia perdido o controle, incentivando grupos que buscam a derrubada do regime, como pontuou o analista Abbas Abdi, em entrevista ao New York Times. Caso seja mesmo uma estratégia, ela pode se mostrar extremamente perigosa. Além de eventuais retaliações, sabotagens externas podem fortalecer o discurso de que é necessário acelerar o passo rumo a uma arma nuclear. Para Mahsa Rouhi, especialista em Irã do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, atos dessa natureza vão minar esforços de não proliferação a longo prazo, além de dar voz aos setores mais radicais do regime.” [Estadão]
Mas não é só sabotagem exetrna que explica isso:
Com Natanz e mesmo Khojir à parte, fica a dúvida sobre as dezenas de explosões e incêndios das últimas semanas. Grupos de oposição foram a público assumir a responsabilidade pelos atos, sem apresentar qualquer evidência de que estavam falando a verdade. Mas um fator acabou sendo deixado em segundo plano: o péssimo estado da infraestrutura iraniana. Esfandyar Batmanghelidj, editor do site Bourse & Bazaar, especializado na economia do Irã, lembra que um grande salto global de desenvolvimento ocorreu enquanto o país era alvo de sanções. Após o acordo sobre o programa nuclear, o Irã literalmente foi às compras, buscando expandir grandes projetos com o capital internacional que estava disponível. Mas o retorno das sanções e o agravamento das condições econômicas colocou um freio a esses planos. Investimentos necessários não foram concluídos, e falhas se tornavam mais frequentes. Em um exercício de comparação, a pesquisadora italiana Tiziana Corda analisou uma série de explosões, vazamentos e incêndios, ocorridos no Irã entre maio e julho de 2019, um período até mais abrangente que o dos casos reportados em 2020. Usando como base matérias publicadas na agência estatal Irna, ela identificou 97 incidentes, cerca de um por dia, igualmente localizados em centrais elétricas, hospitais, centros de pesquisas, navios e depósitos de armas.”
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18. EUA vs China

E o pessoal da direita americana que tentou invadir a embaixada chinesa em Houston?!
E olha a doideira:
“Uma pesquisadora chinesa, da Universidade da Califórnia, em Davis, acusada por autoridades americanas de mentir sobre seu serviço militar foi presa e deverá comparecer perante um tribunal na segunda-feira, no mais recente episódio de tensão entre os dois países. No dia 20 de junho, Tang Juan foi interrogada por agentes do FBI, a polícia federal americana. Dias depois, promotores entraram com uma queixa criminal sigilosa contra ela, buscando um mandado de prisão por fraude de visto. Os promotores disseram que, pouco tempo depois da entrevista, Tang deixou Davis e buscou refúgio no consulado da China em San Francisco. De acordo com o processo judicial que corre em um tribunal federal de Sacramento, na Califórnia, Tang é acusada de mentir em seu pedido de visto, afirmando que não havia servido nas Forças Armadas chinesas nem era membro do Partido Comunista Chinês. Tang solicitou um visto americano em outubro para estudar tratamentos contra o câncer. Os agentes do FBI a interrogaram em seu apartamento em Davis e apreenderam material eletrônico com um mandado de busca. Os agentes encontraram uma fotografia dela em uniforme militar no material eletrônico apreendido. A pesquisadora disse que tinha que usar a uniforme para frequentar a Faculdade de Medicina da Força Aérea chinesa. Eles também encontraram um pedido de benefícios do governo no qual ela teria listado sua afiliação ao Partido Comunista, de acordo com a declaração do agente que a interrogou.” [O Globo]
Digamos que ela tenha mentido, pode prender gente em embaixada?! Foi só Trump mandar fechar a embaixada que o status dioplomático se foi?!
“Uma autoridade do Departamento de Justiça disse a jornalistas que Tang foi detida na noite de quinta-feira e não tinha imunidade diplomática, mas não revelou as circunstâncias da prisão.”
“Há pelo menos mais um pesquisador chinês nos EUA, da Universidade Stanford, também na Califórnia, que foi interrogado pelo FBI. A caçada contra acadêmicos chineses na Califórnia foi revelada após os EUA ordenarem o fechamento do consulado chinês em Houston na terça-feira, e é a mais recente frente de tensões entre os dois países. Em retaliação, a China fechou o consulado americano em Chengdu.”
Igor Gielow escreveu sobre o risco de uma guerra:
“O acirramento da disputa entre os Estados Unidos e a China tem levado a um questionamento crescente, nos meios políticos e acadêmicos no mundo todo: isso vai acabar em guerra? Não existe consenso quando processos geopolíticos são confrontados com a rapidez inaudita do nosso tempo. Grosso modo, analistas de ambos os lados tendem a concordar que um conflito militar não interessa hoje aos países, mas que algo pode dar errado se as frentes de atrito que se multiplicam gerarem alguma faísca incontrolável.” [Estadão]
Qual a chance dum desesperado Trump gerar essa faísca e meter o miguém que não dá pra ter eleição em plena guerra?!
