Conheça a história do Corinthians x Santos que representou a luta contra a ditadura

 Conheça a história do Corinthians x Santos que representou a luta contra a ditadura

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Dia 11 de fevereiro de 1979. Essa foi a data da vitória do Corinthians por 2 a 1 sobre o Santos, em jogo válido pela sétima rodada do Paulistão daquele ano. Mas muito além de mais uma vitória corintiana no histórico clássico, esse jogo ficou registrado como um marco contra a ditadura militar no Brasil.

Tudo começou quando dois grandes amigos decidiram levar uma faixa com a frase “anistia ampla, geral e irrestrita”.

– Claro que a polícia, na época, não deixaria entrar com uma faixa pela anistia. A gente tirou o couro de um tambor maior, que era um bumbo maior, embrulhamos a faixa e colocamos dentro do tambor. Para mim foi um dia inesquecível. Nossa pequenininha contribuição para que o país caminhasse rumo à liberdade –Chico Malfitani.

O outro torcedor era Antônio Carlos Fon, ambos jornalistas. Eles relataram inúmeros casos de repressão que sofriam dentro da Revista Veja, veículo de imprensa no qual trabalhavam. Não era um período fácil para quem decidia fazer jornalismo.

– Nós abrimos a faixa, e a polícia tentou subir pra nos prender, né? O pessoal da Gaviões fechou a subida. Não tinha liberdade nenhuma, então vários grupos lutaram contra isso. Foram chamados de terroristas e foram repreendidos com tortura, morte e assassinatos – relatou Fon.

           A perseguição aos atletas

Além de jornalistas e torcedores, os jogadores também foram investigados e perseguidos durante os 21 anos de ditadura militar no Brasil (1964-1985). O Esporte Espetacular obteve documentos através do Serviço Nacional de Informações (SNI) que mostram detalhadamente como essa minuciosa investigação era feita. João Saldanha, Casagrande, Afonsinho, Reinaldo e até a ex-jogadora de vôlei Isabel tiveram seus passos e ações rastreados.

“O nível intelectual em relação ao meio em que atua. Em função de um temperamento rebelde e irreverente, que lhe empresta uma personalidade marcante está sempre a liderar seus companheiros de profissão”, dizia o documento na análise de Afonsinho, ex-jogador do Botafogo que ficou marcado por ser o primeiro a conseguir o “passe livre” no Brasil, muito antes da Lei Pelé aparecer para discutir a relação de trabalho entre clube e atleta.

Chico Malfitani e Antônio Carlos Fon — Foto: Felipe Ruiz

– Desde as minhas origens, eu sempre tive atento à questão social, às relações humanas em todos os níveis – disse Afonsinho.

Casagrande, amigo do ex-jogador do Botafogo, foi outro que sofreu muito durante o período.

– Os generais ligavam quase sempre lá no Corinthians para mandar parar, aí o Adilson (Monteiro Alves) e o Valdemar Pires, que era o presidente, bancavam. Eu falava contra a ditadura, participava dos movimentos. Eu não tomava cuidado algum porque eu não tinha noção do perigo mesmo –relembrou Casão, emocionado.

           O pedido de anistia e a lembrança do passado

Anistia é o perdão concedido em caráter oficial. É um ato do legislativo em que ficam extintas as consequências de um fato punível e qualquer processo sobre ele. A palavra anistia deriva do grego “amnestía”, que significa “esquecimento”.

Era o pedido de Chico e Fon naquele dia. O pedido era para que todas as pessoas que haviam lutado contra a ditadura não sofressem consequências políticas e criminais sobre isso.

Hoje, 40 anos após o dia em que ergueram a fatídica e histórica faixa, os amigos se baseiam num dos mais famosos dizeres chilenos, país que vive uma onda de protestos sociais que começaram quando o governo decidiu aumentar o preço das passagens de metrô em 30 pesos, atingindo um valor máximo de 830 pesos (R$ 4,73, na cotação atual).

“Um povo sem memória é um povo sem futuro”,

Assista ao vídeo: Há 40 anos torcedores de Santos e Corinthians se unem contra a ditadura

A frase está escrita no memorial do Estádio Nacional, em alusão aos anos de chumbo no Chile.

– A gente espera que as novas gerações fiquem bem atentas e estudem bem o que aconteceu no passado pra a gente não repetir no futuro esse passado tão pesado da nossa história – encerrou Chico.

Acesse e leia nossos “Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol” 201420152016, e 2017 com os casos de preconceito e discriminação no esporte brasileiro aqui

Fonte: GloboEsporteFacebook

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