“NÃO HÁ NENHUMA OBRA LITERÁRIA QUE NÃO SEJA POLÍTICA”, DIZ AFONSO CRUZ EM MESA COM ONDJAKI E LUCRECIA ZAPPI

 

“Não há nenhuma obra literária que não seja política”, diz Afonso Cruz em mesa com Ondjaki e Lucrecia Zappi 

O que é um romance e o que esperar dele? Sobre o assunto conversaram os escritores Afonso Cruz, Ondjaki e Lucrecia Zappi na mesa “Que gênero é: romance”. De acordo com eles, não é possível definir exatamente o que é um romance, mas sim refletir sobe as questões em torno dele, como, por exemplo, o leitor. “Eu gosto de imaginar que no exercício do romance o leitor tem um papel muito importante. Por isso, ir ao encontro dessa voz faz parte dessa compreensão do que foi feito, se foi bom e se ele sobrevive e os motivos disso”, explica Lucrecia Zappi. 

Essa fala leva ainda a uma discussão sobre a qualidade da história como um todo, se é “boa ou ruim”. É consenso entre os participantes da mesa que ele precisa decantar. Ou seja, “o que fica em nós, na nossa vida, no nosso sonho e no nosso futuro depois de ler um livro”, explica Ondjaki. 

PERTENCIMENTO

Além desse processo de decantação, os autores acreditam que é preciso uma identificação do público com o livro ou texto. Ondjaki faz questão de deixar isso sempre presente. “Como escritor tenho uma preocupação que, ao ler um livro meu, um cidadão angolano ou africano, de um modo geral, esteja confortável com aquilo. Não quero ser um daqueles escritores que escrevem o que quer que seja, ‘algo para inglês ver’”, explica.

Lucrecia Zappi viveu isso na pele. Após nascer na Argentina, ser criada no Brasil durante anos, passar por outros países, como Holanda e México, e agora viver nos EUA causa um certo questionamento sobre a qual terra pertence. 

ARTE POLÍTICA

Dezenas de pastores da Igreja Universal estão processando o escritor João Paulo Cuenca após um tweet parafraseando o escritor francês Jean Meslier. Ele disse “brasileiro só será livre quando o último Bolsonaro for enforcado nas tripas do último pastor da Igreja Universal”. O assunto foi trazido para a mesa e colocou em questão a liberdade de expressão. “Acho, sobretudo, que é muito irônico uma série de pastores tenha uma atitude tão pouco cristã”, comentou Afonso Cruz.

Para Ondjaki a questão vai além. “Você começa a convencer as pessoas de que é melhor pensarem antes de escrever alguma coisa, porque no mínimo pode vir pastores e colocar um processo em cima. Só isso já leva a uma burocracia administrativa pessoal que dá cabo do sono e da paciência de uma pessoa”, desabafou. 

 

Veja a seguir uma playlist com mesas do IX Fliaraxá.

 

SOBRE O FLIARAXÁ

O Fliaraxá foi criado em 2012 pelo empreendedor cultural e diretor-presidente da Associação Cultural Sempre um Papo, Afonso Borges. As cinco primeiras edições aconteceram no pátio da Fundação Calmon Barreto e, a partir de 2017, o festival passou a ocupar o Tauá Grande Hotel de Araxá, patrimônio histórico do Estado de Minas Gerais, edificação construída em 1942. Naquela edição, nasceu também o “Fliaraxá Gastronomia”. Cerca de 140 mil pessoas passaram pelo festival. Mais de 400 autores participaram da programação.

IX FLIARAXÁ – FESTIVAL LITERÁRIO DE ARAXÁ – 28 DE OUTUBRO A 1.º DE NOVEMBRO DE 2020

Transmissão virtual 24 horas pelos canais:

www.youtube.com/fliaraxa

www.fliaraxa.com.br 

Texto por Jaiane Souza/Culturadoria

 

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