Algumas premissas estão colocadas. A China é a principal potência emergente e os Estados Unidos, a estabelecida como dona da ordem mundial no pós-Guerra Fria. A partir daí, um projeto idealizado pelo historiador Graham Allison na Universidade Harvard tem sido usado como base para muitas das discussões sobre a Guerra Fria 2.0 em curso no mundo. Trata-se do Projeto Armadilha de Tucídides. Tirando seu nome do famoso cronista grego da Guerra do Peloponeso (século 5º a.C.), ele examina conflitos ao longo da história envolvendo um novo poder que desafia outro dominante. No Peloponeso, Tucídides atribuiu a guerra ao temor de Esparta ante a ascensão de Atenas, que se espraiou por um século em vários campos. Os 16 primeiros embates analisados viraram um livro de Allison, “Destinados à Guerra” (2017), que discute o risco apontado pelo autor de Pequim e Washington irem às vias de fato.
Em 12 dos exemplos, houve guerra. Allison foi criticado por simplificar as coisas, mas o caso apresentado é convincente. Um colega de Harvard, o notório cientista político Joseph Nye, considera que a China mais corre um risco de outra natureza: o de repetir os EUA dos anos 1920 e 1930. Ali, tendo suplantado o Reino Unido como potência dominante, no caso sem conflito, Washington falhou como provedora mundial de bens comuns para as nações. Ou seja, um sistema financeiro internacional estável, livre comércio, mecanismos de resolução de conflito azeitados. O resultado foi a Grande Recessão, uma das mães da Segunda Guerra Mundial. Todos esses casos são ocidentais em essência, pois o trabalho de Allison se concentra nos últimos 500 anos. Isso pode gerar distorções.
O Ocidente, argumentam chineses e sinófilos, vê uma China buscando hegemonia a seu estilo. Isso pode estar errado, dada a milenar tradição chinesa de governança. Por ela, Estados a seu redor são tributários de seu poder, mas o imperador raramente se envolvia em assuntos internos. Com efeito, todo o discurso hoje de Xi Jinping é em favor do multilateralismo. “Nos últimos 30 anos, a China evoluiu de beneficiária para advogada e defensora da globalização”, escreveu Zhao Moran, do Centro Chinês para Intercâmbio Econômico Internacional, de Pequim. Os EUA duvidam disso, como deixou claro o secretário de Estado, Mike Pompeo, em discurso na quinta (23) que evocou clichês da versão original da Guerra Fria entre americanos e soviéticos. Isso atende a interesses eleitorais mais imediatos de Donald Trump, assim como a escaramuça diplomática envolvendo fechamento de consulados, mas ecoa uma rivalidade geoestratégica colocada. Tanto é assim que o termo cunhado por Allison em um artigo para o jornal britânico Financial Times foi incorporado até por Xi. Ele disse, em 2017, que EUA e China deveriam evitar a tal armadilha. Trump elegeu-se com uma plataforma populista que igualava a China a uma ladra de empregos americanos. Empreendeu então uma guerra tarifária, ora paralisada numa trégua, mas a coisa mudou de figura neste ano. Não é culpa exclusiva dos excessos do trumpismo. A Iniciativa Cinturão e Rota, projeto de infraestrutura global da China, abrange 138 países e é chamada de “armadilha de dinheiro” por militares americanos. No aeroporto da turística Luang Prabang (Laos), até os cartões de embarque propagandeiam o projeto.
O barulho político vem crescendo nas últimas semanas, com a inserção de questões militares mais sérias: desde 2014 Pequim militariza o mar do Sul da China, garantindo na prática a soberania que clama sobre 85% da região. Os EUA estrilaram, mandaram bombardeiros e porta-aviões para lá, e é aí que a teoria de Allison enfrenta a realidade. O americano sugere que a contenção da China se dará por meios da antiga Guerra Fria: o medo de um conflito nuclear e concessões. No primeiro item, é questionável se Washington e Pequim evitariam um conflito regional. Ao contrário da Rússia, uma guerra não teria a escalada quase inevitável ao Apocalipse no caso chinês atual. Pequim tem 320 ogivas, ante 1.750 dos americanos. Nem a China pode fazer frente aos EUA, nem Washington teria interesse em vaporizar a maior população do planeta. Há quem aponte dissuasão na aliança militar sino-russa, mas ela também é limitada por rivalidades históricas. No segundo ponto, Allison crê que os EUA podem entregar a proteção que dão a Taiwan, permitindo a absorção da ilha pelos chineses, em troca de mares livres na região. Isso parece datado, dada a expansão chinesa e o aumento crescente de suas capacidade militares convencionais.
