sexta-feira, 24 de julho de 2020

Entenda como está o caso Ronaldinho Gaúcho

Ronaldinho Ronaldinho Gaúcho e seu irmão, Assis, foram detidos no Paraguai com documentos falsos, após viajarem para Assunção, para o lançamento de um livro e de um programa social, do qual Ronaldinho seria o padrinho. Ambos foram detidos para prestarem esclarecimentos ao Ministério Público do país vizinho. Ronaldinho e Assis alegam inocência e que estão disponíveis para prestar quaisquer dúvidas. Entenda o porquê dessa história...

Prisão onde está Ronaldinho tem criminosos do PCC e CV, narcotraficantes, terroristas, políticos, dirigentes de futebol processados por lavagem de dinheiro e foi palco de torturas

Data: 09/03/2020 09:33 / Autor: Redação ABCdoABC / Fonte: Estadão Conteúdo
Um dos maiores jogadores da história do futebol brasileiro, Ronaldinho Gaúcho deixou os gramados, mas seus fãs jamais o esqueceram. Seus dribles e genialidade com a bola no pé e o prêmio de melhor do mundo em 2004 e 2005 o transformaram em uma estrela mundial. No Brasil, ganhou até um cargo de Embaixador do Turismo. Mas desde o dia 5 de março, o astro virou assunto nas páginas policiais e foi até parar na prisão, por suspeita de documentos falsificados. Ele já tinha um histórico de polêmicas, mas nada parecido com o que vive hoje.
Tudo começou quando ele chegou ao Paraguai para participar de dois eventos no país. Uma ação beneficente e o lançamento de um livro. Quando estava no hotel, com seu irmão, viu seu mundo desabar. Como a história cresce a cada dia, o Estado faz um breve resumo de tudo que já aconteceu e o que está acontecendo neste momento. Ronaldinho está preso? Ele cometeu um crime? Ele se naturalizou paraguaio? Ele continua como Embaixador do Turismo? Entenda como anda o caso.
A polícia do Paraguai fez buscas na noite de quarta-feira (04) no Hotel Resort Yacht y Golf Club, em Lambaré, vizinho a Assunção, onde estava hospedado Ronaldinho Gaúcho e seu irmão, Assis. Os agentes relataram ter agido após denúncia do Departamento de Identificações da Polícia Nacional por suspeita de que o ex-jogador e seu empresário estivessem portando documentos falsos. Ambos ficaram detidos no hotel durante a apuração do caso pelas autoridades.
RONALDINHO E IRMÃO SÃO PROIBIDOS DE DEIXAR O PARAGUAI
O promotor Federico Delfino, responsável pela investigação contra os dois ex-jogadores, afirmou na manhã de quinta-feira (05) que Ronaldinho e seu irmão ficariam à disposição da Justiça do Paraguai por tempo indeterminado. No mesmo dia ambos prestaram depoimento na sede do Ministério Público paraguaio, em Assunção. Ronaldinho disse que os documentos eram "presentes" de um empresário. Em seguida, o ex-jogador foi encaminhado para o Departamento de Crime Organizado do país, onde também teve de dar explicações.
RONALDINHO DECIDE PERMANECER NO PAÍS
Ainda na quinta-feira (05), o advogado encarregado de representar Ronaldinho Gaúcho e seu irmão disse que o ex-jogador decidiu não deixar o Paraguai até que o processo judicial contra ele seja resolvido. Adolfo Marín alegou que eles não estavam impedidos de deixar o país e que ambos receberam cartões de identidade e os passaportes paraguaios do empresário Wilmondes Sousa Lira no Brasil. "Não me lembro da data, mas cerca de 20 a 30 dias atrás", afirmou o advogado. Sousa Lira também foi preso na quarta-feira (05) à noite.
A presença de Ronaldinho no Paraguai com documentos supostamente falsos provocou uma crise política no país, especialmente pela demora das autoridades para apontar e investigar as irregularidades. E uma das consequências foi a renúncia do diretor de migração do país, Alexis Penayo.
RONALDINHO ADMITE CRIME E SE LIVRA DE ACUSAÇÃO
O Ministério Público do Paraguai decidiu não apresentar acusação formal contra Ronaldinho e seu irmão. O ex-jogador admitiu a prática do crime de utilização de documentação falsa, mas a promotoria considerou que eles foram enganados e solicitou a aplicação do "critério de oportunidade" por terceiros. Após quase 24 horas dos primeiros procedimentos e um longo dia de depoimentos na quinta-feira (05), o promotor Federico Delfino informou que os brasileiros não seriam acusados e que solicitaria a liberação de ambos.
