De acordo com o Anuário da Segurança Pública, o Estado
apresentou elevação de 7,3% nas notificações deste crime, subindo de 1.404
casos para 1.507

11/09/2019 - 20h45min
Atualizada em 11/09/2019 - 21h51min
Anderson Aires
ANDERSON AIRES
Amargando a marca de Estado com maior número de registros de
injúria racial no país em 2018, o Rio Grande do Sul busca soluções para
enfrentar esse tipo de crime. Na contramão de reduções importantes em
homicídios, latrocínios e estupros, o Estado apresentou, de acordo com o
Anuário da Segurança Pública, elevação nas notificações de injúria racial se
comparado a 2017, subindo de 1.404 casos para 1.507 — aumento de 7,3%.
Diretora do Departamento Estadual de Proteção a Grupos
Vulneráveis, a delegada Shana Hartz classifica os números do Rio Grande do Sul
como alarmantes, mas relaciona o aumento a um cenário onde as vítimas não estão
mais sofrendo caladas, alertando a polícia sobre situações que antes ficavam
"escondidas":
MAIS DADOS
Rio Grande do Sul é o Estado com mais casos de injúria
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— As pessoas estão mudando uma questão cultural e não
aceitando mais esse tipo de crime, o que é bom. Os dados, apesar de altos, vêm
nos mostrando a consciência da população de que isso realmente está errado, que
caracteriza um crime que merece punição.
O coordenador de Igualdade Étnica e Racial da Secretaria de
Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do RS, Jonas Bohrer, também acredita que
o número elevado de registros ocorre em razão do encorajamento da população.
Bohrer cita ações junto à população negra e a grupos vulneráveis como
ferramentas importantes na busca pela igualdade social.
Segundo ele, esse movimento possibilita mapeamento que ajuda
no combate ao delito.
— Com isso, a gente tem subsídios para articular uma
política pública para combater esses crimes, por meio de um decreto ou um
projeto, com a assistência da sociedade — pontua.
Representatividade
O advogado e escritor Antônio Carlos Côrtes afirma que, além
do aumento no número de pessoas encorajadas a denunciar, o histórico do Rio Grande
do Sul em relação a casos de racismo e o que ele cita como uma "uma onda
racista impregnada no país" ajudam a explicar a posição do Estado em
relação a registros de injúria racial. No entendimento de Côrtes, a
representatividade da população negra em posições de destaque nos governos
municipal, estadual e federal e as ações preventivas são importante no
enfrentamento a esse tipo de crime:
— Se tivéssemos essa representação de 15% em todos os
escalões de governo, consequentemente teríamos uma mudança.
A Polícia Civil estima inaugurar no segundo semestre de 2020
a delegacia de plantão para crimes contra vulneráveis em Porto Alegre. Pessoas
que foram vítimas em razão de sua condição racial, sexual e de gênero estão
entre as que serão atendidas no local. A corporação pretende instalar a
Delegacia de Combate à Intolerância e Preconceito Racial no mesmo prédio no
bairro Santana, na Capital.
Shana cita a criação da delegacia especializada como
movimento importante no combate a esse tipo de crime, mas estima que os
registros tendem a aumentar com as vítimas sentindo-se mais seguras em
notificar:
— No momento em que há um serviço específico por esse
público, as pessoas se sentem encorajadas e acolhidas. Então, a tendência é de
aumentar o índice de registros.
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Investigação
Shana destaca que, em casos de injúria racial, as vítimas
têm de procurar a polícia reunindo o maior número possível de provas, sejam
documentais ou testemunhais. Segundo a diretora, esses elementos ajudam na fase
de investigação e no combate à impunidade. Ela salienta que um "número
real" dos casos ajuda na elaboração de políticas públicas de combate a
esses crimes:
— A subnotificação é muito ruim, porque ela nos mostra uma
marca errada da criminalidade. No momento em que a gente tem um índice correto
de onde está acontecendo e como está acontecendo a violência, consegue
canalizar políticas de segurança pública por fazer um combate mais específico e
mais preventivo.
https://gauchazh.clicrbs.com.br/seguranca/noticia/2019/09/entenda-por-que-o-rs-e-lider-em-registros-de-casos-de-injuria-racial-ck0fwub2o01pp01tgi1xg5yj5.html
Mais sobre:
racismo
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Rio Grande do Sul é o
Estado com mais casos de injúria racial no Brasil, segundo Anuário de Segurança
Pública.
Levantamento foi divulgado nesta terça-feira
10/09/2019 - 22h52min
Atualizada em 10/09/2019 - 23h21min
GaúchaZH
GAÚCHAZH
O Rio Grande do Sul é
o Estado com maior número de ocorrências de injúria racial, de acordo com o
Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta terça-feira (10). A
pesquisa mostra que o Rio Grande do Sul registrou 1.507 casos em 2018. O número
representa alta de 7,3% em relação ao ano anterior, quando foram anotados 1.404
casos — também o maior do Brasil na época.
Em todo o país, foram registradas 7.616 ocorrências de injúria
racial em 2018, 20,6% a mais do que em 2017, quando houve 6.195 casos.
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Os dados compilados no Anuário são enviados pelas
secretarias estaduais de Segurança Pública e de Defesa Social, Polícias Civil e
institutos de segurança de cada unidade da federação.