Essa leitura sofre dupla contestação por um dos expoentes da geopolítica, o americano George Friedman, da consultoria Geopolitical Futures. Ele sustenta que o nó interno chinês é tão grande, dada sua enorme energia produtiva voltada à exportação, que os EUA só precisam manter as capacidades atuais de negação de rotas marítimas a Pequim para manter o status quo. Além disso, comparativamente, o poderio militar e econômico americano é tão superior que as ambições chinesas são mais limitadas do que parecem no horizonte visível. De fato, o PIB de Pequim é de US$ 14 trilhões, ante US$ 22 trilhões dos EUA, antes da pandemia. Já Washington gasta três vezes mais do que os chineses com a área militar, o tal bem comum que falhou em entregar nos anos 1930. Além disso, há a enorme interdependência econômica entre os países, que têm quase meio trilhão de dólares investidos entre si. Os Estados Unidos compram cerca de 5% da produção de Pequim, e a China é o país que mais detém dívida americana: 5% dos US$ 23 trilhões em títulos do Tesouro.
O que, obviamente, não significa que ambos os países não possam rumar a um choque maior. O status de Taiwan permanece num limbo porque nem a China quer invadi-la, nem os EUA querem ir à guerra prometida se isso acontecer. Mas no mar do Sul da China, o risco de acidentes é grande. Um caça chinês já colidiu com um avião espião americano em 2001, e em 2018 um navio de guerra dos EUA quase foi afundado num choque com outro de Pequim naquelas disputadas águas. Estratégia à parte, guerras muitas vezes começam por erros táticos ou incidentes pequenos em um ambiente de alta volatilidade. “A questão é que é impossível controlar uma guerra depois que ela começa”, escreveu Hu Bo, diretor do Centro de Estudos de Estratégias Marítimas da Universidade de Pequim.”
E por falar em China, os australianos tão tomando um baile…
“No South China Morning Post, “Posição da Austrália como maior fonte de minério de ferro da China está sob ameaça, com megaportos abertos para Brasil e África”. Quatro deles foram liberados para navios como os Valemax, da Vale, e outros de África do Sul etc. É resposta à Austrália por se aliar aos EUA contra a China. O fim de semana trouxe também um aviso ao Reino Unido.” [Folha]
Vai, Boslonaro, bate nos chineses mesmo que vai dar muito certo.
E lembra daquela execeutiva chinesa presa no Canadá?
“O Global Times, ligado ao PC chinês, publicou que o “HSBC pode enfrentar fim da linha por conspirar com EUA contra Huawei”. O banco teria forjado “com o Departamento de Justiça uma armadilha” para a diretora da empresa presa há um ano e meio no Canadá. O HSBC postou mensagem ao público chinês no WeChat, insistindo não estar envolvido nas ações contra Meng Wanzhou. Virou manchete no Financial Times, com a foto acima e lembrando que 80% dos lucros do banco “sediado em Londres” vêm da Ásia. Em título, o Global Times descreveu a mensagem do HSBC como de alguém que “se debate no leito de morte”.”
Fui atrás da matéria e que cagada do HSBC:
“The new evidence shows how HSBC deliberately set up a trap, pieced together materials and fabricated evidence, to frame Huawei, which may also bury the lender’s reputation and prospects in the industry, said analysts. According to the new evidence, HSBC made large profits doing business with Huawei and understood the Chinese company’s relationship with Skycom, as there was a large amount of correspondence showing a normal business partnership. This evidence contradicted grounds for charging Huawei’s CFO Meng Wanzhou. The US accuses Meng of defrauding HSBC into violating US sanctions against Iran by failing to disclose the relationship between Huawei and Skycom. More specifically, Meng is accused of lying to an HSBC executive in Hong Kong in August 2013 about Huawei’s relationship with Skycom. However, the evidence indicated that HSBC understood this relationship but intentionally sold out its customer’s confidential business documents to the US side so that the US government could overlook the British bank’s own misconduct and not punish it under the 2012 Deferred Prosecution Agreement. In other words, HSBC sold out the Chinese company and colluded with the US government in depicting Huawei as the one responsible for violating the sanctions.” [Global Times]
Ah, e o Magnoli escreveu sobre a xadrez geopolítico:
“A China que já não sorri coloca em evidência o tema da emergência de uma grande potência numa ordem internacional construída pela principal potência anterior. O exemplo da ascensão de uma “potência satisfeita”, que vê a ordem existente como moldura adequada para alcançar seus objetivos nacionais, como o Japão do Pós-Guerra, já não se aplica ao caso chinês. A China tornou-se uma “potência insatisfeita”, como a Alemanha do entre-guerras, que enxerga a Pax Americana como obstáculo a seus interesses nacionais. Multiplicam-se as superfícies de atrito. Os EUA deslocam grupos navais para os mares do entorno chinês e promovem o boicote internacional das empresas chinesas de equipamentos de rede. O Quarteto, uma associação informal de segurança constituída por EUA, Japão, Austrália e Índia, inicia programas de estreita cooperação de inteligência. Aproximam-se do grupo o Reino Unido e a França, que decidiram banir a Huawei de suas redes 5G. Já a Índia, cuja rivalidade com a China renovou-se após o sangrento choque fronteiriço no Himalaia, anunciou uma megacompra de material bélico russo de mais de US$ 5,3 bilhões.
