terça-feira, 23 de junho de 2020

Testemunhas confirmam à polícia que rapaz apresentado como único filho biológico de Flordelis e Anderson é adotado


Pastor Anderson ao lado de Daniel
Pastor Anderson ao lado de Daniel Foto: Reprodução

Carolina Heringer
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RIO - O assassinato do marido da deputada federal Flordelis dos Santos (PSD), Anderson do Carmo, acabou trazendo à tona dúvidas se ambos realmente eram pais de Daniel dos Santos de Souza, que sempre foi apresentado pelo casal como seu único filho biológico. Ao menos seis pessoas relataram à polícia que Daniel foi, na realidade, adotado, ainda que os trâmites formais do processo não tenham sido seguidos. A primeira a fazer tal relato foi a mãe do pastor, Maria Edna do Carmo, ao ser ouvida na Delegacia de Homicídios (DH) de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá na primeira fase das investigações do assassinato.
Em seu último depoimento à polícia, Daniel afirmou que após o assassinato de Anderson, dois de seus irmãos lhe relataram que já sabiam da verdade sobre sua história, mas eram proibidos por Flordelis de falar sobre o assunto. Daniel foi ouvido na Delegacia de Homicídios (DH) no dia 8 de novembro do ano passado. Ele contou aos investigadores que só soube que poderia não ser filho de Flordelis e Anderson após a morte do pastor, ao receber uma mensagem pelo Instagram de uma prima que dizia ser de sua verdadeira família biológica.
O rapaz contou que teve a confirmação da história por dois irmãos, filhos afetivos de Flordelis, que lhe relataram que foram proibidos pela pastora de falar do assunto, porque poderia “dar merda”.

Mulher se diz mãe biológica

Uma das testemunhas localizadas pela DH é Janaína Manoel do Nascimento Barbosa, que afirma ser a verdadeira mãe biológica de Daniel. Ela contou aos investigadores que decidiu entregar o filho recém-nascido para que Flordelis cuidasse, pois sua gravidez não tinha sido aceita por sua família. A mulher afirmou aos policiais ter ouvido da pastora que ela não precisava se preocupar, pois sempre seria a mãe verdadeira de Daniel.
A mulher relatou que continuou frequentando a casa de Flordelis após Daniel ter ido morar no local, para continuar visitando o filho, mas encontrava dificuldades. Janaína diz que estranhava pois sempre que chegava na casa o menino estava fazendo algo, como tomando mamadeira ou banho, e por isso nunca conseguia ficar com ele.
Janaína contou aos investigadores que ela própria nunca conseguiu dar mamadeira para Daniel, pois Flordelis dizia que o bebê só mamava em seu colo. A mulher relatou ainda que perdeu o contato com o filho em uma ocasião em que Flordelis disse a ela que precisava se mudar, pois um homem de nome Pedro, que seria o mantenedor da casa, havia se afeiçoado por Daniel e queria ficar com ele.
“Flordelis explicou que esse tal Pedro era muito poderoso, e que se ele quisesse, poderia tirar as crianças dela. Por isso, Flordelis estaria ajeitando tudo para mudar de endereço, e não queria que ninguém soubesse”, diz um trecho do depoimento de Janaína. Ela diz não saber a quem Flordelis se referia, mas tem conhecimento de que o empresário Pedro Werneck era quem ajudava a família.
Janaína disse que depois do episódio ficou doente, passando mais de um ano em tratamento médico. Posteriormente, tentou localizar Flordelis e voltou até a casa do Rio Comprido, mas o lugar já estava fechado. Depois disso, não teve mais notícias da pastora e de Daniel.

Documentos têm informações divergentes

A DH conseguiu localizar os prontuários médicos de Janaína na maternidade Santa Helena, em Duque de Caxias, comprovando acompanhamento de sua gravidez e que deu à luz na unidade de saúde no dia 18 de janeiro de 1998. A data é a mesma que consta na certidão de nascimento de Daniel.
No entanto, no documento foi registrado que Daniel teria nascido em casa, na favela do Jacarezinho, no primeiro endereço de Flordelis e Anderson. O registro foi feito no dia 18 de junho de 1998, cinco meses após o nascimento, constando o casal como os pais da criança.
Maria Aparecida Limeira, que trabalhou em uma das casas de Flordelis no fim dos anos 90, foi responsável por intermediar o contato entre Flordelis e Janaína confirmou à DH a versão de que Daniel não seria filho biológico da deputada.
As duas testemunhas que constam na certidão de nascimento de Daniel, atestando que o bebê havia nascido em casa, no Jacarezinho, também confirmaram à DH que o rapaz não é filho biológico de Flordelis e Anderson. Uma delas é o pastor Carlos Ubiraci, um dos filhos afetivos da pastora e atual presidente do Ministério Flordelis.
Carlos admitiu à polícia que Daniel foi levado por uma mulher à casa da família, ainda bebê, e mesmo sabendo que ele não era filho de Flordelis e Anderson, resolveu ir ao cartório ser testemunha de seu nascimento. O pastor disse ainda que a decisão de registrar Daniel como filho do casal se deu porque o bebê era muito parecido com Anderson. Aos policias, Carlos disse que não sabia estar cometendo crime.
Registrar o filho de outra pessoa como seu é crime previsto no Código Penal. A pena para o delito é de dois a seis anos. Flordelis foi eleita deputada federal no ano passado, com quase 200 mil votos, tendo como uma das bandeiras a desburocratização da adoção no Brasil. Em maio de 2019, a parlamentar liderou um seminário sobre o tema na Câmara dos Deputados.
A DH também ouviu outra testemunha que consta na certidão de Daniel, Sandra Helena Pinheiro de Sousa. A mulher, que frequentava a casa de Flordelis no Rio Comprido, alegou que foi convidada por Anderson e a pastora a ir até um cartório ajudar no registro de Daniel e ela alega acreditar que estava participando de algo que auxiliaria na adoção do menino. Sandra disse saber que Daniel não era filho biológico de Flordelis.



Em seu depoimento à DH, Daniel contou que Flordelis, em alguns momentos, chegou a perguntar para ele se alguém já havia lhe falado que ele não era filho biológico dela e de Anderson. A pastora pedia para ele não acreditar, caso isso acontecesse e até se oferecia para fazer exame de DNA.



Ao EXTRA, Flordelis disse que os esclarecimentos sobre o registro de Daniel já tinham sido prestados na DH. Questionada se o rapaz é seu filho biológico, a parlamentar não respondeu.
- Melhor pegar a resposta na DH. Meus advogados me orientaram a não falar nada por enquanto – afirmou.
O EXTRA procurou o empresário Pedro Werneck, mas não conseguiu contato para comentar a citação ao seu nome no depoimento de Janaína.

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