Região Sul tem quase metade dos casos
Em segundo lugar na lista, o Paraná registrou 1.239
ocorrências em 2018. No ano anterior, foram
1.289.
Em terceiro lugar no ranking está o Rio de Janeiro, com
1.073 casos de injúria racial. Em quarto, Santa Catarina com 1.060 casos em 2018, sendo que no ano anterior teve apenas 337
ocorrências.
Juntos, os três Estados da Região Sul apresentam 3.806
ocorrências, quase metade do total de casos de todo o país.
O que significa cada crime
Injúria racial
Ofender a dignidade utilizando elementos de raça, cor,
etnia, religião, origem ou condição de pessoa idosa ou portadora de
deficiência. Uso de xingamentos referentes à raça ou cor com a intenção de
ofender a honra da vítima, entre outros. Pena: de um a três anos e multa.
Racismo
Ato discriminatório dirigido a determinado grupo ou
coletividade: recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial, impedir o
acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e elevadores
ou às escadas de acesso, negar ou impossibilitar emprego em empresa privada,
entre outros. Pena: pode chegar até cinco anos e multa.
Como denunciar
Crimes de racismo e injúria racial podem ser denunciados em
qualquer delegacia de polícia do Estado.
Mais sobre:racismoparanásanta catarinario grande do sul
https://gauchazh.clicrbs.com.br/seguranca/noticia/2019/09/rio-grande-do-sul-e-o-estado-com-mais-casos-de-injuria-racial-no-brasil-segundo-anuario-de-seguranca-publica-ck0ebuwey00k001tgwseesdxp.html
DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA
Registros de injúria racial aumentam mais de 200% em Santa
Catarina
De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em
um ano o número passou de 337 para 1.060
19/11/2019 - 16h52 - Atualizada em: 20/11/2019 - 08h04
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Por Ângela Prestes
angela.prestes@somosnsc.com.br

Gráfico mostra casos de injúria racial no país
(Foto: Infografia NSC)
Santa Catarina tem a maior taxa de registros de injúria
racial do Brasil. Foram 15 casos denunciados a cada 100 mil habitantes no ano
de 2018. Em relação aos números absolutos, o Estado fica em 4º lugar no
ranking, com 1.060 registros. Um aumento de 211% em relação ao ano de 2017 que
teve 337 denúncias. Considerando a taxa o Estado catarinense é o primeiro,
seguido pelo Rio Grande do Sul (13,3) e Mato Grosso (12,3). Já em números
absolutos quem ocupa o primeiro lugar é o Rio Grande do Sul (1.507), seguido pelo
Paraná (1.239) e Rio de Janeiro (1.073). Os dados são do Anuário Brasileiro de
Segurança Pública.
Para a gerente de Políticas para Igualdade Racial e
Imigrantes do Estado de Santa Catarina, Regina Célia da Silva Suenes, apesar de
importantes avanços em diversos setores do desenvolvimento, ainda persistem as
desigualdades raciais, étnicas e de gênero.
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— Santa Catarina é um Estado eminentemente branco, que
perpetua os resquícios históricos de exclusão e discriminação racial. Os dados
mostram que o Estado ainda está muito aquém de uma realidade ideal em termos de
igualdade, principalmente em relação à diferença salarial, de funções de
liderança que não são exercidas pelo negro, o pouco acesso a educação de ensino
superior, ao alto índice de suicídio entre jovens negros, entre outros.
Região Sul no topo do ranking
Em todo o Brasil, a variação foi menor. O número passou de
6.195 em 2017 para 7.616 no ano passado, um aumento de 20%. As regiões Sul e
Sudeste estão no topo da lista dos Estados brasileiros com mais registros de
casos de injúria. Para a coordenadora do Movimento Negro Unificado (MNU) e
professora da educação quilombola, Maria de Lourdes Mina, os dados têm relação
com a imigração europeia.
— Está relacionado com a formação dos Estados. Santa
Catarina é um dos mais racistas, e tem uma concepção eurocêntrica. Pra mudar
isso é preciso ter uma política séria de reparações. Reparações por todo o
sofrimento, todos os assassinatos da população negra. Se você se debruça na
história de como foi a perversidade no período da escravidão vai entender que o
Estado deve essa política de reparações.
É o acesso a educação de qualidade, a moradia adequada,
entre outros, que mudará esse cenário. Segundo Regina, hoje, apesar dos
significativos avanços em relação à promoção de direitos a população negra,
ainda se trata de uma minoria que tem acesso a eles.
— A ideia de inferioridade do negro é fundamentada por esta
constituição escravista por um lado, da manutenção de uma condição social de
subalternidade do outro, elementos que levam a sociedade brasileira a
reproduzir práticas racistas e desiguais que só serão superadas com um processo
de profunda transformação social. Portanto, enquanto Estado se pode contribuir
para este desafio com ações que possibilitem diagnóstico, planejamento,
articulação, que são fundamentais para a construção de políticas públicas para
a população negra.
Liberdade para denunciar
O aumento no número de registros pode, de certa forma,
representar um sentimento maior de liberdade para fazer a denúncia. Esse avanço
é fruto de trabalhos como o do Movimento Negro Unificado, que atua há 26 anos
em Santa Catarina.