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JUIZ DECIDE QUE O EX-JOGADOR CONTINUARÁ SENDO INVESTIGADO
A reviravolta do caso aconteceu na sexta-feira (06), quando Mirko Valinotti, juiz criminal de Garantias de Assunção, decidiu rejeitar o pedido do Ministério Público para não abrir processo contra os ex-jogadores. O promotor Delfino chegou a declarar que os investigadores detectaram que o pedido de naturalização paraguaia de Ronaldinho e o irmão foi registrado no Departamento de Migração. Ambos disseram que não solicitaram esse procedimento e o Ministério Público, então, anunciou a investigação de um possível esquema de falsificação de documentos que envolve funcionários públicos e pessoas do setor privado.
RONALDINHO GAÚCHO E ASSIS FORAM PRESOS
Cumprindo um mandado emitido pela Procuradoria Geral da República, a Polícia Nacional do Paraguai ordenou a prisão do ex-jogador e seu irmão na sexta-feira (06). Ronaldinho e Assis estavam no Sheraton Hotel, localizado a poucos minutos do Aeroporto Internacional Silvio Pettirossi. Ambos aguardavam o momento de partir para o terminal do aeroporto deixar o Paraguai, de acordo com as versões divulgadas pela Polícia do país.
Depois de serem presos preventivamente em Assunção, eles deixaram o complexo da Agrupação Especializada da Polícia Nacional do Paraguai, onde passaram a noite em uma cela e foram algemados para audiência.
JUIZA DETERMINA MANUTENÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA
Em meio à audiência que poderia definir a continuidade ou não de Ronaldinho na cadeia, o promotor da unidade especializada de delitos econômicos Osmar Legal ratificou o pedido de prisão preventiva. Na sequência, a juíza Clara Ruiz Díaz determinou a manutenção da prisão. Sendo assim, eles seguem detidos no complexo da Agrupação Especializada da Polícia Nacional do Paraguai.
SUSPEITA DE LAVAGEM DE DINHEIRO
A promotoria paraguaia ampliou a investigação no domingo (08). O Ministério Público solicitou várias informações de outras instituições e também apura uma possível conexão do caso com lavagem de dinheiro. Além dos ex-jogadores, empresários paraguaios e brasileiros são investigados.
ADVOGADO DE RONALDINHO DIZ QUE PRISÃO É ILEGAL
Advogado de Ronaldinho, Sergio Queiroz, disse ainda neste domingo (08) que seu cliente e seu irmão estão detidos de modo totalmente ilegal no Paraguai. Ele alegou que os ex-jogadores agiram "de boa fé" ao usar os documentos, sem saber que eram ilegais, pois procuravam iniciar negócios no país. O advogado também declarou que as autoridades diplomáticas do Brasil estão "tomando nota" das "irregularidades".
A PRISÃO
Narcotraficantes, terroristas, políticos e dirigentes de futebol processados por lavagem de dinheiro. Uma população diversa está abrigada na Agrupação Especializada de Assunção, a prisão em que Ronaldinho Gaúcho está preso.
O astro e seu irmão Assis passaram no domingo a terceira noite reclusos no local. Lá, os ex-jogadores são vizinhos de criminosos de todo tipo de periculosidade: de traficantes de drogas e membros do Primeiro Comando da Capital e do Comando Vermelho a políticos detidos por enriquecimento ilícito.
A Agrupação Especializada da Polícia está localizada no bairro de Tacumbú, em Assunção, não muito longe da maior cadeia da capital do Paraguai: a Penitenciária de Tacumbú. De fato, o local não é uma prisão, mas um quartel da Polícia Nacional - no entanto, tem sido usado como espaço para receber detentos há anos.
Durante o período da ditadura militar de Alfredo Stroessner, a Agrupação Especializada era conhecida como Agrupação de Segurança. Lá, presos políticos foram torturados, mortos e até enterrados durante os anos mais duros de repressão do regime. Até hoje é possível ver os lugares onde parentes das vítimas realizaram escavações em busca de valas comuns para tentar encontrar restos dos desaparecidos com base em relatos escritos e orais daqueles que viram os perseguidos chegarem e morrerem naquele local.
