Kim Wyman, secretária de estado republicana de Washington, e seu diretor de eleições, falaram com as principais autoridades eleitorais de todos os 50 estados e de Porto Rico para compartilhar as lições deixadas pelas bem-sucedidas eleições totalmente por correio realizadas em seu estado. O Center for Tech and Civic Life [Centro para Tecnologia e Vida Cívica], Center for Civic Design [Centro para Design Cívico], Brennan Center, National Vote at Home Institute [Instituto Nacional do Voto em Casa] e outras organizações não governamentais elaboraram roteiros detalhados para os administradores eleitorais aumentarem a votação por correio em seus estados. Acadêmicos de Stanford e do MIT lançaram um projeto conjunto para identificar e disseminar as melhores práticas. E forças-tarefa de especialistas e funcionários políticos estão propondo planos, organizando webinars e convocando teleconferências.
Muitos dos projetos envolvem reduzir as barreiras existentes ao voto por correio, como a exigência de que os eleitores tenham uma justificativa, ou permitir que justificativas relacionadas à covid-19 sejam aceitas, e remover os requerimentos de alguns estados para que uma testemunha ou notário assine a cédula. Especialistas também pedem procedimentos menos propensos a erros de conferência de assinaturas, processos aprimorados para entrar com recursos, opções expandidas para retornar as cédulas, envelopes pré-pagos e a aceitação de votos enviados no próprio dia da eleição. Os administradores podem implementar algumas dessas melhorias sem modificar as leis estaduais e dentro dos orçamentos já existentes, mas outros podem exigir ação legislativa e a repartição de fundos adicionais.
Em abril, o Brennan Center for Justice recomendou que o Congresso alocasse “pelo menos US$ 4 bilhões para garantir que todas as eleições entre agora e novembro sejam livres, justas, seguras e protegidas”. Em março, o centro estimou que a postagem pré-paga, sozinha, custaria em torno de US$ 500 milhões. Há poucos indícios de que o senado controlado pelos republicanos vai destinar uma quantidade sequer próxima do que os democratas estão solicitando. E, se o Congresso efetivamente destinar esse dinheiro, McReynolds, do National Vote at Home Institute, diz que tem dúvidas se a verba poderia ser utilizada para financiar essa expansão. Os orçamentos estaduais e regionais foram devastados pela pandemia, ela diz, e em muitos casos esses locais vão precisar de alívio econômico federal apenas para implementar os planos eleitorais pré-coronavírus, que dirá a expansão da infraestrutura já existente.
Se e quando os estados receberem o dinheiro, a cadeia de suprimentos precisará ser ativada: companhias que imprimem correspondência em massa para os estados onde a votação por correio já existe, como o Colorado, dizem que precisam de compromissos financeiros meses antes de novembro para expandir sua produção. Uma máquina que automaticamente insere cédulas em votação pode custar até US$ 1 milhão, por exemplo, e os fornecedores não vão comprar extras sem garantias de que os estados vão contratá-los para produzir essa correspondência em massa. Vendedores e oficiais precisarão projetar e implantar sistemas para rastrear, monitorar e classificar grandes volumes de papel. “Nesse período de três meses, estamos realmente em um momento crítico”, disse McReynolds.
Também se discute se o Serviço Postal dos EUA, com falta de verbas e excesso de trabalho, será capaz de lidar com milhões de correspondências eleitorais adicionais sem cometer erros; embora ainda não esteja claro se a responsabilidade foi dos serviços de correio ou dos administradores da eleição, houve problemas recentemente quando pessoas que solicitaram cédulas na Geórgia e em outros estados não as receberam a tempo. No Wisconsin, por exemplo, caixas cheias de cédulas não entregues foram descobertas após a eleição, potencialmente milhares de eleitores não receberam suas cédulas a tempo, e outras foram enviadas mas jamais carimbadas pelo correio, o que pode tê-las tornado inválidas.
Em um e-mail, uma porta-voz dos Serviços Postais dos EUA disse ao Intercept e à Type Investigations que os correios estarão prontos em novembro. “Os correios dos EUA servem como um meio seguro, eficiente e efetivo para cidadãos e campanhas participarem no processo eleitoral, e o Serviço Postal está comprometido em entregar o Correio Eleitoral em tempo hábil”, escreveu ela. Sabendo que a covid-19 vai levar mais pessoas a votar pelo correio, ela acrescentou: “estamos conduzindo (…) contatos com funcionários estaduais e locais e secretarias de estado, para que eles possam tomar decisões informadas e instruir a população sobre o que eles devem esperar quando usarem o correio para votar”.
Os próximos meses serão um teste de estresse para o sistema eleitoral dos EUA, na medida em que os administradores que trabalham com orçamentos destruídos tentarão lidar com um aumento massivo nos votos por correspondência enquanto mantêm as opções habituais para votar pessoalmente. Com muitas assembleias legislativas estaduais proibindo funcionários de processar as cédulas antes do dia da eleição, é provável que ocorram atrasos na apuração dos resultados. Também há uma preocupação de que irregularidades e atrasos possam afetar a confiança do público no resultado das eleições, um problema agravado pelas alegações de Trump de fraude generalizada.
Descartar muitas cédulas pode ser tão perigoso quanto descartar apenas umas poucas, dizem os especialistas. Como Marc Meredith observou no processo de Nova York, “deixar os potenciais eleitores menos seguros de que seus votos contarão torna menos provável que eles votem”.
Tradução: Maíra Santos