— É resultado da identificação da população negra enquanto
negros. Hoje temos um debate muito mais aberto e muito mais intenso. Não
podemos negar que o debate está mais próximo das pessoas que se fortalecem para
fazer as denúncias, explica Maria de Lourdes.
Para Regina, é fundamental denunciar para resguardar a
cidadania e a dignidade da população negra, além de serem ferramentas que
engrossarão os números que comporão o diagnóstico para a construção de
Políticas Públicas no Estado.
— A falta de Políticas Públicas efetivas em relação à
população negra incorre em uma abertura para fortalecer a invisibilidade e o
racismo estrutural existente. Na verdade o racismo sempre esteve presente, o
número de registros só desvenda uma demanda reprimida e o mito da democracia
racial.
O importante é continuar discutindo o assunto e trazer para
a frente do debate a realidade da população negra.
— A discussão do tema é uma tarefa que não é só do movimento
negro, mas de toda a sociedade. As vidas negras importam, são elas que estão aí
na base da sociedade, que construíram e continuam construindo esses Estados,
conclui Maria de Lourdes.
Diferença entre racismo e injúria racial
A injúria racial acontece quando alguém usa a origem, etnia,
raça ou religião para ofender a honra de outra pessoa. Ela está prevista no
artigo 140, parágrafo 3º, do Código Penal: "Se a injúria consiste na
utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a
condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência". A pena é de um a
três anos de prisão.
Já o crime de racismo, inafiançável e imprescritível, se
caracteriza por uma discriminação generalizada a um grupo de pessoas. A Lei do
Racismo foi sancionada em 5 de janeiro de 1989 e a pena varia entre 1 a 5 anos
de prisão, de acordo com o caso.
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injúria racial
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preconceito
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https://www.nsctotal.com.br/noticias/registros-de-injuria-racial-aumentam-mais-de-200-em-santa-catarina



Negros ganham 39% a menos do que brancos em SC, aponta
pesquisa
Pesquisa de desigualdade por cor ou raça mostra que renda
domiciliar per capita é menor em SC na população negra ou parda. Grupo possui
também uma das menores representações políticas do Brasil
13/11/2019 - 15h43 - Atualizada em: 13/11/2019 - 15h44
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Por Ângela Prestes
angela.prestes@somosnsc.com.br
Lucas
Por Lucas Paraizo
lucas.paraizo@somosnsc.com.br
Uma nova edição da pesquisa de desigualdade por cor ou raça,
feita pelo IBGE, mostra um cenário de grandes diferenças entre a população
branca e os negros e pardos em Santa Catarina. Conforme o levantamento, em 2018
a população de cor ou raça branca era de 5,6 milhões de pessoas no Estado,
contra uma população de cor ou raça preta ou parda de 1,3 milhão.
A desigualdade mostra-se mais sutil em alguns pontos, como
no acesso à telefonia móvel e à internet, por exemplo, mas ainda é grande em
outros fatores importantes. Conforme a pesquisa, na média o rendimento per
capita da população negra ou parda em SC é 39,2% menor do que o da população
branca. Em valores mais precisos, isso representa uma diferença de R$ 1700 para
R$ 1221 por mês.

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IBGE
(Foto: Arte DC)
Da mesma forma, a população negra em Santa Catarina tem uma
taxa de desemprego maior: 8,9% contra 5,6% em relação aos brancos. Mesmo assim
os dados do Estado ainda estão entre os melhores do país.
Na comparação com 2012, houve redução na desigualdade de
rendimentos entre brancos e negros ou pardos em Santa Catarina. Naquele ano, os
brancos tinham rendimento médio 42% superior.

IBGE
(Foto: Arte DC)
A pesquisa aborda também outros vários pontos em que a
desigualdade fica visível, como na participação da população preta ou perda na
lista dos maiores e menores rendimentos de Santa Catarina (veja no gráfico
abaixo). Na comparação com a mesma pesquisa feita em 2012, no entanto, o IBGE
apontou um crescimento na renda dos negros no Estado, subindo 5.9% na
participação dentro do grupo dos maiores rendimentos.
Diminuiu também nos últimos seis anos o percentual de
catarinenses negros e pardos abaixo da linha pobreza, com uma queda de 6,2%. No
entanto, negros ainda são a maioria entre os moradores do Estado que vivem com
menos de R$ 420 por mês.
Um destaque positivo ficou com Florianópolis, que entre as
capitais do Brasil é a terceira com a menor desigualdade de rendimentos entre
brancos e negros ou pardos.

IBGE
(Foto: Arte DC)
Na parte da educação, a pesquisa do IBGE aponta para avanços
em Santa Catarina na alfabetização entre todas as áreas da população, no
entanto, a taxa de analfabetismo segue maior entre negros e pardos em relação
aos brancos. Mesmo assim, o Estado tem números bem melhores que a média
nacional: 4,6% de analfabetismo entre os negros em SC contra 9,1% no Brasil.
Os avanços em SC aparecem em todos os níveis da educação,
mas com desigualdades ainda presentes no acesso ao ensino básico e superior:

IBGE
(Foto: Arte DC)
Na representação política, Santa Catarina tem alguns dos
piores índices do Brasil para a população negra ou parda: somente um deputado
federal e um deputado estadual. Além disso, o Estado teve a menor proporção do
país de candidatos pretos ou pardos nas eleições do ano passado: 12,4%,
empatado com o Rio Grande do Sul.
