O HISTÓRICO 8 DE MARÇO DIANTE DA RELIGIOSIDADE E DO PROGRESSISMO

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Nessa data de 8 de março, duas tristes lembranças apontam para a mortandade que o poder abusivo e despótico pode produzir sobre grupos oprimidos e inferiorizados.
Se no século XIX despontava a luta pelo direito ao voto feminino em muitos países como os da América do Norte, 3 séculos antes as mulheres eram queimadas em fogueiras da Igreja Católica, acusadas de bruxaria, por simples poderes que hoje a comunidade científica por unanimidade identifica como alterações benéficas do subconsciente.
FATO é que em 1857, foram assassinadas por seus patrões 129 mulheres diante da audácia de terem promovido greve por melhores condições de trabalho, marcando a data em 1910, durante um congresso feminino na Dinamarca, em Copenhague, em memória dessas vítimas.
dia da mulher incendio
Embora o esforço em prol da defesa da vida de trabalhadoras, em 25 de março de 1911, outras 123 mulheres e 23 homens morreram carbonizados na tecelagem Shirtwaist em Nova Iorque.
Em 1949, a obra de Simone de Beauvoir, ‘O 2º Sexo’ em pleno nascimento do Movimento Feminista, trata da negação masculina da oportunidade de a mulher existir como ser humano independente, com autonomia e igualdade em direitos. Célebre sua frase de ‘não se nasce mulher, torna-se’ que até hoje causa transtornos em algumas mentes parasitárias, estagnadas diante da marcha humanitária mundial.
Feito o recorte de tempo e espaço, é preciso destacar duas vertentes humanas, alvo de antagonismo alimentado por medo desse igualitarismo, muita vez, paradoxalmente, com auxílio do ser feminino.
Esse antagonismo fictício se traduz na ‘Religiosidade’, enquanto qualidade do que ou de quem é religioso e, portanto, seguidor de crenças e filosofias com ensinamentos, doutrinas e costumes em suposto contraponto ao ‘Progressismo’, doutrina que aponta certas medidas econômicas e sociais – impulsionadas sobretudo pela ciência e tecnologia – como imprescindíveis para a melhoria da condição humana.
Esse ensino também se relaciona com a ruptura com a sociedade tradicional e seus valores padronizados e repetitivos, promovendo liberdade e igualdade, por sua forte ligação com o Iluminismo.
Este episódio histórico do desenvolvimento humano, que nasceu na Europa na metade do Século XVIII, em plena queima dos seres femininos pela Igreja, tem como diretrizes centrais o Antropocentrismo que põe o ser humano como centro de todas as coisas; o Racionalismo que põe a razão como fonte principal do conhecimento humano; o Idealismo que considera o mundo e a vida segundo modelos de perfeição e harmonia que não correspondem com a realidade e por fim, o Universalismo, que prega a unidade dos povos e eliminação de obstáculos contra esse desígnio.
No Brasil, como em outros países onde se ignoram os progressos humanos nesse tema, advindos de lutas seculares, subestimam-se e criminalizam-se as conquistas sociais e políticas interligadas com o objetivo de igualdade do ser feminino.
Misturam-se de forma grotesca diante da sociedade aparvalhada, produzindo uma cria monstruosa que põe em luta os conceitos de religiosidade e progressismo, esquecendo que uma das mais destacada figuras da Cristandade, sinalizou justamente o contrário.
Tratando da parte que se relaciona com a cristandade, é preciso recordar o tempo do Jesus religioso, para marcar de forma incontestável, que as mulheres ricas e poderosas, casadas com nobres e comerciantes, como as da Grécia e de Roma, se juntaram ao movimento de Jesus, por simpatia ou necessidade. Era a semente.
Atualmente, há na sociedade brasileira, um nascituro Movimento de Evangélicas com feição progressista, que, se não abraça todas as questões defendidas por outra vertente mais radical – por exemplo em questões que envolvem o aborto como direito da condição feminina – ao menos começam a se manifestar contra as pautas da opressão clássica.
Seguem na mesma direção as mulheres muçulmanas, estas, em grande parte apoiadas por parcela dos seres masculinos. Exemplo a ser festejado é o brasileiro Rodrigo Rodrigues, sheikh convertido ao Islamismo e que ensina, por vídeos em redes sociais, o enfrentamento do machismo, já que nas mesquitas o progressismo passou a discutir e questionar práticas discriminatórias e intolerantes.
