Um telefone é muito pouco ou "bandido bom é bandido morto"



EdiSilva
Ser rico deve ser legal. 

Eu fico vendo as pessoas ricas e sua alegria.

A televisão me mostra toda hora.

Ainda há pouco passou uma propaganda na qual um casal, ela paulista e ele gaúcho, se falam por telefone e estão lindos e apaixonados em cena.

Prometem se encontrar em alguns dias.

Nova cena e estão novamente ao telefone e ela diz que está em Porto Alegre e ele em São Paulo. Que bonitinho! Não resistiram à saudade e cada um foi fazer uma surpresa para o outro.

Um pouco de decepção por não se encontrarem, mas como são ricos, marcam de se encontrar em Salvador.

Não é lindo?

A propaganda dá a entender que qualquer um pode fazer isto.

Agora eu sei como as crianças pobres, em seus barracos nas periferias do DF, se sentiam ao assistir aos programas da Xuxa. Tanta coisa linda, ali, logo atrás do vídeo e nada para eles. 

"Mamãe, compra pra mim!" E a mamãe esconde a lágrima, olha pras panelas pensando o que vai fazer pro almoço.

Lindo!

Os malucos feiura dizem que qualquer um pode ser o que quiser na vida, mas alguns "escolhem" ser bandido.

O título do post se refere a outra música do cantor e compositor baiano/brasiliense, Renato Matos - "Um Telefone é Mito Pouco"
Poderia tocar a música Pais e Filhos de Renato Russo: 

"Sou uma gota d'águaSou um grão de areia
Você me diz que seus pais não lhe entendem
Mas você não entende seus pais
Você culpa seus pais por tudo
Isso é absurdo
São crianças como você
O que você vai ser
Quando você crescer?"

Mas vamos ficar com outra

Meu Guri

Chico Buarque

Quando, seu moço, nasceu meu rebento
Não era o momento dele rebentar
Já foi nascendo com cara de fome
E eu não tinha nem nome pra lhe dar
Como fui levando, não sei lhe explicar
Fui assim levando ele a me levar
E na sua meninice ele um dia me disse
Que chegava lá

Olha aí
Olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega

Chega suado e veloz do batente
E traz sempre um presente pra me encabular
Tanta corrente de ouro, seu moço
Que haja pescoço pra enfiar
Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro
Chave, caderneta, terço e patuá
Um lenço e uma penca de documentos
Pra finalmente eu me identificar, 

olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega

Chega no morro com o carregamento
Pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador
Rezo até ele chegar cá no alto
Essa onda de assaltos tá um horror
Eu consolo ele, ele me consola
Boto ele no colo pra ele me ninar
De repente acordo, olho pro lado
E o danado já foi trabalhar, 

olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri
E ele chega

Chega estampado, manchete, retrato
Com venda nos olhos, legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente, seu moço
Fazendo alvoroço demais
O guri no mato, acho que tá rindo
Acho que tá lindo de papo pro ar
Desde o começo, eu não disse, seu moço
Ele disse que chegava lá

Olha aí, olha aí
Olha aí, ai o meu guri, olha aí
Olha aí, é o meu guri

Elza Soares Meu guri


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