Entre os poucos candidatos, o IBGE apontou também que o
investimento na campanha foi muito menor. Das 15 candidaturas em SC que tiveram
receita acima de R$ 1 milhão, nenhuma era de uma pessoa negra ou parda.

IBGE
(Foto: Arte DC)
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racismo
"Ku Klux Klan" em SC: é racismo, e deve ser
tratado como tal
Dagmara
Por Dagmara Spautz
19/11/2019 - 15h37 - Atualizada em: 20/11/2019 - 12h30

Imagem histórica da Ku Klux Klan nos Eua, em 1948
(Reprodução)
Imagem histórica da Ku Klux Klan nos EUA, em 1948
(Reprodução)
Um dado em especial chama atenção na pesquisa da antropóloga
Adriana Dias, que mapeou grupos neonazistas no Brasil: a identificação de duas
células da "Ku Klux Klan" em Santa Catarina. Não há meias palavras
para designar o que representa a organização, que nasceu nos Estados Unidos no
século 19. É um grupo que prega a supremacia branca. Uma organização racista.
Racismo é crime no Brasil desde a Constituição de 1988. Foi
regulamentado em lei, que prevê pena de prisão. Integrantes de um grupo que
defende “superioridade e pureza racial” em SC
são muito mais do que uma associação de mau gosto. São criminosos.
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A imagem de um membro da Ku Klux Klan foi usada para
ilustrar os cartazes colados em 2017 em um poste e na parede da casa de um
ativista e advogado negro, Marco Antônio André, Blumenau. Dois anos depois, o
Ministério Público ainda não denunciou ninguém pelo crime – embora a Polícia
Civil tenha identificado e prendido suspeitos.
Marco Antônio disse à coluna que saber da existência de
células da Ku Klux Klan em Santa Catarina – mais especificamente em Blumenau,
onde ele mora e atua – não o surpreende. Estamos em um país profundamente
racista, lembra o advogado.
Intolerância levada a sério
É necessário que as autoridades tratem a existência de
organizações de supremacia racial em Santa Catarina com a seriedade que o
assunto merece.
Em 2017, nos Estados Unidos, a pequena cidade universitária
de Charlottesville assustou o mundo ao sediar uma marcha de centenas de homens
e mulheres gritando palavras de ordem contra negros, imigrantes, homossexuais e
judeus. Uma cena “surreal”, como descreveu o repórter da BBC Brasil, Ricardo
Senra.
A marcha neonazista de Charlottesville surpreendeu porque
deu cara a um movimento que rondava pelas sombras. E que jamais foi extinto.
Temos no Brasil um racismo e preconceito enraizados e uma
tarefa hercúlea, para superar séculos de intolerância. Não se deve amenizá-los
sob o discurso da liberdade de expressão.
Ao discorrer sobre democracia, o filósofo Karl Popper falou
no paradoxo da tolerância. Disse ele que, ao aceitar os extremos da
intolerância alheia, podemos ter como
resultado final o aniquilamento da própria tolerância.
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Temas:
NAZISMO
BLUMENAU
RACISMO
CRIME
Pesquisadora identifica 69 grupos nazistas em atividade em
Santa Catarina
Estado é o segundo do país com mais células. Dos três grupos
no Brasil que se identificam como seções locais da Ku Klux Klan, dois estão em
Blumenau
19/11/2019 - 11h34 - Atualizada em: 20/11/2019 - 08h53
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Lucas
Por Lucas Paraizo
lucas.paraizo@somosnsc.com.br

Em 2014 a Polícia Civil apreendeu em Itajaí materiais que
faziam apologia ao nazismo
Em 2014 a Polícia Civil apreendeu em Itajaí materiais que
faziam apologia ao nazismo(Foto: Victor Pereira, BD, 2014)
Santa Catarina é o segundo Estado do Brasil com mais grupos
neonazistas ativos na internet. A afirmação está nos números de uma nova
pesquisa brasileira que aponta o crescimento dos movimentos de inspiração
nazista no Brasil. Conforme o levantamento, Santa Catarina tem 69 células
(grupos de três a 40 pessoas com ideais e atividades comuns) em atividade,
atrás apenas de São Paulo, onde foram identificados 99 grupos.
A pesquisa foi feita pela doutora em Antropologia Social
pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Adriana Dias, que pesquisa o
discurso neonazista e supremacista branco nas redes há 16 anos. O levantamento
foi feito com técnicas de programação para identificar pessoas que baixam
grande quantidade de material nazista na internet, que participam de fóruns e
redes sociais voltadas ao tema ou que são líderes de blogs que propagam o
conteúdo.
— São vários tipos de bancos de dados que analisam várias
questões. O principal é a quantidade de material que essa pessoa lê sobre o
tema. Ela tem que ter lido pelo menos o equivalente a 100mb de arquivos
neonazista. Então a gente tem um cálculo sobre margem de erro, e também uma
consideração a respeito de quantos IPs uma pessoa pode usar, em casa, no
trabalho, na casa dos pais, etc. A partir daí a gente vai vendo manifestações
desses grupos publicamente ou em fóruns — explicou a pesquisadora em entrevista
ao NSC Total.