Nas Igrejas de orientação cristã, sacerdotes e pastores gradualmente estão esclarecendo pautas que por vezes parecem contraditórias aos livros considerados sagrados.
É preciso não perder de vista, sem qualquer reparo ao conteúdo destes, que foram escritos em época muito diferente desta em que se encontra a Humanidade com seus usos e costumes, e, portanto, necessitam adequação ao contexto atual em que vivemos.
A FIGURA CENTRAL DO CRISTIANISMO
Muito diferente das águas turvas e ambiente obscurantista em que mergulhou uma parte da sociedade brasileira, desde as última eleições para o cargo de presidente da república, eram as águas límpidas do batismo a que se submeteu o Jesus visto pelo perfil religioso, que os Evangelhos, aceitos pela Igreja ou apócrifos contam. Absolutamente não consta qualquer manifestação excludente de qualquer grupo social, sobretudo das mulheres.
O Jesus histórico mostra uma figura disruptiva, contestatória e muito politizada, ainda que se registre a fala de que ‘não vim destruir a lei’, porque na prática, lutava pelo empoderamento dos excluídos diante dos dominadores.
Os opressores da época – escribas, juízes, fariseus, centuriões – habituados com tradições discriminatórias radicais, que queriam enfrentar quem tinha voz e autoridade moral contra a exploração das gentes, em especial a feminina, estão hoje sendo derrotados pelas idéias que percorreram os séculos, provando que a marcha da Humanidade, embora lenta, é gradual e certeira.
Esses comportamentos violentos, hipócritas, excludentes e opressivos das religiões neopentecostais, por exemplo, tendem a serem varridos dos próprios grupos onde ainda se alimentam, mas não viscejam; ao contrário, é justamente no seio das próprias comunidades cristãs mais carentes que despontam hoje líderes que combatem esse mesmo autoritarismo.
Dia chegará – e se espera muito breve – em que não será possível a mescla entre cristandade e progressismo, da maneira odiosa, mentirosa e maliciosa como fazem, porque a reação dos que vislumbram a luz do conhecimento costuma ser fatal para os ignorantes.
O Jesus, mesmo do ponto de vista histórico, era um valente combatente desse estado de coisas, visto como perigoso e subversivo por conta de enfrentar a súcia dos sacerdotes e seus asseclas que usavam a religião como ferramenta de opressão, discriminação, domínio e divisão. Justamente o que fazem hoje.
Na medida em que avança o conhecimento, inclusive no campo religioso, porém, fica claro que o acolhimento de todos, para que aconteça a marcha de desenvolvimento capaz de alcançar o estado de felicidade, contrasta com essas práticas nefastas de domínio pelo medo e de desejo secular de expansão constante do poder fálico.
A opção pelos mais fragilizados em todos os sentidos, feita por Jesus, é bastante clara em todos os significativos momentos até mesmo registrados no N. T., bastando ler aqueles que retratam sua conduta ético-moral diante dos pobres, doentes e todo tipo de excluído, de tal forma que pudessem ser esclarecidos sobre a oportunidade de mudar sua própria condição.
Para que se tornassem convidados para a mesa do banquete – significando mudança benéfica nas condições materiais e espirituais – era necessário o novo nascimento, ou seja, mudança de comportamento capaz de revisar todos os conceitos de relacionamento com a sociedade e com a própria Divindade, resultando disto um brinde em favor da liberdade, porque a ninguém consta ter posto tal condição de forma ditatorial.
Por fim, impossível não recordar que em todos os momentos em que debateu com todas as classes sociais e mesmo quando foi questionado por provocadores ou pelos poderosos, esse líder da cristandade esteve rodeado de mulheres, colaboradoras incansáveis de sua passagem pelo planeta quando eram muito mais excluídas, subservientes, de menor ou nenhum relevo no tecido social.
Historicamente assim menosprezadas, as mulheres foram resgatadas por esse formidável ser masculino, de índole e sentir femininos, tornando-se, mesmo sob o rótulo de pecadoras, mais benvindas que aqueles que se autoproclamaram santos.
Alguma diferença com o Brasil de hoje, onde tanto se fala de religiosidade, em vergonhosos embates contra o progressismo?
Definitivamente, 8 de março não é data para se comemorar, senão o esforço feminino planetário, em prol da igualdade de direitos, enfrentando o secular obscurantismo nos finais estertores, mas nem por isso menos perigoso contra as conquistas de direitos por uma sociedade mais justa, equilibrada e feliz.

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