A Alemanha ressente-se da erosão da Aliança Atlântica provocada pelo isolacionismo de Trump, temendo converter-se em presa fácil dos tentáculos econômicos chineses. A saída encontrada por Angela Merkel é a repetição da aposta no projeto da unidade europeia, como nas encruzilhadas de 1950 (Comunidade do Carvão e do Aço) e de 1990 (Tratado de Maastricht). No Conselho Europeu, abandonando sua proverbial ortodoxia fiscal, aprovou algo como um “Plano Marshall da Europa”: o fundo de recuperação econômica de 750 bilhões de euros, dos quais 390 bilhões distribuídos na forma de doações. Os alemães sabem que o relógio da história não gira ao contrário, mas aguardam esperançosamente um triunfo de Biden para reativar a parceria entre Europa e EUA.
O “divórcio” tecnológico entre EUA e China seguirá, em ritmo acelerado, tanto no campo dos equipamentos quanto no dos softwares. Contudo, ao contrário de Trump, Biden rejeitará o nacionalismo do “America First” e buscará a cooperação diplomática da União Europeia. Durante a Guerra Fria, os EUA ergueram ao redor da URSS um “cordão sanitário” de alianças político-militares que se estendiam da Europa ao Extremo Oriente. O “cordão sanitário” que se esboça em torno da China é diferente, pois seus componentes são militares e tecnológicos e, ainda, porque o parque industrial chinês não será desligado da economia mundial. A globalização não sai de cena, mas ingressa em nova etapa, crivada pelo antagonismo sino-americano. Quando, livre de Ernestos e Olavos, o Brasil recuperar a capacidade de pensar racionalmente sua política externa, terá de encarar os complexos dilemas de uma ordem em complexa mutação.
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19. Um Trump Muito Louco

Faltam 100 dias para a eleição americana, nem fodendo Trump vai aceitar a derrota mas que festa bonita há de ser a derrocada do Trump, que não terá mais imunidade presidencial.
“A partir de hoje, Donald Trump e Joe Biden têm exatos 100 dias até a eleição dos EUA. O presidente surfava em bons números e parecia caminhar para a reeleição, até que a pandemia criou uma recessão histórica e os protestos antirracismo deram ao democrata o favoritismo. Enquanto Trump apela para a base republicana, Biden lidera onde realmente importa: nos Estados-chave que decidirão a disputa.” [Estadão]
Vai, meio-oeste!
“Pressionado pela perda de apoio e o aumento dos casos de covid-19, Trump mudou de rota nesta semana. Em curtas coletivas de imprensa na Casa Branca, diferentes das longas protagonizadas no início da pandemia, ele pediu aos americanos que usem máscara “como gesto patriótico”, anunciou o cancelamento de um dos eventos da convenção republicana que aconteceria na Flórida – atual epicentro do surto – e disse que a situação deve piorar antes de melhorar. A sobriedade no tratamento da pandemia vem depois de meses em que Trump pressionou governadores para relaxar as medidas de isolamento, o que levou o país a uma nova elevação no número de contaminados pelo coronavírus e ameaça a popularidade do presidente em Estados cruciais para a vitória eleitoral. A atual média das pesquisas eleitorais dá 8 pontos porcentuais de vantagem a Biden. Ganhar a maioria do voto popular não é suficiente para o democrata chegar à Casa Branca – já que a eleição americana é indireta, decidida em um colégio eleitoral –, mas os números nacionais se refletem na maioria dos Estados-chave, que costumam decidir a eleição.
Nos Estados do Cinturão da Ferrugem, região que votou em Barack Obama, mas deu a Trump a vitória em 2016 por apertadas margens, Biden ostenta mais de 7 pontos acima do presidente nas pesquisas em Wisconsin, Michigan e Pensilvânia. Na Flórida, a vantagem do democrata é de 7,6 pontos. Em Carolina do Norte, Arizona e Ohio, também Estados-chave, Biden tem mais de 2 pontos de vantagem. Os números são do Five Thirty Eight, site que agrega pesquisas eleitorais nos EUA. “Até agora, esse é o pior momento para a reeleição de Trump. A covid-19 ganhou um protagonismo maior do que a retórica política dele”, afirma Mauricio Moura, professor da Universidade George Washington e presidente do instituto de pesquisa Idea Big Data. O ineditismo da pandemia e o efeito político das crises sanitária, econômica e social têm dado sinais de que o próprio mapa de Estados-chave pode mudar, a exemplo do que aconteceu em 2016.
Alguns Estados tradicionalmente republicanos se tornaram competitivos e os democratas apostam em vitórias, tanto na corrida presidencial quanto nas disputas ao Senado. É o caso da Geórgia, onde os democratas venceram apenas uma vez nas últimas seis eleições presidenciais. O Estado, governado por um republicano, foi um dos primeiros a reabrir comércio e serviços, mas agora sofre com o aumento de casos e hospitalizações. Em março, Trump tinha quase 4 pontos de vantagem na Geórgia, mas agora tem só 1,4 ponto a mais. O presidente segue apontando culpados para o avanço do vírus no país. Nesta semana, ele afirmou que a China deveria ter contido a disseminação e disse que os casos cresceram nos EUA em razão das aglomerações causadas pelos protestos contra o racismo.”