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"Ku Klux Klan" em SC: é racismo, e deve ser
tratado como tal
DAGMARA SPAUTZ
"Ku Klux Klan" em SC: é racismo, e deve ser
tratado como tal
Mesmo que com algumas divisões, de forma geral os grupos
promovem a intolerância com base em alguns ideais ligados ao nazismo de
superioridade e pureza racial. Essas ações envolvem violência, humilhação e
discriminação através da fabricação, comercialização e distribuição de
propagandas de defesa do pensamento, como os cartazes que já viraram caso de
polícia em Santa Catarina nos últimos anos.
Entre os 69 grupos identificados em Santa Catarina, a
pesquisadora chama a atenção para a existência de seções locais da Ku Klux Klan
(KKK) — organização nascida nos Estados Unidos com ideais supremacistas e
nacionalistas. No Brasil inteiro foram identificados três grupos que se
identificam como seções da KKK: um em Niterói (RJ) e dois em Blumenau, no Vale
do Itajaí.
— Há dois materiais da KKK circulando com referência a
Blumenau. Um inclusive foi colocado nas ruas, outro apenas circulou na
internet. São dois materiais bem diferentes entre si. A KKK tem dezenas de
divisões e linhagens, com linguagens e símbolos diferentes. O símbolo que foi
para as ruas em Blumenau é da KKK da América, um grupo mais novo, surgiu depois
dos anos 1980. O outro grupo que circulou na internet é mais ligado à KKK da
ordem da Camélia Branca, que tem uma linguagem completamente diferente e é ligada
mais ao luteranismo.
A pesquisadora aponta que, de forma geral, os grupos no
Brasil não possuem grande relação entre si ou contato. O mesmo vale para as
duas seções que existiriam em Blumenau. Para Adriana, são grupos diferentes e
que podem não se conhecer ou se dividiram por alguma briga interna — algo que
ela diz ser comum na criação das células pelo país. Uma das organizações
identificadas em Blumenau inclusive se identifica como “o primeiro grupo KKK no
Brasil”.
— A KKK tem uma base religiosa muito forte, um ódio muito
forte ao negro, ao judeu, e uma prática muito violenta. Então esses dois
grupos, eu espero que sejam pequenos, pelo o que percebi são células pequenas,
não devem ter mais do que 10 ou 12 pessoas cada uma. Espero que não tenham potencial
de crescimento. Se elas tiverem, tendem a ser bastante violentas, porque a KKK
é violenta — alerta a antropóloga.
Adriana explica que cada grupo funciona de uma forma, com
grandes diferenças de uma célula da Ku Klux Klan — com ideais religiosos — em
relação a um grupo supremacista branco nacionalista, por exemplo. O que une
todos é a presença na internet. Todos os grupos mapeados pela pesquisadora
fazem o chamado ciberativismo, outras células que não têm presença online não
foram analisadas pela antropóloga.
— Eu acredito que o número seja ainda maior do que eu
localizei. Esses grupos têm gente mais nova, mais velha, mulheres que
desempenham funções diferentes. E fazem ciberativismo, encontros, revistas,
mentoria de jovens brancos, atividades como rituais e cultos e até encontros
para pancadaria — explica.
Nazismo em Santa Catarina
O histórico de relações de Santa Catarina com o movimento
nazista não é novo. Um trabalho anterior da pesquisadora Adriana Dias apontou,
em 2009, que 45 mil simpatizantes do nazismo moravam em SC. Voltando no tempo,
em 1928, cinco anos antes de Hitler tomar o poder na Alemanha, a primeira
célula do partido nazista no Brasil foi fundada em Timbó, no Vale do Itajaí.
Seria a primeira fora da Alemanha e, segundo os registros históricos, chegou a
ter 528 filiados.
De volta ao século atual, em 2017 a Operação Hateless, da
Polícia Civil de Blumenau, identificou cinco pessoas que estariam ligadas ao
aparecimento de diversos cartazes com propaganda nazista na cidade. Dois deles
estavam ligados a outro caso na região, em 2014 na cidade de Itajaí, quando
cartazes comemoraram o aniversário de Hitler. Recentemente os dois homens foram
inocentados pela Justiça.
Para Adriana, nas décadas de 1930 e 1940 houve uma grande
exposição dos ideais nazistas em Santa Catarina, algo que depois foi proibido
mas se manteve vivo em documentos e na memória de alguns moradores.
— Essa população alimentou essa crença durante muitos anos,
e depois ouviu que nada daquilo era verdade. Uma parte dessa população com
certeza guardou a frustração e a esperança de que isso fosse verdade. Pode ser
uma parte pouco expressiva, mas em números relativos é considerável, porque se
todo esse povo se juntar o estrago é grande. É uma parte que leu e releu esses
documentos da época e agora viu o espaço. As pessoas estão lendo coisas
absurdas, leituras muito obtusas, essa história da terra plana, de que o
nazismo é de esquerda, leituras que estão se sobrepondo à realidade e podem
fazer que essa pequena parte ganhe fôlego — avalia a pesquisadora.
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Adolf Hitler
Mapa da intolerância: região sul concentra maioria dos
grupos neonazistas no Brasil
14/12/2013em Sem categoria2 min read
grafico-urls
900000
O crescimento do número de simpatizantes neonazistas tem se
tornado uma tendência internacional. É o que aponta um monitoramento da
internet realizado pela antropóloga e pesquisadora da Unicamp, Adriana Dias. De
2002 a 2009, o número de sites que veiculam informações de interesse
neonazistas subiu 170%, saltando de 7.600 para 20.502. No mesmo período, os
comentários em fóruns sobre o tema cresceram 42.585%.
