“A venda da BR Distribuidora foi um escândalo, eu fico até triste”, afirma Dilma

 

Ex-presidenta apontou relação entre impeachment e mudanças nos rumos da Petrobrás, que foi desintegrada a partir dos governos que sucederam as gestões petistas 

Ex-presidenta Dilma Rousseff considera a desintegração da Petrobrás como “um crime” ao país (Foto: Reprodução) 

A ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) percorreu diversos temas durante sua participação no SindiPapo, live organizada pelo Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro Unificado – SP), na última sexta-feira (12). Apesar disso, a Petrobrás acabou ganhando centralidade ao longo do bate-papo, com a retomada da gestão petista à frente da estatal, a abordagem sobre os interesses norte-americanos no pré-sal e a crítica mesclada de lamento em relação às vendas de ativos da companhia nos últimos anos.

Na avaliação da ex-presidenta, a privatização da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobrás responsável pela revenda de combustíveis, é o ponto mais negativo a partir do revés imposto à empresa. “Eu fico até triste, me faz mal. Tem duas coisas que me fazem mal: os estaleiros vazios e a venda da BR [Distribuidora]. A venda da BR foi um escândalo”, opinou.

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A partir do impeachment deflagrado contra a ex-presidenta Dilma Rousseff, em 2016, os governos que se sucederam, do ex-presidente Michel Temer (MDB) e do atual presidente Jair Bolsonaro (sem partido), implementaram uma política de desintegração da Petrobrás, com a venda de ações e entrega do controle acionário de subsidiárias consideradas estratégicas até então pelos governos petistas.

Em dezembro de 2017, na gestão de Pedro Parente, a Petrobrás se desfez de 29% do monopólio que detinha das ações da BR Distribuidora – empresa subsidiária que contava com aproximadamente oito mil postos de combustíveis e atuação em cerca de 100 aeroportos espalhados pelo país. A abertura de capital rendeu R$ 5 bilhões aos cofres da estatal, somado ao lucro líquido de R$ 1,15 bilhão da subsidiária durante o ano.

Em julho de 2019, já sob a gestão de Roberto Castello Branco na estatal e de Bolsonaro no Executivo nacional, a Petrobrás vendeu mais 33,75% e entregou o controle da BR Distribuidora. A operação, que rendeu cerca de R$ 10 bilhões, ocorreu dentro da estratégia adotada no plano de desinvestimentos, apesar de a empresa ter apresentado lucro líquido de R$ 3,2 bilhões no ano anterior, em 2018.

Petrobrás pretende vender o restante das ações que ainda possui da BR Distribuidora (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Neste momento, apesar da pandemia do novo coronavírus, a gestão da Petrobrás está retomando o projeto de venda da sua participação de 37,5% que resta na BR Distribuidora. Com isso, a estatal terá concluído a venda de três de suas principais subsidiárias.

Em junho de 2019, a Petrobrás concluiu a venda da Transportadora Associada de Gás S.A. (TAG) para o grupo formado pela Engie e pelo fundo canadense Caisse de Dépôt et Placement du Québec (CDPQ) por R$ 33,5 bilhões. Com isso, a estatal abriu mão de uma rede de gasodutos de 4,5 mil quilômetros – com capacidade de transportar 74 milhões de metros cúbicos por dia.

Também acho outro escândalo a venda dos gasodutos, que foram feitos quando ninguém queria fazer. Essas coisas me afetam pessoalmente.

DILMA ROUSSEFF

“Também acho outro escândalo a venda dos gasodutos, que foram feitos quando ninguém queria fazer gasodutos neste país, quando não davam a menor bola. Os gasodutos eram patrimônio do povo brasileiro. O Brasil tinha termelétricas, mas não tinha gasoduto e gás. Quem é que assegura que haja uma rede de gasoduto e que as térmicas funcionem? As térmicas no Brasil eram uma espécie de seguro. Quem dava esse seguro? A Petrobrás. Essas  coisas que me afetam pessoalmente”, confessou Dilma.