E o que o Musk tem de gênio ele tem de escroto. ele só podia tá muito louco pra meter essa:
“Na sexta-feira (24/07) Elon Musk, diretor da Tesla, escreveu no Twitter “vamos dar golpe em quem quisermos! Lide com isso”, em resposta a uma postagem enviada ao bilionário sobre o seu interesse e dos Estados Unidos em tirar o ex-presidente boliviano Evo Morales do poder. O tuíte que provou Musk dizia: “Você sabe o que não interessa às pessoas? O governo dos EUA organizando um golpe contra Evo Morales na Bolívia para que você possa obter lítio lá”. Mais de 50% dos depósitos de lítio globais se encontram no “Triângulo do Lítio” – com fontes do material concentradas na Argentina, Bolívia e Chile. Os desertos montanhosos da Bolívia – o Salar de Uyuni – têm de longe as maiores reservas conhecidas. Num tweet bizarro, o empreendedor boliviano Samuel Doria Medina disse que já que Bolsonaro e Musk estão discutindo a abertura de uma fábrica da Tesla no Brasil, deveriam acrescentar nessa iniciativa o seguinte: “construir uma giga fábrica no Salar de Uyuni para fornecer baterias de lítio”. O governo Morales teve muita cautela com essas reservas de lítio. Tinha deixado claro que esses recursos preciosos não deveriam ser entregues às multinacionais, com acordos favorecendo as empresas. Qualquer lucro vindo do lítio, Morales afirmava, deve ser compartilhado adequadamente com o povo boliviano. O ponto principal da fala de Morales é que qualquer acordo deve ser feito em conjunto com a Comibol – a mineradora estatal Boliviana – e Yacimentos de Lítio – produtora de lítio estatal. Os ganhos monetários vindos da mineração deveriam entrar para os cofres públicos, e depois utilizados para financiar os programas sociais tão necessários no país. Essa política socialista foi demais para três grandes multinacionais – Eramet (França), FMC (Estados Unidos) e Posco da Coréia do Sul. As três se retiraram e foram para a Argentina.” [Ópera Mundi]
Se ainda tinha alguém se recusando a chamar de golpe o que acotneceu na Bolívia – e sim, o quarto mandato do Evo foi uma estupidez – taí uma boa hora pra dar o braço a torcer.
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>>>> Alô Aras, Jorginho, André e Ives, tão deixando vocês sonharem! “O presidente do Superior Tribunal de Justiça, João Otávio de Noronha, testou positivo para a Covid-19. Segundo a assessoria de imprensa do STJ, ele está assintomático e vai trabalhar da própria residência. Nos últimos dias, Noronha tem sido criticado por ter concedido prisão domiciliar para o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) Fabrício Queiroz e a mulher, Márcia Aguiar.” [O Globo]
>>>> Os conselhos de Michel Miguel: “Jair Bolsonaro conversou recentemente com Michel Temer sobre política ambiental. O ex-presidente explicou ao atual como o tema é relevante para a economia e a imagem do Brasil no exterior. Temer aconselhou Bolsonaro a não esticar mais ainda a corda com o pessoal do meio ambiente. Segundo interlocutores, o ex-presidente entende estar sob risco o importante acordo entre Mercosul e União Europeia. Temer lembrou que na ocasião da Renca (quando tentou abrir a reserva para mineração), até Gisele Bündchen se virou contra ele. Errou na forma e teve de recuar. Outro conselho foi para Bolsonaro realinhar sua política externa: pode gostar de Trump, Netanyahu, mas não brigar com China, Palestina e Argentina. Ele está preocupado com o impacto nas exportações do agro brasileiro, principalmente, de proteína animal. “Sei que seu chanceler é mais radical, mas…”, disse.” [Estadão]
>>>> Do Juan Manuel Santos, ex-presidente colombiano e ganhador do Nobel da PAz pelo acordo com as FARC: “Me preocupa muito, me dói muito como latino-americano o que ocorre no Brasil. O que Bolsonaro faz sobre o meio ambiente e a ordem internacional multilateral, no longo prazo, prejudicará toda a América Latina. A pandemia mostra que falar e atuar só com base na intuição e na ideologia não traz bons resultados. É triste para os latino-americanos ver os dois países mais importantes da América Latina nas mãos de populistas. O Brasil, com Bolsonaro, e o México, com López Obrador. Um de direita e o outro de esquerda. Por isso, a América Latina perdeu espaço no mundo inteiro. É inacreditável que neste momento em que a América Latina precisa de financiamento, não haja uma só voz reclamando o financiamento especial que está sendo dado ao resto do mundo. É incrível também que a América Latina perca a presidência do BID, que durante 60 anos foi a única instância internacional com um representante latino-americana que falava de igual para igual com o FMI e o Banco Mundial. Donald Trump propôs um candidato americano e é incrível que muitos países latino-americanos estejam apoiando esse candidato americano (o Brasil é um deles)… O ministro do Meio Ambiente sendo menos ambientalista que a ministra da Agricultura. São as contradições produzidas pelos regimes populistas.” [Estadão]