Nas redes sociais, os dados são igualmente alarmantes.
Existem comunidades neonazistas, antissemitas e negacionistas em 91% das 250
redes sociais analisadas pela antropóloga. E nos últimos 9 anos, o número de
blogs sobre o assunto cresceu mais de 550%.
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Adriana Dias trabalha há 11 anos mapeando grupos neonazistas
que atuam na internet e também no mundo não virtual. Devido ao conhecimento
construído, a pesquisadora já prestou consultoria para a Polícia Federal e para
serviços de inteligência de Portugal, Espanha e outros países.
– Veja as estatísticas do crescimento de sites com assuntos
neonazistas:
Brasil
Segunda Adriana, os grupos neonazistas eram predominantes no
sul do país, mas nos últimos anos têm crescido vertiginosamente no Distrito
Federal, em Minas Gerais e em São Paulo. Ela vem mapeando o número de
internautas que baixam arquivos de sites neonazistas e considera simpatizantes
aqueles que já fizeram mais de 100 downloads. Por esse critério, seus dados de
2013 apontam que há aproximadamente 105 mil neonazistas na região Sul.
– Estados com maior número de internautas que baixaram mais
de 100 arquivos de sites neonazistas (clique nos estados)
No caso de Minas Gerais, os movimentos parecem ter ganhado
fôlego em 2009, como forma de responder ao assassinato de Bernardo Dayrell
Pedroso. Fundador da revista digital “O Martelo”, ele era uma referência do movimento
neonazista na cidade. Acabou morto em um evento no município de Quatro Barras
(PR), por uma outra gangue de skinheads neonazistas que via em Bernardo uma
barreira para sua ascenção.
Organização
Não é possível descrever um único percurso para ingresso no
movimento neonazista. Mas há uma trajetória mais comum: “Geralmente, eles
atendem ao proselitismo na juventude. O jovem em busca de uma causa acaba
recebido pelo grupo, que o convencem de que o negro ou o judeu tomou seu espaço
no mercado de trabalho, na universidade, etc”, explica Adriana Dias.
Os líderes dos grupos geralmente não participam das ações
violentas. “São pessoas que já possuem uma condição financeira melhor e
geralmente possuem curso superior. Eles conduzem o movimento e leem muito material
antissemita. Possuem um alto grau de instrução e buscam se resguardar de
eventuais ações judiciais”, descreve a pesquisadora.
Fonte: Agência Brasil
Tags: casos de racismo
https://www.geledes.org.br/mapa-da-intolerancia-regiao-sul-concentra-maioria-dos-grupos-neonazistas-no-brasil/
Rio Grande do Sul: Racismo dificulta rotina de pessoas
negras no Estado
19/11/2014em Casos de Racismo2 min read

1.6k23220
O estudante angolano Luíz Puati, 21 anos, está ambientado ao
Rio Grande do Sul. Há um ano em São Leopoldo, onde estuda Engenharia Eletrônica
graças a uma bolsa de intercâmbio, o jovem revela ter feito vários amigos no
município. A explicação talvez esteja relacionada à simpatia de Puati. Enquanto
conversa sobre a faculdade, o universitário checa as mensagens que chegam pelo
celular e acena até para quem ele não conhece. “Sou muito comunicativo”,
resume.
Por:Leonardo Vieceli no, Unicos
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Ao lembrar-se dos primeiros dias no Estado, porém, o sorriso
entre os lábios dá lugar a uma expressão mais séria. Quando chegou ao Vale do
Sinos, junto com outros colegas angolanos, Puati enfrentou olhares ressabiados
de uma parcela da população local. À época, pensou em deixar a graduação e
voltar para casa. “As pessoas pareciam ter medo. O Estado não é racista, mas há
uma minoria preconceituosa”, afirma.
Angolano é estudante de Engenharia Eletrônica no Vale do
Sinos (Foto: Leonardo Vieceli)
Angolano é estudante de Engenharia Eletrônica no Vale do
Sinos (Foto: Leonardo Vieceli)
Em terras gaúchas, a discriminação não prejudica somente
quem é estrangeiro. Formada em Pedagogia, a analista social Elisabeth Natel, 62
anos, menciona que já foi alvo de atitudes racistas. Contudo, o episódio que
permanece mais nítido em sua memória ocorreu quando ela e a irmã, Pedronilda,
buscavam empregos no comércio de São Leopoldo. “Na época, o dono do
estabelecimento disse que não nos contrataria porque a loja perderia clientes
por sermos negras”, conta.
Dificuldades no mercado de trabalho, como a enfrentada pelas
irmãs Natel, são perceptíveis também em pesquisas sobre o tema. Conforme o
estudo Síntese de Indicadores Sociais 2012, do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), brancos ganham 59% mais do que negros no
Estado.

