domingo, 22 de novembro de 2020

Capitão do mato bolsonarista exclui Milton Nascimento da lista de personalidades negras

O cantor e compositor Milton Nascimento. Foto: Reprodução

Nomes de Martinho da Vila, Gilberto Gil, Elza Soares, Leci Brandão e outros também serão apagados

O cantor e compositor Milton Nascimento será excluído da lista de personalidades notáveis negras da Fundação Cultural Palmares (FCP).

Ao lado de Milton, outros artistas negros, expoentes da música e das letras brasileiras, como Elza Soares, Martinho da Vila, Gilberto Gil, Leci Brandão, a escritora Conceição Evaristo, entre outros, também serão excluídos, provocando protestos de vários setores.

Esse foi o anúncio feito pelo presidente da FCP, Sérgio Camargo, através do Twitter:

“A homenagem na galeria de personalidades negras será PÓSTUMA! Em razão disso, todos que estão vivos serão excluídos”, escreveu Sérgio Camargo no Twitter.

“Haverá exclusão de vários nomes. Novas personalidades serão incluídas em razão do mérito e da nobreza de caráter”, escreveu ele, na semana passada.

No Twitter da Fundação, Camargo publicou: “A partir de 1º de Dezembro de 2020 entra em vigor a Portaria  Nº  189,  de  10  de  novembro  de  2020, que institui novas diretrizes para a inclusão e permanência de nomes na Lista de Personalidades Negras da FCP”.

Portanto, segundo Sérgio Camargo, será preciso morrer para uma personalidade negra ser homenageada pela FCP.

Artistas e intelectuais comentaram os rumos da Fundação Palmares com Sérgio Camargo na presidência (Ver também, abaixo, carta na íntegra do ator, cineasta, roteirista e escritor Braz Chediak para Milton Nascimento).

Sérgio Camargo, colocado por Bolsonaro na presidência da Fundação Cultural Palmares (FCP), é um negro que odeia os negros. Ele é discípulo de Olavo de Carvalho, o astrólogo guru de Bolsonaro. Ele é protegido de Bolsonaro e de Roberto Alvim (aquele secretário de Cultura que caiu porque imitou o propagandista do nazismo, Joseph Goebbels, provocando uma enxurrada de críticas).

Em uma reunião no final de abril, Camargo classificou o movimento negro como “escória maldita”, que abriga “vagabundos”. O áudio da reunião foi divulgado pelo jornal O Estado de S.Paulo.

Na mesma reunião, ele disse: “Esses filhos da puta da esquerda não admitem negros de direita. Vou colocar meta aqui para todos os diretores, cada um entregar um esquerdista. Quem não entregar esquerdista vai sair. É o mínimo que vocês têm que fazer”, afirmou.

Entre outras barbaridades, Sérgio Camargo já declarou que “a escravidão foi benéfica para os descendentes”, que “no Brasil não existe racismo real” e “Gilberto Gil, Martinho da Vila, Taís Araújo, Leci Brandão e outros artistas são parasitas da raça negra no Brasil”.

Carta a Milton Nascimento, por Braz Chediak

Meu querido Bituca,

Acabo de ver, pela televisão, que você foi excluído das “personalidades negras importantes” pelo diretor da Fundação Palmares.

Isto me fez pensar: afinal, o que é que Milton fez para “ter sido” importante para tal Fundação? Um entendedor de música ou entendedor de Ser Humano, responderia:

– Milton Nascimento foi um dos maiores cantores da língua portuguesa de todos os tempos, um compositor extraordinário, um Ser Humano invejável.

“Milton levou o nome do Brasil para todos os países do mundo, combatendo o bom combate contra as ditaduras, as desigualdades raciais e sociais, a fome, a miséria, a traição, a ignorância, a mentira.

“Foi um Paladino da paz, da amizade, do abraço fraterno, do ‘amai a seu próximo como a ti mesmo”.

“Milton Nascimento deu sentido e beleza às nossas vidas. Milton foi e é um brasileiro que nos faz orgulhar de sermos brasileiros”.

Mas, como você sabe, meu querido poeta/cantor, o barco às vezes balança, a noite às vezes cobre o azul do céu, do mar, da terra.

E ficamos tristes.

Tristes porque você foi excluído de um lugar que é seu (por alguém que é nada, meu querido Bituca), como também o foram Abdias Nascimento, Elza Soares, Tim Maia, Martinho da Vila, etc., etc., e até mesmo Zumbi dos Palmares.

Mas um anjo do bem chega até mim e, com sua voz Trespontana, me sussurra: “o presidente da Fundação, Sérgio Camargo, só será lembrado por sua ignorância, recalque, despeito, inveja. E Bituca será lembrado por seu amor, pela sua beleza, por sua voz, enquanto alguém cantar na face da terra. Enquanto nos ajoelharmos e louvarmos a “Voz de Deus”, porque, como disse Elis, “Se Deus cantasse, seria com a voz de Milton Nascimento!”.

E Deus canta, meu querido Bituca, Canta em todas as coisas livres: no vento, nas folhas das árvores e na relva, no murmurar dos riachos, no coração dos amigos… e no grande lamento brasileiro pelo momento de dor pelo qual passamos.

Milton você foi “excluído” das personalidades da Fundação Zumbi dos Palmares, mas não foi excluído de nós e viverá enquanto vivermos.

E depois que deixarmos a vida sua voz continuará ecoando, em eco, como os cascos dos cavalos com suas rubras ferraduras, como a voz nas estradas, como um amigo guardado do lado esquerdo do peito de todos os seres humanos. Como a música da infância no Cine Ouro Verde.

Como o Grande Bituca. O Grande Milton. O Grande Brasil.

E somos gratos a você por isto.

Com carinho,

Braz Chediak

*para Wagner Tiso, meu amigo, e Yassír Chediak, meu filho, pela música.

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