>>>> Bom resumo da surra que o governo tomou, do Ascânio Seleme: “A tentativa do presidente Jair Bolsonaro de posar como vitorioso na aprovação do Fundeb me lembrou um velho comercial de cigarros em que o Gerson, ex-craque da Seleção de 1970, terminava dizendo que o brasileiro gosta de levar vantagem em tudo. O governo, através de seu ministro da Economia, Paulo Guedes, e com o apoio de um dos principais líderes do centrão, deputado Arthur Lira, tentou alterar a emenda, transferindo recursos da educação básica para o Renda Brasil. O objetivo era financiar com dinheiro do Fundeb seu programa de clientelismo. Ao ver que não conseguiria aprovar a manobra, o governo tentou adiar a votação. Perdeu também. E então, como quem não quer nada, Bolsonaro foi passear nos jardins do Alvorada e disse aos apoiadores que se aglomeravam ali que conseguiu uma nova vitória na Câmara. Coisa de louco, ou de esperto. Como as palavras voam e seus seguidores acreditam em tudo, o presidente mentiu descaradamente. “Meu governo conseguiu mais uma vitória ontem, aprovamos o Fundeb e o Senado deve seguir o mesmo caminho”. Neste ponto ele foi interrompido por duas pessoas que exclamaram um “Graças a Deus!” e um “É isso aí!”. Suspeito que as duas não sabem sequer o que significa o Fundeb, mas como acreditaram que foi mesmo uma vitória de Bolsonaro, aplaudiram. O governo se omitiu na negociação do Fundeb ao longo de toda a sua tramitação na Câmara. Só meteu o seu bedelho quando ele foi ao plenário para votação. Aí quis mudar o texto, subtraindo recursos para fazer assistencialismo com dinheiro dos meninos do ensino público. E se deu mal. Mas Bolsonaro, um reconhecido esquizofrênico dado a alucinações e delírios, contou uma outra história para a claque do Alvorada. “Estamos aumentando a participação do Estado, coisa que o PT podia ter feito lá atrás e não fez. Aumentamos a contribuição do Estado com votação quase unânime”, disse o chefe do governo que quis reduzir os repasses… Para quem ainda tinha dúvida, a derrota estrondosa na votação do Fundeb deixou claro que para aprovar projetos de interesse do governo o centrão não serve. Sua utilidade é outra. O agrupamento fisiológico clientelista é bom para barrar encrencas para o presidente, como impedir com seus cento e poucos votos um impeachment, por exemplo. E olhe lá. Para entregar esta única serventia ele precisa ser muito bem açucarado. Vai recusar cargo para o centrão para você ver uma coisa. Esta turma já existia e atendia pelo mesmo nome em 1992, quando abandonou Fernando Collor por falta de mel.” [O Globo]
>>>> Conhecereis a verdade e bla bla bla: “O governo Jair Bolsonaro registrou no primeiro semestre deste ano o pior índice da história na concessão de dados públicos pela Lei de Acesso à Informação (LAI). Levantamento feito peloc Painel mostra que, entre janeiro e junho, órgãos federais decidiram abrir as informações em apenas pouco mais da metade das 86.656 solicitações recebidas (54%). Em 2019, no mesmo intervalo, as aprovações corresponderam a 68%. A lei entrou em vigor em 2012. Desde então, o índice de acessos concedidos nunca tinha ficado abaixo de 65%. O número de acessos negados seguiu estável, com 5.578 recusas (6,5%). Boa parte da diferença de respostas positivas deve-se ao direcionamento crescente de pedidos para o e-Ouv, canal de ouvidorias do Executivo. A plataforma, criada com a Lei de Proteção e Defesa do Usuário, em 2018, é destinada para “denúncias, solicitações, sugestões, reclamações e elogios.” “A discussão que precisa ser feita é sobre o limbo que fica, a linha entre o que é informação e deve ser tratado pela LAI e o que é reclamação e é de responsabilidade das ouvidorias. Isso acaba abrindo margem para várias interpretações”, destaca Manoel Galdino, diretor-executivo da Transparência Brasil.” [Folha]
>>>> Conhecereis a verdade e bla bla bla, parte 2: “O governo Jair Bolsonaro pediu e a Comissão Mista de Reavaliação de Informações (CMRI) barrou acesso a quatro mil páginas de relatórios de monitoramento de redes sociais produzidos pela Secretaria de Comunicação Social (Secom) durante o ano de 2019. A CMRI é a última instância da Lei de Acesso à Informação e sua decisão mantém longe do público documentos que a União tenta impôr sigilo desde o ano passado. Reportagem do Estadão mostrou em dezembro de 2019 que inicialmente a Secom alegou que a divulgação dos relatórios violaria a Lei de Direitos Autorais – entendimento rechaçado por especialistas em transparência pública. Em março, o governo mudou a argumentação, afirmando que se tratam de documentos preparatórios – ou seja, usados para tomada de decisão. O Planalto alegou ainda que ‘não se vislumbra interesse público’ na divulgação dos relatórios, que acompanham o ‘humor’ de usuários de