Com a chegada da democracia, o lugar tornou-se a sede da Agrupação Especializada. Segundo um levantamento feito anos atrás pelo jornal ABC Color, esta é uma unidade de elite que apoia os trabalhos da Polícia Nacional. O quartel possui cinco companhias de suboficiais e dois grupos da polícia de choque de 150 agentes, que prestam serviços por turno. A segurança do local é composta por 18 policiais.
Além da guarda permanente, existem 24 câmeras de segurança localizadas nos pavilhões, assim como dentro e fora das instalações. Os policiais monitoram tudo de uma sala.
NÃO É UMA PRISÃO
Toda autoridade que assume o Ministério do Interior insiste que o Agrupamento Especializado não é uma prisão. "Esta não é uma penitenciária, é um instituto da Polícia Nacional, mas, para uma questão excepcional, pode ser usada. Não é para prisioneiros, é para policiais", disse o atual ministro do Interior, Euclides Acevedo, há semanas.
No entanto, continua a abrigar presos. O quartel funciona de maneira improvisada como um local de prisão de criminosos considerados altamente perigosos ou abriga pessoas que, por algum motivo, não são consideradas prudentes de serem enviadas para prisões comuns. Por exemplo, todos os policiais que devem cumprir uma pena disciplinar são encaminhados para a sede do Agrupamento Especializado.
As salas ou celas destinadas a policiais que prestam seus serviços ou a pessoas indisciplinadas passaram a ser ocupadas por criminosos de alto risco, como sequestradores, homicidas e narcotraficantes.
VIZINHO DE DEPUTADOS
Ronaldinho ocupa uma sala em um setor do Agrupamento Especializado que não vinha sendo usada como local de confinamento, sendo designada para funções administrativas. Como resultado da recente alta da demanda por vagas onde "presos especiais" não se juntam aos perigosos, esse espaço foi novamente reajustado para funcionar como celas. Há pessoas como o deputado Miguel Cuevas, membro do movimento "Colorado Añetete", ao qual pertence o atual presidente da República, Mario Abdo Benítez. Cuevas está no local desde a semana passada e cumpre prisão preventiva, acusado de enriquecimento ilícito, tráfico de influência e declarações falsas.
Ramón González Daher, vice-presidente da Associação Paraguaia de Futebol e do Comitê Olímpico do Paraguai, e irmão do ex-senador pelo Partido Colorado Óscar González Daher, também está lá. Ambos são processados por crimes como suposta lavagem de dinheiro e usura. Segundo a Secretaria de Prevenção à Lavagem de Dinheiro, a família Gonzalez Daher movimentou em cinco anos cerca de US$ 1,6 bilhão (aproximadamente R$ 7,4 bilhões).
NARCOTRAFICANTES E CRIMINOSOS PERIGOSOS
Mas nem todos os vizinhos de Ronaldinho são criminosos de "colarinho branco", também existem alguns perigosos no local. Embora ele não esteja mais por lá, durante anos Pablo Vera Esteche esteve no mesmo quartel - ele confessou ser o assassino do vice-presidente Luis María Argaña, morto em março de 1999.
Também abriga o fundador e líder do autodenominado Exército do Povo Paraguaio (PPE), Alcides Oviedo Brítez. O PPE é um grupo terrorista que baseia suas ações em guerrilhas como as FARC, da Colômbia. Outros membros do grupo criminoso estão lá, como Aldo Meza, Anastacio Mieres e Vaciano Acosta.
Vários membros dos grupos criminosos Primeiro Comando da Capital e Comando Vermelho também estão detidos lá. Por exemplo, foi o local em que o narcotraficante Luis Henrique Boscatto ficou preso antes de ser extraditado para o Brasil há algumas semanas. Estima-se que 147 criminosos estejam detidos no local.
CENÁRIO DE ASSASSINATO
O momento mais crítico do Grupamento Especializado provavelmente ocorreu em abril do ano passado, quando o narcotraficante brasileiro Marcelo Pinheiro, conhecido como Piloto, assassinou em sua própria cela uma mulher de 18 anos, identificada como Lídia Meza. Aparentemente, esse crime foi praticado como uma medida extrema para ser julgado no Paraguai, evitando ser extraditado.
Assim, entre traficantes de drogas, terroristas e políticos, se desenvolve a vida de Ronaldinho em uma prisão no Paraguai, onde ele chegou para lançar um livro e participar da abertura de um cassino, mas agora é investigado pela acusação de uso de documentos falsos, que poderia ser estendida à lavagem de dinheiro e outros crimes.

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