Elisabeth já vivenciou situações de racismo no Rio Grande do
Sul (Foto: Leonardo Vieceli)
Elisabeth já vivenciou situações de racismo no Rio Grande do
Sul (Foto: Leonardo Vieceli)
Para estudar os aspectos discriminatórios e combater o
racismo, Elisabeth integra o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da
Unisinos há sete anos. Segundo ela, a melhora do problema passa pelo
aprimoramento de projetos educativos como a Lei 10.639, criada em 2003 para levar
ensinamentos sobre a cultura afro-brasileira e africana às salas de aula. “A
lei precisa ser instituída em todas as escolas gaúchas”, salienta Elisabeth,
que analisou a norma em sua dissertação de mestrado.
https://www.geledes.org.br/rio-grande-sul-racismo-dificulta-rotina-de-pessoas-negras-estado/
Instituições de ensino do RS são alvo de ataques racistas
durante atividades online
Na UFSM, grupo ingressou em palestra promovida por
disciplina do curso de nutrição e fez comentários e ameaças. Já em Porto
Alegre, uma aula do IFRS, Campus Restinga, também sofreu ciberataques.
Por G1 RS e RBS TV
10/07/2020 09h40
Atualizado há uma semana
Duas instituições federais sofreram ataques racistas durante
atividades online na última semana. Isso aconteceu com a Universidade Federal
de Santa Maria (UFSM) e com o Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS).
A aula promovida pela UFSM de Palmeira das Missões, na
Região Norte do estado, ocorreu na segunda-feira (6). Segundo a professora que
organizou o evento, Vanessa Kirsten, cerca de 40 minutos após o início da
atividade, um grupo pediu para ingressar na reunião e começou a fazer diversos
comentários de deboche e posteriormente ameaças aos participantes.
Foi registrada ocorrência na Polícia Federal em Santo
Ângelo. Segundo a PF, foi instaurado o inquérito para investigar os fatos. Os
crimes investigados serão racismo praticado através de meio de comunicação
social, cuja pena prevista é reclusão de dois a cinco anos, ameaça, com pena de
detenção de um a seis meses, e injúria racial, com pena detenção de um a seis
meses.
"Começou a haver uma solicitação muito rápida de várias
pessoas e eu acabei aceitando. E eles começaram, então, pelo chat a fazer
deboches 'como assim, não entendi', 'então quer dizer que racismo é isso'.
Naquele momento a gente verificou que eles tinham intenção de atrapalhar a
aula". explica Vanessa.
A aula disponibilizada pelo curso de nutrição abordaria o
tema "Saúde e nutrição da população negra", e tinha como convidada a
professora Fernanda Bairros, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS). Vanessa afirma que a ideia era debater a saúde da população negra, um
tema pouco inserido dos cursos de nutrição, e, pela relevância do assunto, o
link da aula foi bastante divulgado.
"Não posso dizer que foi uma invasão porque o link era
aberto e eu permiti a entrada dessas pessoas. Mas no momento em que percebemos
que eles queriam atrapalhar o debate, eu solicitei aos participantes que
saíssem da aula pois iríamos encerrar”, contou a professora.
Estavam presentes na aula cerca de 40 pessoas, entre
professores, alunos de graduação e pós-graduação de diversas universidades.
"Eles abriram os microfones e começaram a fazer
insultos, ameaças. Queriam nos dar uma sensação de medo, diziam que invadiriam
nosso IP, que se fizéssemos uma nova aula eles iriam derrubar de novo, que
iriam pegar nossos números de cartão de crédito. Quando eles viram que todas as
pessoas saíram da sala, eles celebraram e disseram ‘Conseguimos. Qual vai ser a
próxima?’” diz a professora.
O reitor da universidade, Paulo Burmann, emitiu uma nota
repudiando o fato. Além disso, solicitou que a comunidade acadêmica redobre os
cuidados com a segurança e as práticas nos usos de mídias digitais. Veja a nota
completa abaixo.
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Aula aberta da UFSM foi alvo de ataque — Foto: Reprodução/RBS TV
Aula aberta da UFSM foi alvo de ataque — Foto:
Reprodução/RBS TV
Instituto Federal Campus Restinga
Na quarta (9), uma webconferência do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul também sofreu um
ciberataque. Segundo a instituição, um grupo ingressou no painel “Roda de
Conversa: como funciona o racismo, um olhar de moradores da Restinga”, e
reproduziu sons de macaco. Conforme a instituição, também foi compartilhada uma
tela com imagens pornográficas.
O IF informou que o diretor-geral do Campus Restinga,
Rudinei Müller, fará a denúncia nesta sexta (10), na Polícia Federal. E que
nesta quinta foram recolhidas informações e relatos.
O link de acesso da atividade foi divulgado nas redes
sociais do IF - Campus Restinga e do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e
Indígenas (Neabi), e havia uma moderadora que expulsou as pessoas assim que
percebeu os ataques.
"Essas pessoas tinham notoriamente o intuito de cercear
o debate acadêmico que ocorria com mais de 60 participantes", disse o IF.
Em nota, o reitor do IFRS Júlio Xandro Heck, repudiou o ato
e destacou o "compromisso institucional com a promoção de um ambiente
educacional plural, diverso, democrático e inclusivo que, em hipótese alguma,
pode ser confundido com a expressão de discursos de ódio". Veja a nota
completa abaixo.
O Neabi e a direção geral do Campus Restinga também através
de nota repudiaram os ataques.
"Este tipo de ação não é, e não será, tolerada e estão
sendo dados os encaminhamentos legais para averiguação e punição aos envolvidos
pelas autoridades." Veja nota abaixo.