quatro redes sociais em relação a ações do governo. Apesar de parecer técnico determinar a liberação dos documentos, a CGU atendeu a Secom no início do ano, e o processo subiu para análise da CMRI. Perante à comissão, o governo afirmou pela primeira vez a quantidade de documentos produzidos e a presença de informações pessoais de terceiros e dados que estariam protegidos por ‘sigilo empresarial’. Ao ser cobrada pela CMRI que explicasse o motivo para segurar os documentos, o governo Bolsonaro alegou que a divulgação dos relatórios poderia ferir o sigilo empresarial. Segundo o Planalto, constam nos documentos detalhes sobre a metodologia de trabalho da agência contratada, o que poderia ferir sua competitividade no mercado.” [Estadão]
>>>> Eita: “O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não participará de evento de lançamento da pré-candidatura de Jilmar Tatto à Prefeitura de São Paulo pelo PT nesta sexta-feira (24). Lula foi convidado na quarta (22), mas disse que já tinha outros compromissos marcados e que não poderá aparecer no encontro virtual. O ato está marcado para as 17h e será transmitido pelas redes sociais do PT-SP e de Tatto. A presidente do partido Gleisi Hoffmann, o ex-prefeito Fernando Haddad e o presidente estadual do partido Luiz Marinho participarão do evento. A ausência de Lula é sentida em um momento em que o ex-presidente é pressionado a forçar candidatura de Haddad à prefeitura, como mostrou reportagem de Folha. Trata-se, segundo o próprio Tatto, de seu primeiro evento oficial na condição de pré-candidato, do qual participarão aproximadamente 1.000 pessoas, que é o limite da sala virtual. O ato contará com o lançamento da plataforma SP da Gente, rede que tem como objetivo reunir demandas e sugestões dos paulistanos para a elaboração de plano de governo. Ao Painel Tatto diz que Lula não poderá comparecer por ter outras agendas marcadas previamente, mas que isso não tem qualquer relação com alguma pressão que possa estar sofrendo para escolher outro nome no PT para apoiar. Ele acrescenta que tem conversado com o ex-presidente para que façam outro evento juntos. Presidente do diretório municipal, Laércio Ribeiro diz que a não-participação de Lula não tem caráter político e não tem relação com a pressão que o presidente tem sofrido. “É um debate público essa pressão sobre o que o partido deveria fazer sobre a candidatura em São Paulo. Mas no estado e no municípios estamos muito coesos [em torno da candidatura de Tatto]”, diz. Ele também participará do ato, que ele diz que não será o lançamento da pré-candidatura. Ele também afirma que Lula participará dos próximos encontros. ” [Folha]
>>>> Do Ascânio Seleme: “Esta devo atribuir ao professor e ex-deputado Chico Alencar, que foi buscá-la no fundo do baú, mas é bastante útil nestes tempos de “filhocracia e nepotismo”, nas palavras dele. Trata-se do exemplo dado pelo grande escritor Graciliano Ramos, quando era prefeito de Palmeira dos Índios (AL), entre 1928 e 1930. Ele multou o próprio pai por deixar seus bodes soltos na cidade. Quando o pai reclamou, Graciliano respondeu assim: “Prefeito não tem pai. Eu posso pagar sua multa, mas terei que prender seus animais e multá-lo toda vez que o senhor os deixar na rua”.” [O Globo]
>>>> Cidadã de bem! “Conhecida por ser defensora do governo de Jair Bolsonaro, a youtuber Karol Eller e sua namorada, a policial civil Suellen Silva dos Santos, foram denunciadas na Justiça por denunciação caluniosa, porte ilegal de arma de fogo e, apenas no caso de Karol, lesão corporal. Em dezembro do ano passado, a youtuber se envolveu numa briga em um quiosque da praia da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Na época, o caso chegou a ser tratado pela Polícia Civil como um ataque homofóbico. De acordo com a denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), “após ostentar, sem o necessário porte legal, uma arma emprestada por sua namorada no calçadão da praia da Barra”, a youtuber discutiu com o supervisor de manutenção Alexandre Silva, e os dois se agrediram. Dois dias após a briga, Karol chegou a compartilhar uma mensagem nas redes sociais com o seguinte texto: “Aprenda a respeitar a escolha das pessoas, seja ela religião, política, opção sexual, seja lá qual for. Só respeita!”