Além dessas privatizações, a Petrobrás ainda se desfez da Liquigás em novembro de 2019, pelo valor de R$ 3,7 bilhões, para o grupo formado por Copagaz, Itaúsa e Nacional Gás Butano. A subsidiária contava com 23 centros operativos, 19 depósitos e uma rede de aproximadamente 4.800 revendedores de gás autorizadas.

Desintegração

Além da privatização de subsidiárias que davam estrutura à Petrobrás em toda a cadeia produtiva, da exploração à revenda, a estatal também passou a adotar uma política de preços que leva em consideração a variação internacional do barril de petróleo, o que gerou aumentos sucessivos dos combustíveis.

“É ridícula essa história de que o mercado de petróleo é de livre concorrência, né? O dia em que o preço do petróleo caiu lá no Texas a menos qualquer coisa, ou seja, quando os produtores pagaram para alguém comprar, fica claro que fatores geopolíticos, extremamente mais complexos que o jogo do mercado, atuam na formação de preços. Portanto, quando o preço do barril cai não tem de reduzir o preço da Petrobrás. E quando o preço do barril sobe, idem e ibidem. Você tem de manter em um patamar. Não tem de diminuir o preço porque você quebra a empresa e também não tem de elevar o preço lá em cima porque daí você quebra o consumidor. Esse balanço e equilíbrio são fundamentais”, explicou a ex-presidenta.

A Petrobrás é uma empresa portadora de futuro, ela traz a capacidade de o Brasil não ser um exportador de commodities.

DILMA ROUSSEFF

Com isso, Dilma critica a política da atuação direção da Petrobrás de apostar todas as fichas da companhia na área de exploração e produção e abrir mão da integração “do poço ao posto e ao poste”, que foi a máxima adotada durante os governos petistas. Além das privatizações já concluídas, a estatal pretende vender oito refinarias – o processo está suspenso desde março, devido à pandemia da Covid-19.

“A Petrobrás é uma empresa portadora de futuro, ela traz a capacidade de o Brasil não ser um exportador de commodities. Por isso, outra coisa ruim é acabar com o refino. Os ganhos que você tem refinando petróleo no Brasil são menores diante de outras áreas. Por isso, querem focar apenas nos maiores, mantendo a lógica de exportar petróleo bruto. Isso é outro crime contra o país. A Petrobrás tem que ser verticalizada, precisa ter refino, é uma empresa que tem todas as condições para isso”, denunciou.

Pré-sal

“Eu acredito que a Petrobrás, junto comigo e com o presidente Lula, foi o maior alvo das fake news”, afirmou Dilma. Para a petista, os ataques por meio de notícias falsas surgiram muito antes da atual onda bolsonarista e por veículos que hoje denunciam a prática.

A ex-presidenta recordou a espionagem realizada pela Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA), em 2013, nos computadores da Petrobrás e no seu próprio notebook. “Eu tenho clareza que naquele movimento que levou ao golpe, os grampos que foram feitos na Petrobrás e no meu gabinete tinham um objetivo geopolítico, de setores da administração dos Estados Unidos, de impedir que nós tivéssemos o controle soberano sobre o nosso próprio petróleo. E daí vieram todas as fake news”, avaliou.

O objetivo é privatizar e acabar com a partilha. É dominar todo o pré-sal.

DILMA ROUSSEFF

Para Dilma, o objetivo central de toda essa ofensiva neoliberal e autoritária, que reúne setores da direita nacional e internacional, é se apropriar do pré-sal. “ma das maiores descobertas de petróleo do século XXI”, em suas palavras.

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“Todas essas questões foram colocadas em cheque antes e no pós golpe. Tanto é assim que a Petrobrás perdeu o direito de ser a operadora única do pré-sal. Além da obrigatoriedade da Petrobrás ter uma participação mínima. Ainda não mexeram na [Lei da] Partilha, mas você pode ter certeza absoluta que esse é o objetivo. O objetivo é privatizar e acabar com a partilha. É dominar todo o pré-sal, toda a poligonal que envolve o pré-sal”, finalizou.

Confira abaixo a participação completa de Dilma no SindiPapo:

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