Nota da UFSM sobre incidente em aula aberta
A universidade se configura como um espaço de diversidade e
de construção do conhecimento para a formação de profissionais críticos e
reflexivos. O meio acadêmico trilha essa perspectiva, através do diálogo, da
tolerância e da ciência, em seus diferentes espaços de debates. Nestes tempos
de distanciamento social, devido à pandemia da Covid-19, essas relações foram
condicionadas ao uso das tecnologias digitais, para manter a conexão e a
comunicação entre alunos e professores, facilitando a continuidade de disciplinas
teóricas.
Com muito pesar, nesta semana, em uma aula (com uma
palestrante externa e aberta ao público) promovida pela disciplina de
Vigilância e Segurança Alimentar e Nutricional do Curso de Nutrição da UFSM –
Campus Palmeira das Missões, fomos tomados de surpresa com o ingresso de um
grupo organizado de pessoas ostentando linguagem agressiva, de deboche racista,
de cunho sexual e de ameaças. Essas pessoas tinham notoriamente o intuito de
acabar com o debate científico que acontecia, com mais de 50 participantes. A
referida aula versava sobre a relação da diversidade étnico-racial nos
determinantes sociais e de saúde da população e foi interrompida, em virtude de
tamanho desrespeito em formato de agressão coletiva.
Manifestamos total repúdio a esse tipo de atitude e nossa
respeitosa solidariedade a todos e todas que vivenciaram a injustificável
situação.
E solicitamos a toda comunidade acadêmica que redobre os
cuidados com a segurança em suas práticas e procedimentos com o uso de mídias
digitais, com o propósito de evitar o surgimento ou a reincidência de atitudes
discriminatórias. Informamos que todas as medidas cíveis e criminais estão
sendo tomadas para coibir e responsabilizar os autores dessa deplorável ação,
garantindo o acolhimento e o acompanhamento das vítimas.
Na tarde do dia 8 de julho, em atividade pedagógica por
webconferência realizada pelo IFRS – Campus Restinga, denominada “Roda de
Conversa: como funciona o racismo, um olhar de moradores da Restinga”, houve a
interferência de um grupo organizado de pessoas manifestando linguagem
ofensiva, de cunho racista e sexual. Essas pessoas tinham notoriamente o
intuito de cercear o debate acadêmico que ocorria com mais de 60 participantes.
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio
Grande do Sul (IFRS), por meio desta Nota Oficial, manifesta total repúdio a
essa prática desrespeitosa e criminosa, e presta sua solidariedade aos
organizadores e participantes do evento por esta injustificável ocorrência.
Nota de Repúdio aos ciberataques ocorridos em atividade
sobre temática étnico-racial no Campus Restinga do IFRS
Aproveitamos para reafirmar o compromisso institucional com
a promoção de um ambiente educacional plural, diverso, democrático e inclusivo
que, em hipótese alguma, pode ser confundido com a expressão de discursos de
ódio. Os debates sobre a temática étnico-racial são imprescindíveis para a
construção de uma sociedade mais justa e equânime, fazem parte dos princípios
fundantes do Projeto Pedagógico Institucional e estão em perfeito alinhamento
com a missão e valores do IFRS. Ataques como esse só demonstram a importância
de aprofundarmos ainda mais as reflexões sobre o combate ao racismo e
fortalecermos os trabalhos desenvolvidos por nossos Neabi, NAAf e Assessoria de
Relações Étnico-raciais do IFRS.
Informamos, por fim, que todas as medidas legais estão sendo
tomadas para coibir e responsabilizar os autores dessa deplorável ação, nas
esferas cabíveis.
Neabi e direção geral do Campus Restinga manifestam repúdio
a atos racistas ocorridos em roda de conversa virtual
O Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indígenas – Neabi em
conjunto com a Direção-geral do Campus Restinga vem a público manifestar seu
profundo repúdio quanto aos atos racistas e fascistas ocorridos durante a
realização da roda de conversa virtual “Como funciona o racismo: um olhar de
moradores da Restinga”, no dia 08/07, às 17h. Um grupo de “pessoas” achou-se no
direito de interditar o debate ao praticar ações criminosas, mas sem sucesso. Este
tipo de ação não é, e não será, tolerada e estão sendo dados os encaminhamentos
legais para averiguação e punição aos envolvidos pelas autoridades. Atos como
estes não podem ser normalizados, e trazem como consequência o incremento na
violência contra as populações negras, que sofrem com a necropolítica praticada
por falsas lideranças do país e se traduzem na tentativa de apagamento destes
corpos. Vidas negras importam! Vamos seguir pautando com ainda mais força e
mais seguros/as do caminho a percorrer na pauta antirracista. Agradecemos os
apoios recebidos, que nos fortalecem e nos dão segurança, colocando-nos em
terreno seguro para denunciar práticas como essas, que revelam o lado mais
violento e triste do nosso país.
Nosso maior agradecimento também à comunidade da Restinga e
às parceiras e parceiros do NEABI, sempre dispostos ao diálogo producente,
firme e sábio.
O racismo existe e insiste! Mas estamos aqui para juntar as
nossas forças e combater práticas perversas como a que tivemos no dia de ontem.
PALMEIRA DAS MISSÕES
PORTO ALEGRE
SANTA MARIA
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