. O caso foi registrado como lesão corporal e injúria por preconceito, tendo a homofobia como motivo das agressões. Na época, artistas e personalidades prestaram solidariedade à youtuber nas redes sociais. Em depoimento à polícia, Suellen contou que Alexandre se referiu a Karol como “ele” e disse que ela “não era mulher”, “era homem”. Alexandre negou as acusações, dizendo que quando chegou ao quiosque Karol estava com uma arma na cintura, além de ter se apresentado como delegada federal. Segundo ele, a briga teria começado quando a youtuber deu um soco no rosto do amigo dele e o agarrou, fazendo com que ambos caíssem no chão. No entanto, de acordo com o Ministério Público as investigações mostraram que, apesar de a polícia ter indiciado Alexandre por lesão corporal em excesso de legítima defesa, a gravidade da lesão causada em Karol foi provocada na verdade por um tombo que a blogueira sofreu após a briga ter sido apartada. A denúncia cita ainda um laudo assinado pelo legista responsável pela investigação. “Da própria análise das câmeras de vídeo e dos depoimentos dos funcionários que estavam no local, constata-se que as agressões físicas se iniciaram por parte de Karol. Ela corre em direção a Alexandre para agredi-lo. A partir dessa primeira agressão, ele passou a agir acobertado pela excludente da ilicitude de legítima defesa”, diz um trecho da denúncia. A promotoria afirma que em um áudio encaminhado pelo Whatsapp a um jornalista, Karol confessou que em momento algum o supervisor de manutenção se dirigiu a ela com conotação homofóbica. Além de a youtuber e a namorada terem sido denunciadas, a denúncia contra Alexandre foi arquivada pela Justiça.” [O Globo]
>>>> É você, Odorico?! “Faltando quatro meses para a eleição, os prefeitos passam a fase das inaugurações. Qualquer inauguração vale. É do jogo. No dia 6 de agosto, por exemplo, já botou em sua agenda: tal qual , lança a pedra fundamental de um cemitério na Zona Portuária do Rio de Janeiro.” [O Globo]
>>>> Puta que pariu… “Hamilton Mourão pode ser o presidente do Conselho da Amazônia, mas quem é o guru de Jair Bolsonaro em questões ambientais é o pesquisador , diretor na Embrapa. As falas negacionistas de Bolsonaro (e também de Nabhan Garcia, secretário especial de Assuntos Fundiários) são uma espécie de xerox do que Miranda diz em suas palestras Brasil afora. A propósito, em sua live de quinta-feira passada, Bolsonaro disse literalmente que “a floresta amazônica não pega fogo”.” [O Globo]
>>>> Só tem gênio! “A proposta de reforma tributária do ministro Paulo Guedes revoga a Lei do Sicobe, o sistema de controle de bebidas frias (entre eles, a produção de cerveja e refrigerantes). O sistema estava provisoriamente suspenso desde 2016 e, pela proposta, acabaria de vez agora. Quando foi implementado, o controle mais rígido ajudou a combater a sonegação no setor e elevou a arrecadação em 20%. Segundo investigações conduzidas pela Lava Jato, uma empresa do setor cervejeiro teria sido amplamente usada para lavagem de dinheiro e pagamento de caixa 2 a campanhas políticas, razão pela qual parte de Brasília queria enterrar o sistema de rastreamento. Ao mesmo tempo em que propõe abrir mão do sistema de fiscalização do que já é produzido, Paulo Guedes defende o chamado “imposto do pecado”, o aumento de carga tributária em produtos como bebidas alcoólicas, cigarro, açúcar e alimentos processados.” [Estadão]
>>>> Alô, Regina!: “O secretário Especial da Cultura, Mário Frias, homenageou o músico Sérgio Ricardo, que morreu na quinta-feira (23). “Uma inestimável perda. Sérgio Ricardo foi um desbravador da arte, da música, do cinema, ecoou um talento único cheio de amor e dedicação. Por onde passou deixou a sua marca, representou a cultura brasileira. Meus sentimentos aos familiares. Deus conforte o coração de todos!”, escreveu Frias em seu perfil no Twitter, nesta sexta (24). Sua antecessora na pasta, Regina Duarte, foi duramente criticada por ter silenciado diante da morte de diversos nomes durante sua gestão, como o cantor e compositor Moraes Moreira, o escritor Rubem Fonseca e o compositor Aldir Blanc. Em entrevista à CNN, em maio, ao ser questionada sobre o tema, Regina minimizou e disse que não queria fazer um “obituário” na pasta.” [Folha]
>>>> Boquiaberto aqui: “No momento, a compra de toda a indústria aérea americana seria menos cara do que adquirir a Amazon. Outro sinal interessante é que, hoje, uma ação da Netflix vale 25% mais do que a da ExxonMobil, maior empresa energética do mundo.” [Estadão]

>>>> Continuo boquiaberto: “Na Sibéria, por exemplo, recentemente ocorreram incidentes climáticos sem precedentes. Em junho, a temperatura da cidade de Verkhoyansk chegou a 38ºC, o nível mais alto nunca registrado no Círculo Polar Ártico. No primeiro semestre de 2020, a temperatura média na Sibéria foi de menos 12,7ºC, superior às registradas entre 1951 e 1980. A Antártida também vem esquentando. Os cientistas estão preocupados que o glaciar Thwaites, conhecido como a geleira do apocalipse, esteja sofrendo um derretimento. Se descolar da massa de gelo, esse glaciar, que tem o tamanho da Inglaterra, começará a deslizar para o oceano e não mais servirá como um gigantesco muro de contenção de outros glaciares, que então poderiam começar a se mover e derreter. Tudo isso terá como resultado um aumento de dois a três metros do nível do mar.” [Estadão]
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